O Slow Food é uma organização global de base, criada na Itália em 1989 com o objetivo de disseminar a cultura do prazer gastronômico e um lento ritmo de vida.
Até a pandemia eram raros os profissionais que reservavam parte do seu tempo para desenvolver a “atitude sem pressa”. A ideia do ócio criativo nunca foi disseminada dentro das organizações.
A base do movimento está no questionamento da pressa e da loucura gerada pela globalização, pelo apelo à quantidade do ter em contraposição à qualidade de vida.
É com satisfação que trago essa reflexão no momento exato em que estamos em isolamento social. Tenho obtido o reconhecimento de leitores por todo o país, que mensalmente efetuam trocas de conhecimentos com a leitura dos nossos textos. Nosso sonho maior nesse blog é compartilhar com cada um novas conquistas e reflexões, fruto do esforço de pesquisadores e colaboradores, que tem abraçado esta causa, pessoalmente. Construir e trocar ideias com uma grande rede de relacionamentos é uma convivência, no mínimo, interessante.
Qualquer reflexão ou proposta aqui apresentada demora certo período para se concretizar ou amadurecer, mesmo que a ideia seja brilhante e simples. Mas, entendemos que toda semente germinada não se traduz em fruto imediato. É regra! A maior recompensa neste processo é quando nos damos conta, de que nossos textos causam em nossos leitores uma aflição saudável, uma ansiedade generalizada por mudanças, porém, é preciso ressignificar o nosso senso de urgência.
Voltando ao fenômeno que acontece hoje na Europa, a Slow Food Internacional Association parece-me ter antevido o tempo. Defende que as pessoas devem comer e beber devagar, saboreando os alimentos, curtindo seu preparo, no convívio com a família, com amigos, sem pressa e com qualidade. Eram raras as famílias que que reservavam parte de seu tempo para desenvolver esse ou qualquer outro hábito ou atitude sem pressa antes da pandemia. A ideia é a de se contrapor ao espírito do Fast Food e o que ele representa como estilo de vida. A surpresa, porém, é que esse movimento do Slow Food está servindo de base para um movimento mais amplo chamado Slow Europe como salientado pela revista Bloomberg Businessweek em uma de suas edições. A base de tudo está no questionamento da pressa e da loucura gerada pela globalização, pelo apelo à quantidade do ter em contraposição à qualidade de vida ou à qualidade do ser. Portanto, essa atitude sem pressa não significa fazer menos, nem menor produtividade. Significa, sim, fazer as coisas e trabalhar com mais qualidade e produtividade com maior perfeição, atenção aos detalhes e com menos estresse. Significa retomar os valores da família, dos amigos, do tempo livre, do espírito, do lazer, do ócio criativo e das pequenas comunidades. Do “local”, presente e concreto, em contraposição ao “global” – indefinido e anônimo. Significa a retomada dos valores essenciais do ser humano, dos pequenos prazeres do cotidiano, da simplicidade de viver e conviver e até da religião e da fé. Significa um ambiente de trabalho menos coercitivo, mais alegre, mais leve e, portanto, mais produtivo, onde seres humanos felizes fazem, com prazer, o que sabem fazer de melhor.
Precisamos urgentemente pensar em programas para as nossas instituições de “qualidade sem pressa” até para aumentar a qualidade dos serviços sem a necessária perda da qualidade do ser? Algumas pessoas vivem correndo atrás do tempo, mas parece que só alcançam quando morrem infartados, ou algo assim. Para outros, o tempo demora a passar; ficam ansiosos com o futuro e se esquecem de viver o presente, que é o único tempo que existe. Tempo todo mundo tem por igual. Ninguém tem mais nem menos que 24 horas por dia. A diferença é o que cada um faz do seu tempo.
Precisamos saber aproveitar cada momento, porque, como disse John Lennon, “a vida é aquilo que acontece enquanto fazemos planos para o futuro”. Parabéns por ter lido até o final… Muitos não irão ler esta mensagem até o final, porque não podem perder o seu tempo neste mundo globalizado. Por uma atitude sem pressa vamos refletir sobre nosso cotidiano.