1945 foi marcado por um dos maiores acontecimentos na sociedade negra brasileira . A primeira mulher negra se formou em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Paraná. Uma pessoa à frente do seu tempo, não só pela forma de lutar por seu futuro, mas também pela força e garra ao qual galgou todas as suas conquistas. Enedina Alves Marques era de origem humilde e conseguiu acesso aos estudos por meio dos patrões da família em que sua mãe trabalhava. Se formou no magistério e lecionou em escolas públicas. Sonhando com um diploma de ensino superior, Enedina enfrentou todo o racismo, perseguição e preconceito para alcançar esse objetivo.
Depois de graduada, Enedina tornou-se servidora pública do Governo do Paraná. Como engenheira, teve seu trabalho marcado em obras importantes como a maior central hidrelétrica subterrânea do sul do país e o Colégio Estadual do Paraná. Enedina abriu o caminho do conhecimento, permitindo que muitas outras mulheres negras do Brasil se espelhassem no seu trabalho e perseverança.
Com base nos dados coletados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, até o ano de 2018, 10,4% das mulheres negras, entre 24 e 44 anos, conseguiram completar o ensino superior. Vejo esse número como uma vitória, um avanço! Percebo esse número como uma grande conquista e herança que Enedina Alves Marques nos deixou. A cada dia, mais mulheres negras ocupam as cadeiras das universidades. Porém, compreendo que esse número é preocupante e precisa ser ultrapassado.
A desigualdade educacional no ensino superior é bem retratada no livro Dossiê Mulheres Negras: Retrato das condições de vida das mulheres negras no Brasil preparado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA. Ele nos traz o recorte do crescimento no número de mulheres negras na graduação em relação ao aumento de instituições de ensino superior particular (IES) e políticas públicas de incentivo à educação, como Programa Universidade para Todos (ProUni) e o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Mas também nos mostra que a discrepância do nível de escolarização de mulheres negras, em relação a homens e mulheres brancas, é enorme. A comparação de escolaridade em diferentes grupos de cor e sexo evidencia o quão grande é a desigualdade no ensino superior.
Mesmo diante deste contexto, em um levantamento realizado pela Organização das Nações Unidas (ONU), entre 2004 e 2014, revelou que em torno de 6 milhões de mulheres negras ingressaram no mercado de trabalho em atividades de maior reconhecimento social e exigência de escolaridade em relação a outros períodos. Uma vitória leva a outra, e cada vitória nos elucida sobre um futuro merecido sem estigmas, estereótipos e preconceitos.
Analisando todos esses dados, vejo que nós mulheres negras caminhamos a passos lentos em rumo ao ensino superior, mas caminhamos com a certeza de que a cada mulher que se forma, marcha para mudar a realidade de outras mulheres que virão depois de nós. Assim como Enedina, muitas mulheres fortes estão fazendo história, e nós fazemos parte dessa história.
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