Há 2.019 anos nasceu em Belém Jesus, nome trazido e anunciado a Maria pelo anjo e mensageiro Gabriel. Apesar de filho de Deus, não nasceu num palácio, mas num humilde estábulo. Sua palavra, porém, reverbera até hoje por sua força e atemporalidade. E olha que a língua falada, mais do que a escrita, era o aramaico[1], próxima do hebraico, utilizada para a comunicação com seus “alunos”.
Há um imenso vazio nas narrativas da vida de Jesus: vemos o Nazareno bebê, depois há um breve relato de uma passagem triunfal pelo Templo de Jerusalém, aos 12 anos de idade. Em seguida a vida adulta e sua pregação, determinantemente oral sem o uso de um giz sequer, menos ainda um lápis, caderno ou livro. As principais fontes de informação sobre a vida de Jesus são os quatro Evangelhos Canônicos, pertencentes ao Novo Testamento.
É aqui que quero me deter. Auxiliando o pai, com ele aprendeu não só a carpintaria, mas também a eficácia da repetição, bater e bater os pregos. Recurso que, metaforicamente, adotou na sua pregação e nos seus ensinamentos: falar repetidamente por horas e horas para convencer multidões.
Em seu ministério, Jesus adotou práticas pedagógicas que, hoje, no século XXI, são a estratégia da vez.
Ele não tinha sala de aula, ensinava nas sinagogas, à beira do mar, em embarcações, em montes, pelos caminhos por onde andava e onde o povo estava – ubiquidade que hoje a internet levou ao extremo, abolindo todas as paredes da escola.
Jesus era chamado de Mestre por seus discípulos porque eles reconheciam sua autoridade para ensinar as coisas. Eles o consideravam um Rabi, que quer dizer Doutor ou Mestre, algo parecido com os nossos títulos acadêmicos na universidade. Mestre intuitivo, Jesus considerava a bagagem cultural e social que as pessoas traziam consigo. Para ele não havia fronteiras, línguas ou costumes diferentes. Como seus ouvintes eram, em sua maioria, adultos, o Nazareno usava a metodologia andragógica[2] (nem por isso descuidava-se das crianças) e, a partir de uma linguagem simples e exemplos práticos baseados no cotidiano, no conhecimento prévio dos ouvintes, apresentava seus ensinamentos.
Com esse expediente, fazia com que a aprendizagem fosse significativa e incorporada à realidade dos que o ouviam e seguiam seus exemplos: mais do que conteudismo e distribuição de informações, seu trabalho envolvia mudanças de valores e atitudes.
Como bom mestre, eu diria até moderno, sabia que uma só metodologia não dava conta do público heterogêneo que pretendia alcançar. Assim, respeitando conhecimentos prévios, vivências e habilidades, diagnosticou e supriu áreas de carência onde seriam gerados os novos aprendizados, tendo como base o contexto em que o ouvinte se inseria.
Com a mulher samaritana, usou o método de perguntas; em Mateus usou o do audiovisual: “Olhai para as aves do céu”, “Olhai para os lírios dos campos”; com os discípulos, a caminho do Jardim das Oliveiras, usou o da preleção.
Mas, sem dúvida, o método mais usado pelo Mestre foi o de histórias ou parábolas, com as quais ilustrava alguma verdade complexa de forma simples. Elas são coisa concreta, apelam à imaginação, têm estilo fácil, interessante e eficiente. É o moderno storytelling[3], tão utilizado no marketing atual.
Para descrever, por exemplo, o amor de Deus pelos pecadores, ele falou sobre o pastor que saiu em busca de uma ovelha desgarrada e de um pai que esperava, ansioso, o retorno de um filho pródigo. Essas narrativas repletas de ilustrações e exemplos do dia a dia, como pesca, rede, peixe, árvore, fruto, solo, semente etc., tinham o poder de levar seus ouvintes à ação.
Ele mesmo homem de ação, mostrou que sua mensagem estava contida na sua própria história: aquilo que ele ensinava aos discípulos era também verificado nas suas atitudes. Ele ensinava pelo exemplo.
Como autêntico mestre, Jesus nunca impôs, foi, antes, o mediador entre a palavra de Deus e os homens. Pela mediação, atuou como facilitador no processo ensino-aprendizagem, contribuindo para a participação e o desenvolvimento do senso crítico e de justiça.
Como autêntico líder, Jesus centrou sua pedagogia nas pessoas e formou outros líderes aptos a difundir suas palavras. Escolhendo homens simples, desenvolveu neles competências e habilidades que inspiram hoje a educação 4.0: a arte de pensar, a tolerância, a solidariedade, a colaboração, a resiliência, a empatia[4], e sobretudo o amor e o perdão.
Sua empreitada deu tão certo que, passados 2.019 anos após seu nascimento, o legado de Jesus continua funcionando e dando exemplos de pedagogia e liderança.
Que nossa escola possa inspirar-se no seu exemplo. E mais, que Ele não descuide de salvar o Brasil, principalmente voltando a atenção para os governantes porque os governados dominam a palavra do Mestre.
Que o menino Jesus ilumine o Natal com a esperança de dias melhores e que o Metre dos mestres, se concretize por aqui uma de suas frases lapidares: “Vinde a mim as criancinhas, porque delas será o reino dos céus”. Eu acrescentaria: porque delas será o futuro do nosso país.
Feliz Natal!
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[1] No tempo de Cristo, não se falava mais o hebraico, que era uma língua “morta”, usada somente na liturgia. O povo falava aramaico, língua muito próxima do hebraico e hoje falada por poucas pessoas. Uma curiosidade, o ator Mel Gibson dirigiu, em 2004, o filme A Paixão de Cristo (The Passion of the Christ) inteiramente rodado em duas línguas mortas – latim e aramaico.
[2] Andragogia é a arte ou ciência de orientar adultos a aprender, segundo a definição cunhada na década de 1970 por Malcolm Knowles. O termo remete para o conceito de educação voltada para o adulto, em contraposição à pedagogia, que se refere à educação de crianças.
[3] Storytelling é um termo em inglês. Story significa história e telling, contar. Mais que uma mera narrativa, storytelling é a arte de contar histórias usando técnicas inspiradas em roteiristas e escritores para transmitir uma mensagem de forma inesquecível.
[4] Empatia: a capacidade de se colocar no lugar do outro.