Por certo, jamais poderia imaginar que, duas décadas após fazer parte daqueles que foram os pioneiros da modalidade da educação a distância no ensino superior, eu me veria, mais do que nunca, convencido dos predicados essenciais associados, inerentemente, à presencialidade física de educandos e educadores.
O que torna ainda mais crítica esta minha reflexão preliminar é estar bem consciente de que, nestes últimos anos, as tecnologias digitais avançaram muito além do que qualquer um pudesse imaginar.
Mesmo assim, ainda que considere as peculiaridades dos contextos recentes, atualmente, vejo-me forçado a enxergar, enquanto educador, a beleza e a imprescindibilidade de algum nível de atividade face a face para a formação completa de um profissional ou para o amadurecimento intelectual de um cidadão. Curiosamente, a presencialidade tem uma riqueza na sua dimensão humana que se torna mais evidente exatamente porque fomos “forçados”, fruto da própria pandemia, a migrarmos muito rapidamente para os recursos remotos.
Assim, é mais do que legítimo e sensato aos educadores, na sua sensibilidade quanto ao processo aprendizagem, perceberem que os educandos, especialmente no que diz respeito aos aspectos socioemocionais, amadurecem de forma mais substantiva quando conseguem também se observar diretamente, explorando interações diretas e analógicas, dispensando interfaces digitais. São muitos colegas que descrevem, com pertinência, experiências similares, particularmente nestes momentos de tentativas de retorno àquilo que chamavam de normalidade.
Em que medida essa possível percepção desmerece ou minimiza a potencialidade da educação digital? Resposta, salvo melhor juízo: em nada! Ou seja, é plenamente possível conjugar, sem conflitos, o uso intensivo dos ambientes virtuais de aprendizagem com o reconhecimento da imprescindibilidade de incorporar, em algum nível, a presencialidade, a depender de cada caso, naturalmente.
Creio que estamos, enquanto comunidade acadêmica e educacional, muito mais preparados para sabermos dosar os recursos, tanto presenciais como digitais, que temos hoje à disposição. Da mesma forma que os preconceitos foram prejudiciais quando a educação a distância emergiu, mais recentemente, corremos o risco da ilusão da suposta irrelevância total da presencialidade.
Tenhamos sempre o educando como centro e como foco, abandonando, sempre que possível, concepções preconceituosas, oriundas, muitas vezes, de realidades que talvez já tenham sido superadas ou mesmo somente imaginadas.
A pandemia, a qual ainda não ultrapassamos por completo, deixou e deixará marcas profundas, podendo ser uma delas uma iludida hipervalorização das capacidades dos relacionamentos remotos em substituição plena aos momentos presenciais.
Ao nos permitirmos entender este período, que ainda nos atinge, com alguma distância, poderemos aprofundar nossa compreensão acerca da riqueza do somatório de todos os recursos educacionais e de relacionamentos humanos, em geral, sem desprezar nenhum deles. Especialmente, porque cada educando é único e cada qual merece e demanda percorrer trilhas educacionais que maximizem seus resultados de aprendizagem.
Um ponto é comum a todos: a complexa dimensão humana que requer a valorização do insubstituível “calor humano”. Por melhor que sejam os ambientes digitais, qualquer processo poderá ser sempre melhorado e mais completo ainda quando o contato direto e analógico, livre de quaisquer interfaces digitais, também puder, complementarmente, estar presente.
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