"Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo". Mais de meio século depois do lançamento do seu Pedagogia do Oprimido, livro de onde essa frase foi retirada, Paulo Freire segue revolucionário e atual.
Ainda nos idos de 1968, o educador e patrono da educação brasileira já mostrava-se um defensor do uso da tecnologia no processo de ensino e aprendizagem. Sua sabedoria e capacidade visionária, contudo, vislumbravam a tecnologia como um caminho de humanização do processo educacional, e não o contrário como alguns querem fazer crer.
Naquele longínquo ano, quando o mouse era apresentado à sociedade e o Brasil recebia seu terceiro computador de grande porte (mainframe), o patrono da nossa educação já defendia a escola como um espaço onde a tecnologia teria um papel essencial para a transformação dos estudantes e, consequentemente, da sociedade.
Na sua concepção, o mundo se insere na escola por meio da tecnologia e, com isso, a escola alcança o mundo. O que nem Paulo Freire nem qualquer um de nós poderia imaginar é que viveríamos o ápice dessa visão justamente no ano de celebração pelo o que seria o seu centenário, caso ainda estivesse vivo.
Guiado por uma visão democrática de sociedade, Paulo Freire defendia que o objetivo da escola deveria ser ensinar o aluno a “ler o mundo” para poder transformá-lo. Por isso, dedicou sua vida à construção de práticas pedagógicas libertadoras, e hoje é reconhecido – e estudado – em todo o planeta.
Contudo, aqui no Brasil, o educador ainda é muito mais citado e debatido pelo o que ele não disse e não fez do que pelo o que ele realmente fez. Prática que, aliás, foi potencializada em tempos de mídias sociais e da disseminação crescente de fake news, em uma clara demonstração do quanto o país ainda precisa avançar rumo a uma educação que ensine a ler o mundo de forma crítica, e não apenas as letras.
Para que essa transformação ocorra, assim como para que a tecnologia promova uma verdadeira mudança qualitativa nas escolas, é preciso que o Brasil acredite mais na capacidade revolucionária da educação. Há décadas dizemos que o caminho para a superação das desigualdades é a educação, mas pouco – ou quase nada – tem sido feito para a efetivação desse discurso.
Assim, nesta semana em que celebramos o Dia do Professor, resgato os ensinamentos e a capacidade visionária de Paulo Freire para que reflitamos sobre a importância do educador e da tecnologia para uma educação transformadora. Investir nesses dois elementos é o caminho que precisa ser pavimentado, especialmente neste disruptivo século 21.
Os ensinamentos de Paulo Freire não podem seguir servindo de inspiração apenas para estudiosos da educação. Eles precisam ser colocados em prática se quisermos, um dia, sermos uma nação mais próspera. O Brasil precisa entender, de uma vez por todas, que uma educação transformadora não acontece sem a valorização do docente e sem a mediação da tecnologia no processo de ensino e aprendizagem. Precisamos girar essa chave.
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