Gabriel Mario Rodrigues
Presidente do Conselho de Administração da ABMES
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“O mundo no qual vivemos certamente não é o melhor dos mundos possíveis, mas é sem dúvida o melhor dos mundos que existiram até hoje.” (Domenico de Masi)
Na história da humanidade nunca houve em 30 anos um crescimento tão exponencial de dados, informações e usuários que transitam pela Word Wide Web como agora. Os relatórios digitais 2019 da GlobalWebindex mostram que mais de um milhão de novos usuários acessam a Internet a cada dia e os números são os seguintes:
5,11 bilhões de usuários móveis únicos no mundo.
4,39 bilhões de usuários de internet em 2019, um aumento de 366 milhões (9%) em relação a janeiro de 2018;
3,48 bilhões de usuários de mídia social em 2019, com o total mundial crescendo em 288 milhões (9%) desde esse período do ano passado;
3,26 bilhões de pessoas usam mídias sociais em dispositivos móveis.
A economia centrada em plataformas on-line de compartilhamento de bens ou serviços, com base peer-to-peer, movimenta aproximadamente US$ 110 bilhões por ano no mundo. O que mostra a força que o meio digital representa para a economia mundial.
Certamente há desafios a vencer, como a fonte e a qualidade da informação e da propagação arrasadora das fakes news, mas é a realidade de um mundo novo que precisaremos alinhar com a nossa mente.
É o que nos esclarece o Consultor Raulino Tramontin, ao comentar meu último artigo, ao mencionar o texto “Mindset: Entenda o Conceito e Como Utilizá-lo a Seu Favor”.
“Mindset parece mesmo ter se transformado em uma das palavras do momento. A propósito, ninguém nunca parou e disse que você precisava ajustar o seu mindset? Se você não entendeu muito bem o que foi sugerido e ainda não captou o conceito, é hora de mergulhar nesse universo e entender porque a palavra tem sido tão comentada. Desde já uma dica: pode ser que você perceba a necessidade de rever algumas condutas diante da vida. Mas não se preocupe, isso pode ser extremamente positivo e marcar sua evolução como pessoa e como profissional. Isto vale para a sua vida pessoal e para sua empresa”.
“Mudança de Mindset: uma nova forma de pensar a educação”, tema do 21º FNESP, realizado mês passado pelo Semesp, nos obriga a refletir sobre como administrar nossas instituições face a toda a ordem de transformações que começam a interferir nas nossas atividades.
Um congresso não tem a obrigação de nos dar solução alguma, nem rota de fuga ou mostrar uma saída que possamos adotar. Mas todos levantam problemas e mostram que o desafio é mundial. As palestras e os painéis foram taxativos e o que se ouviu foram coisas alertas como:
“Quem puder que se cuide, pois o mundo vai mudar”
“O século chegou não para os que querem improvisar”
“A Inteligência Artificial é uma realidade inexorável e vai mudar a educação”
“Continuar apostando em conteúdos perenes vai virar mingau”
“As iniciativas deverão ser ousadas e terão altos investimentos”
“O que resolve lá fora não necessariamente resolve aqui dentro”
“Já é hora de tratarmos das nossas conjunturas e esquecer as finlândias do globo, as dinamarcas e suécias, além de propostas nada factíveis aqui nas terras dos tupinambás. Alguma dúvida?"
Francisco Marmolejo, do Banco Mundial, deixou lições impagáveis com simples colocações, mais como advertências, dizendo que “caminhamos rumo a um mundo interdependente, rumo a um mundo interconectado, rumo a um mundo cada vez mais turbulento e por paradoxal, rumo a um mundo cada vez mais fascinante”. Ele ratificou o que disse De Masi em seu livro “O mundo ainda é jovem” (ed. Vestígio) ao justificar a epígrafe deste artigo.
Nunca como antes a terra foi habitada por 7 bilhões de cérebros, boa parte instruída e interconectada. As pessoas vivem mais e têm mais disponibilidade aos recursos da saúde. O planeta nunca produziu tanta riqueza e alimentou tantas bocas. Porém o mundo está desorientado por falta de lideranças, mas não se deve esquecer que ele é ainda jovem.
A realidade é que precisamos aprender rápido, a ver esse mundo de cabeça para baixo, no que os morcegos são campeões.
Então, como está mudando o ensino superior? A universidade está em risco?
No artigo “College is Dying, Design Your Own Educacion”, publicado no site Hackernoon e mencinoado no Data Science Academy, mais moldado com a realidade americana, destaca-se que Google, Apple e IBM não consideram mais em seus processos de seleção a questão da titulação superior e que os estudantes ao se matricularem deveriam pensar bastante antes de fazer um curso de quatro anos.
Vale a pena aprender o que não serve para um mercado em evolução? Fazer um investimento sem sabes se vai ter retorno e se irá funcionar no mundo real? Ter professores indicados que nem sabem quem são, aprender com pessoas que, na maioria dos casos, não se importam com seus resultados e confiar num diploma dado por uma instituição para provar que se aprendeu alguma coisa?
Pois o que essas empresas aconselham é a não selecionarem campo único de formação. É preferível construir seu próprio currículo e ajusta-lo à realidade. Ir cursando por etapas e atualizando a cada momento. E o mais contundente: o estudante deve escolher o melhor professor e não aquele que lhe é indicado. Cursos pela internet e YouTube mostram isso.
Sabemos que mudanças vão ocorrer brusca e rapidamente, escreve o Prof. Paulo Vadas:
“Só não temos certeza quais serão essas mudanças, nem seus impactos, o que torna o planejamento de médio e longo prazos extremamente difícil. O que tenho certeza, é que as forças das mudanças estão apontando para a personalização do atendimento das demandas, inclusive no que tange à educação. Cada aluno já está, e estará cada vez mais, buscando aprender aquilo que tem relevância e pertinência para a sua vida em particular, principalmente no que se refere aos seus talentos, curiosidades e desejos.”
Por sua vez, as novas tecnologias já estão permitindo que os interesses educacionais de cada indivíduo sejam atendidos prontamente.
Precisamos revisar as estruturas educacionais desatualizadas de hoje e que suprimem a criatividade, a inovação e o empreendedorismo, vivenciados de forma prática na experiência curricular. Insisto, precisamos substituir esse modelo por sistemas que se conectem com as reais demandas sociais e do mundo do trabalho, usando a tecnologia para ampliar a interação, a aprendizagem e, principalmente, a preparação para a vida, que é a cada dia mais competitiva e requer não só o domínio de conhecimento específico como as disciplinas se propõe, mas, essencialmente, a capacidade de aplicar conhecimento em situações reais da vida e do trabalho, como a resolução de problemas, trabalho em equipe, trabalho por projetos, pensamento crítico, comunicação entre outros.
O desenvolvimento do país depende de um sistema político estável onde o diálogo e as ações possam alinhar rumos factíveis para o progresso. Porém, acima de tudo, precisa de gente capacitada em todos os níveis, que possam com seus braços, mentes, máquinas, trabalho, talentos, empresas e tecnologias alcançar a melhor qualidade de vida de suas populações. E certamente aliando a inteligência humana à das máquinas (ordenada por nossa gente), poder-se-á criar um sistema educacional compatível para desenvolver um Brasil democrático, poderoso, livre e mais igual. O que nos obriga a pensar a educação de forma propositiva e realmente com uma nova configuração mental.
Portanto o novo mindset aplica-se em oferecer a experiência do ensino superior muito além do currículo formal como conhecemos hoje.