“As escolas estão instruindo os jovens para serem redundantes, ou seja, estamos ensinando coisas que não lhes serão necessárias. Um sistema de memorizações e provas está esmagando o instinto dos jovens para aprender e está destruindo seu futuro.” George Monbiot[1]Uma gripezinha vagabunda, que começou ainda ninguém sabe como (vale leitura), virou esta pandemia que anda matando milhares de pessoas pelo mundo e destroçando a economia dos países. Pegando todos os governos sem planos imediatos para combate-la e, o pior, sem diretriz alguma para mitigar o problema. No Brasil, todos despreparados e desunidos para vencer o desafio, em razão de credos políticos e crenças incapazes de conciliação. Agora, para destruir o mundo, basta qualquer Inteligência Artificial (IA) gerenciada por mentes criminosas criar um supervírus e distribui-lo pelo planeta. Precisamos nos preparar e daqui para a frente o mundo vai ficar dividido entre os algoritmos do bem, dos que acreditam num mundo solidário, e algoritmos do mal, que desejam sua desestabilização. E o processo educacional em todos os graus decorrente desta nova realidade cada vez mais vai precisar se aperfeiçoar para lidar com as máquinas e tê-las como parceiras, para que a raça humana possa se desenvolver harmoniosamente. Razão de continuar comentando a obra de Alfons Cornella, Educar humanos en un mundo de máquinas inteligentes: 100 ideas y reflexiones sobre la nueva educación que necessita la sociedad, porque ele defende que devemos conviver com elas e usar os melhores recursos da nossa mente para liderar a parceria. O livro é dividido em três partes. Me alongarei neste artigo na primeira parte. As duas seguintes reservo para as próximas semanas. Na PARTE I – De início o autor propõe a reflexão sobre Un mundo diferente onde a globalização marcará o futuro. As máquinas inteligentes terão grande importância no cotidiano humano e nesse mundo gerenciado pela IA (Inteligência Artificial) o objetivo da educação deve estar centrado exatamente em potencializar as características mais humanas das pessoas, aquelas que são dificilmente replicáveis pelas máquinas, senão impossível. Para Cornella, a construção de um novo futuro está apoiada em quatro colunas: a ciência, a tecnologia, a sociedade e as organizações. Em relação à primeira, nenhuma novidade – é um sistema regrado de conhecimentos que investiga e interpreta os fenômenos naturais, sociais e artificiais e nos proporciona novas tecnologias e melhor ferramental para entendê-los. Quanto à tecnologia, ele afirma que se trata de uma programação que estuda os fenômenos da natureza, os entende, os manipula e os utiliza da forma mais conveniente. Cita o exemplo da descoberta da luz coerente, ou seja, de um feixe luminoso condensado no espaço e no tempo que deu origem ao laser, hoje utilizado em aparelhos caseiros, cirúrgicos, industriais, militares e espaciais. Quanto à sociedade, ela deve se defrontar com problemas cada vez mais complexos dada a contínua sofisticação dela mesma. Por isso é que a tecnologia deve oferecer respostas a tais problemas e necessidades, exigidas pela sociedade, oferecidas por novos tipos de organizações, as startups, por exemplo. Na ciência, a biologia humana nos dá grandes possibilidades para fazer enormes descobertas, com especial atenção para a medicina de precisão, onde é esperada uma grande mudança de paradigma, devido à quantidade incomensurável de informações que o big data oferece e que exige, cada vez mais, uma interação homem/máquina para processá-las. Até aqui, pode-se facilmente inferir que as novidades estão a reclamar uma educação diferente, que constam do relato de Cornella e que dá destaque especial ao mundo quântico, com enormes potenciais. Veja-se o exemplo do surgimento dos drones, que podem realizar inúmeras tarefas em incontáveis aplicações. Afora a impressão em três dimensões, que representa um salto fantástico no modelo industrial, e a revolução energética com a implantação da energia solar, a armazenagem dela, as aplicações da geoengenharia permitirão (que Deus nos ouça e perdoe) desfazer dois séculos de contaminação ambiental do planeta. No assunto ambiental, Cornella questiona o desafio de como alimentar 9 bilhões de pessoas em 2050. Como observar o comportamento das sementes e poder atuar sobre elas no momento mais conveniente. Como melhorar as colheitas sem o fantasma da manipulação genética das sementes, evitando, assim, a transgenia e seus possíveis efeitos deletérios. Mas nem tudo é belo e no melhor dos mundos, porque as mudanças sociais e tecnológicas causam problemas crescentes de segurança (piratas digitais, por exemplo, imiscuindo-se em sistemas básicos), gerando infortúnios incalculáveis para as nações, em qualquer plano, do primeiro ao terceiro mundo, afetando gravemente a economia planetária. Está aí o coronavírus (saúde, saneamento meio ambiente) que tem tirado o sono do mundo e alimentado a teoria da conspiração... Some-se a isso o controle do meio ambiente e o problema da pobreza, grande geradora da desigualdade social. Não sem razão, Cornella adianta que temos de inventar novos modelos de organização, orientados para a satisfação plena e baseados não mais na visão da oferta (veja a propaganda que cria necessidades), mas na visão da demanda: a sociedade pede novas soluções às quais as empresas não podem se furtar, nem a educação. É muito importante compreender que a educação tem de formar pessoas que possam se aproveitar desses quatro pilares do mundo futuro (ciência, tecnologia, sociedade e organizações). Nesse contexto, Cornella cita um quinto elemento, transversal, a criação humana não ligada a um sistema produtivo, mas pelo simples prazer da criação: a arte. Para Cornella, os jovens devem ser preparados para um mundo em que o radical se encontra cada vez mais perto da normalidade, uma geração que se pergunte o porquê das coisas e pense de maneira ousada. Aqui é o momento de o autor enaltecer gente como Elon Musk, radical voltado para mudar a forma de transporte de pessoas, fundador do PayPal, Tesla Motors e SolarCity. O homem que quer levar gente para Marte (e vai conseguir), passageiros num trem turbo que ligará São Francisco a Los Angeles viajando a mil quilômetros por hora. É, sem dúvida, uma ideia radical que pode transformar-se em realidade, muito antes do que se espera, graças a pessoas inteligentes que costumam envolver-se apaixonadamente em desafios ambiciosos. Uma nova realidade bate à nossa porta trazendo as máquinas inteligentes que farão grande parte do trabalho de hoje. Porém, o mais importante desses novos tempos é que temos de aprender a trabalhar com as máquinas, nunca contra elas. Devemos tê-las a nosso favor e tendo como certo que a IA vem experimentando sem igual um inesperado desenvolvimento nos últimos dez anos. Quase ao final desta PARTE I, Cornella mostra o uso prático da IA, relatando recente pesquisa realizada pela Ericsson que, se não assusta, incomoda. O público-alvo eram pessoas relacionadas com tecnologia das quais 40% não admitiriam um assessor IA no trabalho, mas, por espantoso, 20% aceitariam que o líder de seu país fosse um programa de IA. Pode? A verdade é que num grande número de atividades a substituição de humanos por máquinas é totalmente provável. E citando o escritor de ficção Arthur Clarke, Cornella enfatiza a necessidade do instinto de aprender: “Se o que faz uma pessoa também a máquina pode fazer, a máquina fará. Ora, se alguém pode ser substituído por um robô, merece que assim seja”. Sábias palavras sobre as quais nossa tarefa diuturna é refletir e agir pois chegamos à segunda década do século 21. ______________ [1] George Monbiot é jornalista, escritor, acadêmico e ambientalista do Reino Unido. Escreve uma coluna semanal no jornal The Guardian. 10