Louvável nos preocuparmos em resolver os dramas de todos os educandos nos mais variados contextos educacionais, sem exceção. Isso inclui aqueles alunos, por mais raros que sejam, que, por diversos motivos, possam ter sido impedidos de frequentar a escola, tendo como único recurso o estudo domiciliar amparados pelos seus pais.
Há maneiras de resolvermos o problema, incluindo os mecanismos previstos na legislação proposta, atualmente em discussão no Congresso. Adicionalmente, a depender dos casos específicos, já existem caminhos, ainda que insuficientes, que garantem àqueles que obtenham uma pontuação mínima em exames, tipo ENEM, que eles façam jus aos títulos correspondentes.
Nada disso parece equivocado e até mesmo elogiável à primeira vista. O drama é o olhar mais atento. E Educação é algo que exige toda a atenção, sem o que não se trata dela e sim da falta dela.
Nossos constituintes foram muito felizes quando deixaram claro, como expresso no Art. 205, que Educação é direito de todos e dever do Estado e da família e será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
É a Constituição que regulamenta a Educação como sendo compartilhada entre o Estado e a família, indo muito além do ensino/transmissão de conhecimento, contemplando, especialmente, o preparo para a cidadania, o que, certamente, demanda convívio com os demais, transcendendo, por certo, o ambiente unicamente familiar. O desenvolvimento das habilidades socioemocionais é tão relevante quanto o domínio do conteúdo, dependendo, sobretudo, da interação entre os pares no ambiente escolar.
Aos pais, as insubstituíveis lições de amor e de valores. À escola, incluindo os professores e colegas, as experiências compartilhadas no aprender, principalmente do convívio coletivo, com destaque ao respeito às diferenças e ao permanente trato com o novo, exercitando tolerância e empatia com aqueles que não são nossos limitados espelhos.
Enfim, os ambientes escolar e familiar são complementares e irredutíveis um no outro, tal qual filho não é exatamente um aluno. Identicamente, pai ou mãe não é, no sentido estrito, um professor ou uma professora. São saudavelmente distintos, complementares e jamais competitivos.
A essência é que o foco do educador deve ser sempre o educando, jamais a disputa política, de qualquer natureza. No caso do homeschooling, infelizmente, ainda que, de início pareça pertinente se preocupar com os poucos (nem por isso desimportantes) casos de excepcionalidade, embute, salvo engano, uma tentativa de desmerecer a escola e seus integrantes, especificamente os docentes e o ambiente da escola.
A similaridade com demais casos que nos alerta é, por exemplo, a suposta preocupação com as urnas eletrônicas (sabidamente sem nenhum fundamento técnico ou factual), a qual carrega no seu bojo um desprezo pelos valores democráticos, servindo, possivelmente, de muleta para golpes previamente já explicitados.
Em suma, da mesma forma que a defesa dos garimpeiros ilegais traz junto um desprezo indissociável pelo meio ambiente e pelos direitos dos indígenas, a defesa do homeschooling, conforme ela for apresentada, preocupa, eventualmente, resvalar para o desprezo total à escola e aos educadores.
Ou seja, a conexão entre os temas acima, aparentemente tão distintos, ainda que não tão distantes, é evidenciado pelas faces que os defendem, aparentemente, de mesmo epicentro e de propósitos próximos. A politização, além de certos limites, de determinados temas torna cada vez mais difícil enxergarmos áreas superpostas positivas entre a defesa dos garimpeiros e a real preocupação com o meio ambiente. Para ficar nos exemplos citados, tampouco é possível encontrar lógica entre as suspeitas das urnas com qualquer valor democrático sincero.
Enfim, cada vez mais difícil deixar de enxergar uma linha tênue que conecta o desprezo pelos educadores, cientistas e artistas, bem como pela democracia e pelos valores democráticos, com aqueles que defendem o homeschooling, especialmente na sua versão mais contra a escola e seus professores em geral.
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