No dia 24, dando sequência aos Jogos Olímpicos, começou as Paralimpíadas, que nesta edição terão a participação de 253 atletas brasileiros em 20 das 22 modalidades. Certamente, como nas Olimpíadas, serão duas semanas de grandes emoções, com muitas histórias lindas de vida e de superação. Perderemos várias outras noites de sono também, mas valerá a pena! Esses dois eventos nunca decepcionam: produzem momentos que ficam para sempre na nossa memória, nos fazem acreditar que tudo é possível e nos instigam a correr atrás dos nossos sonhos. No caso de Tóquio, eles se fazem ainda mais especiais ao jogar luz e colorir com alegria esses tempos tão cinzas que estamos vivendo.
E quanta felicidade ver nossos heróis medalhistas, transformando esforço pessoal e dedicação em resultado! E que clichê chamá-los de heróis, porém não há outro termo para defini-los. Praticamente todos têm origem humilde e vêm das regiões mais vulneráveis e negligenciadas do Brasil. Lutaram contra adversidades gigantescas para chegar ali, na elite mundial do esporte. Sem uma combinação de garra, muita determinação, resiliência e um pouco de sorte não teriam chegado. Infelizmente, eles são casos pontuais, vencedores improváveis de um país que carece de políticas públicas para identificar e dar suporte aos seus talentos, tanto no esporte como em outras áreas, por meio da educação.
Do mesmo tamanho da felicidade de ver cada atleta conquistando a sua medalha é a infelicidade de pensar em quantas crianças brasileiras cheias de potencial não poderiam se tornar grandes atletas, cientistas incríveis e músicos brilhantes se tivéssemos um plano intencional para desenvolver esses talentos, porque eles de fato não existem. Provavelmente milhões! Um alento é que há algumas iniciativas que vem desempenhando um papel fundamental, a nível local, para evitar a interrupção de tantos futuros. A ginasta Rebeca Andrade, por exemplo, deu os primeiros passos rumo ao pódio em um projeto social de iniciação esportiva da prefeitura de Guarulhos, onde foi descoberta e treinou por cinco anos. Outras cinco ginastas que integraram a seleção brasileira de ginástica também passaram por lá.
O que mais me entristece é que essa situação é exatamente a que encontramos na educação brasileira. Temos alguns exemplos de pequenos municípios com desempenhos excelentes no ensino, como Sobral, no Ceará, e Cocal dos Alves, no Piauí, mas são casos isolados, exatamente como os nossos atletas-heróis. Nesse sentido, outras olimpíadas têm se mostrado de extrema relevância: as do conhecimento. Quando pensadas de forma criteriosa, essas competições não só detectam crianças e jovens virtuosos como melhoram o aprendizado de forma geral, garantindo oportunidades não só para os talentosos, mas para todos os alunos.
A experiência de Coval dos Alves é reveladora da importância desses torneios. Há 16 anos, o município, paupérrimo, deu início a uma verdadeira revolução na educação quando um professor decidiu inscrever os alunos da única escola de ensino médio da cidade na Olimpíada de Matemática, todos com sérias dificuldades na matéria. Para a surpresa de todos, já na primeira participação, 17 foram premiados. Desde então, Cocal dos Altos conquistou 350 medalhas em campeonatos do tipo e uma vitória meritória: um salto de qualidade consistente no ensino. O Ideb do município saltou de 3,6, em 2005, para 6,4, em 2017. Nesse mesmo ano, os alunos do 9º ano da cidade aprenderam 95% do esperado em matemática e 86% em português. Por que não somos capazes de replicar esses exemplos?
Artigo veiculado originalmente no Valor Exonômico.
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