Prof. Dr. Valmor Bolan
Doutor em Sociologia. Conselheiro da OUI- (Organização Universitária Interamericana no Brasil). Membro da Comissão Ministerial do Prouni (CONAP). Consultor da Presidência da Anhanguera Educacional
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Que lições podemos tirar dos terríveis acontecimentos ocorridos na escola municipal Tasso Oliveira, em Realengo, no Rio de Janeiro, quando 12 crianças foram assassinadas pelo franco-atirador Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, ex-aluno daquela escola? O fato impactou a todo o Brasil e ao mundo, pelo ineditismo e a maneira fria e calculada com que o rapaz agiu, inclusive prevendo o próprio suicídio, como de fato aconteceu.
Em sua carta, cheia de citações desconexas, evidencia uma certa influência do terrorismo, ainda mais porque Wellignton teria tomado Bin Laden como referência, principalmente após os ataques às torres gêmeas do World Trade Center , em 11 de setembto de 2001. Wellignton teria chegado a pensar um ataque dessa proporção contra a estátua do Cristo Redentor.
Os especialistas tentam fazer diagnósticos da personalidade esquizofrênica e patológica de Wellington, mas é preciso ressaltar que sua psicose tem um ambiente propício, que é o que o próprio Papa João Paulo II chamou, em sua encíclica Evangelium Vitae, de cultura da morte.
Na realidade, o rapaz que cometeu o ato insano de assassinar os doze adolescentes, a maioria meninas, estava totalmente desamparado, isolado, excuído, acuado pelo sistema, até que ele se evadiu da realidade, e não encontrando sentido nem com o que se identificar na sociedade cada vez mais individualista e antissolidária, partiu para uma resposta de alta agressão, que destruiu não somente a vida de doze crianças, mas a sua também, já sem sentido.
A Internet foi uma ferramenta importante no seu processo de destruição mental. E aí é preciso os especialistas se debruçarem mais sobre a questão dos efeitos corrosivos da internet, quando alguém (e há muitos nesta situação) não consegue se instalar no mundo, ser alguém, e recorre ao niilismo como o ponto extremo do desespero.
Por isso, que precisamos reforçar nossas instituições de acolhida à pessoa humana, a começar pela família, para não deixar quem quer que seja, excluir-se totalmente e isolado, planejar barbaridades como a que Wellington cometeu. O seu estado de exclusão foi total mesmo, pois ninguém de sua família foi buscar seu corpo no IML para lhe dar sepultura. Por mais bárbaro que tenha sido o que ele praticou, é preciso entender a tragédia do Realengo sob esse prisma, a de um sistema que não oferece proteção à quem não encontra sentido de vida. É terrível constatar como a violência vai tomando proporções cada vez mais de uma barbárie que se agiganta, e começa a atingir no seio daquelas instituições (como a escola) que surgiram justamente para evitar a extensão do barbarismo. São estas questões desafios do nosso tempo, de encontrar respostas civilizacionais àquilo que banaliza cada vez mais a vida humana, e cujo tal desprezo atinge níveis sem precedentes na história. Temos que estar atentos a tudo isso e buscar, dentro das nossas possibilidades, afirmar a cultura da vida e da paz, em todos os sentidos.




