Há alguns anos temos discutindo os desafios da educação no século 21, mas, neste 2021, estamos diante de um cenário amplificado em virtude dos desdobramentos da pandemia de Covid-19 no contexto educacional. Às dificuldades amplamente mapeadas somaram-se questões como o hibridismo e a aceleração da volatilidade, da incerteza, da complexidade e da ambiguidade, ou seja, do tal do mundo VUCA.
Para debater esse novo panorama e suas nuances, a ABMES reuniu no primeiro seminário deste ano três grandes especialistas: a consultora especializada na área educacional e assessora da presidência da ABMES, Iara de Xavier; o presidente do Consórcio Sthem Brasil e diretor de Inovação e Redes de Cooperação do Semesp, Fábio Reis; e o sócio fundador da empresa de estudos educacionais Educa Insights, Daniel Infante.
Após quase duas horas e meia de exposição de conteúdos densos, com destaque para a urgência requerida pelo momento, uma constatação ficou evidenciada: precisamos aproveitar essa crise e repensar as nossas instituições. Se no mundo pré-pandemia os desafios relacionados aos novos tempos, às novas técnicas e às novas práticas pairavam sobre nossas cabeças, agora eles pavimentam o único caminho possível para a educação superior brasileira.
Sabemos que a educação no século 21 precisa formar profissionais cidadãos e empreendedores com competências e habilidades para viverem em um contexto cada vez mais disruptivo e complexo, mas, para isso, precisamos superar dois obstáculos, como apontado pela professora Iara: a resistência e o medo de muitas instituições na implementação de um currículo inovador e a excessiva regulação do setor educacional no nosso país, o que dificulta a flexibilização e a adoção de modelos criativos.
A simplificação da regulação, com mais autonomia e responsabilidades para o setor, é uma pauta antiga e que tem ganhado cada vez mais força. É bem possível que ela não aconteça de uma hora para a outra com a força que desejamos, mas a velocidade e a qualidade com que as instituições de educação superior particulares se organizaram para garantir a continuidade da oferta educacional por meio do ensino remoto demonstrou que, quando tem liberdade, o setor é capaz de gerar soluções rápidas e efetivas. Ponto para a gente na caminhada rumo à uma regulação mais compatível com as necessidades do atual contexto histórico.
Embora a evolução legal não acompanhe a velocidade dos acontecimentos, as IES podem, desde já, desenvolver projetos inovadores e começar a experimentá-los, sob pena de comprometimento da sustentabilidade daquelas que não se adequarem aos novos tempos.
A adoção de metodologias ativas, conteúdos focados em competências, valorização da aprendizagem em detrimento do decoreba e o respeito à diversidade são práticas que não dependem de normatização e são essenciais para a entrada do processo de ensino-aprendizagem no século 21. Para isso, é essencial capacitar os professores de forma continuada, e não apenas com uma palestra ou curso rápido, como alertou o professor Fábio Reis durante o seminário.
Mas se todas essas medidas já integravam os debates relativos à inovação educacional antes da Covid-19, o que há de novo, então? Nesse momento passam a integrar a agenda educacional questões como a reconfiguração dos espaços físicos e ganham força pautas como a popularização de uma modalidade híbrida de ensino.
Assim como o setor particular não permitiu que a educação superior ficasse parada por meses ao longo do caótico e desafiador ano de 2020, o momento é de mobilização para que ela seja conduzida rumo ao já bem caminhado século 21. A teoria para essa transformação, aliada ao discurso, faz parte do nosso cotidiano há algum tempo. A hora é de mudar as atitudes e extrair os insumos para uma nova educação. Afinal, se o tempo não para, a educação também não pode parar.
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