Tive o privilégio de conhecer o professor Gabriel Mario Rodrigues no ano da graça de 2002, quando ele era reitor da Universidade Anhembi Morumbi e eu estava na vice-reitoria da Uniderp (MS). Pouco depois, em 2004, ele viria a assumir a presidência da ABMES. Com porte altivo e emanando autoridade com simplicidade, refletia bem o grau de realeza de que era possuidor.
Ao diálogo protocolar dos primeiro anos se seguiram, ao todo, 19 anos de uma relação funcional de trabalho que caminhou para uma crescente e, posteriormente, intensa amizade que tive a honra de compartilhar.
Era metódico e fascinado por escrever artigos. Para isso, seguia religiosamente seu plano de trabalho e toda semana, quer houvesse chuva, sol ou neblina, mais um artigo saia dourado do forno de sua imaginação para alimentar o intelecto de seus vitalícios leitores. Inovador, pois a cada artigo publicado se seguia outro com uma temática totalmente diferente. Como curiosidade, ele possuía uma lista enorme de novos temas diferenciados (a cada semana se ampliava!) que ficavam aguardando sua semanal reflexão para serem metodicamente dissecados e então publicados.
No contexto de sua simplicidade, às vezes pedia minha opinião sobre o teor de sua obra logo após suas ideias serem rascunhadas, e aceitava de bom grado sugestões que considerasse adequadas, o que eu entendia como mais um sinal de sua enorme fidalguia, já que eu sempre pouco podia acrescentar à genialidade de seus textos.
Sempre se interessou pela área social e passou a prover apoio aos mais necessitados, em especial por meio da ação de sua família no bairro de Paraisópolis (na cidade de São Paulo/SP), que ele adotou, buscou conhecer e atuar cada vez mais através do pároco de uma igreja local. Foi neste contexto que ele percebeu o enorme papel da família na orientação educacional dos filhos enquanto no ensino básico e, posteriormente, no ensino superior. Entusiasmou-se e solicitou estudos a respeito, que passaram a orientar suas atividades de apoio educacional localmente, bem como lhe deram suporte a inúmeros artigos que brilhantemente escreveu a respeito.
Com inquietude crescente sobre a questão social, demonstrava preocupação com os estudantes de menor renda que frequentavam o ensino superior e considerava injusta a pouca atenção que estes recebiam das autoridades governamentais, quando comparada com o apoio que elas proviam aos demais estudantes através das universidades federais gratuitas. Nesta direção, encomendou estudos inéditos com dados a partir de 1950 com o objetivo de comprovar suas ideias a respeito e que lhes foram muito úteis para certificar seu pensamento nesta área.
Criativo, a qualquer tempo e momento surgia com novas ideias sobre os mais diferentes assuntos, e promovia discussões aprofundadas a respeito. Nesta direção, por exemplo, foi dele a ideia da utilização da moeda virtual (tipo bitcoin) para o pagamento de mensalidades estudantis e para a provisão de bolsas de estudos no ensino superior (ele guardou os resultados para apresentar em um momento mais adequado os estudos que encomendou a respeito).
Também partiu dele o desenvolvimento de um longo estudo, realizado por uma consultoria, objetivando a criação de um sistema de acumulação de pontos, por meio da utilização de cartões de crédito, como uma forma de poupança das famílias para bancarem o estudo superior de seus filhos. Ele tinha a intenção de investir pessoalmente neste projeto.
Por outro lado, por quase dois anos participei, sob sua competente presidência, do Conselho de Administração da Kroton (hoje Cogna), para o qual ele gentilmente me indicou. Com certeza, este período e os que se seguiram foram, para ele, anos dourados de sua extensa e intensa atividade profissional.
Pessoa afável, simples e de fácil acesso para todos, embora detentor de muita riqueza intelectual, cultural e material, nunca deixou de responder a qualquer mensagem ou telefonema que lhe fizemos nos mais diferentes momentos do cotidiano ou mesmo fora deste contexto. Sem dúvida, uma figura singular e que está se tornando rara nos atribulados dias de hoje.
Gostava do futebol e era um torcedor apaixonado pelo Palmeiras (sociedade da qual era associado), manifestando seu senso crítico semanal nas partidas que via pessoalmente ou pela televisão por meio das constantes mensagens que trocava nos dias de jogo, via WhatsApp.
Sua estrela épica brilhou intensamente como mantenedor e reitor de instituição de ensino superior, como empresário e como presidente da ABMES, associação que ele conduziu por longos anos com muito amor, competência, seriedade e dedicação, adicionalmente à função de secretário executivo do Fórum das Entidades Representativas do Ensino Superior Particular e, posteriormente, como presidente do Conselho de Administração da ABMES.
No nosso modesto modo de ver, ele partiu prematuramente para um novo patamar de sua existência. Tinha ainda muito a nos transmitir de sua imensa sabedoria. Em nossa ingênua visão, nos parece que Deus estava ficando enciumado por ter seu dileto filho distante e o chamou repentinamente para perto de Si. Aqui, ficamos todos privados de sua amizade, de seu afeto, de sua parceria. Deus ganhou a batalha, como sempre ocorre.
Sua memória tem sido constantemente reverenciada e seu legado educacional, temos certeza, vai permanecer para sempre nas raízes e no cotidiano da ABMES (em diferentes formas e meios), instituição que ele tanto amava, admirava e reverenciava.
A estrela que aqui brilhava agora brilha no firmamento.
Saudades imensas, professor Gabriel.
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