Há duzentos anos o Brasil tornou-se uma nação independente de Portugal. Tenha o famoso grito às margens do Ipiranga ocorrido com as pompas narradas nos livros de História da educação básica ou sido bem menos glamouroso, como defende uma parcela significativa dos historiadores, o episódio protagonizado por Dom Pedro I é um dos mais relevantes da nossa história.
Embora o Império ainda tenha permanecido por quase 70 anos até o estabelecimento da República, em 7 de setembro de 1822 nos libertamos das amarras portuguesas e do seu processo de colonização. Passados mais de 300 anos desde o desembarque português no nosso litoral, enfim éramos uma nação livre e soberana. E com a responsabilidade de fazer este imenso país dar certo.
Ao herdar a estrutura do Estado português, bastante impulsionada com a vinda da família real em 1808, e aqui estabelecida até julho de 1821, o Brasil independente já nasceu com um bom alicerce voltado à educação. Destacam-se, por exemplo, o extenso e rico acervo da Biblioteca Real, que viria a ser a base da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, e nossas duas primeiras faculdades: a Faculdade de Cirurgia da Bahia e a Faculdade de Medicina, no Rio de Janeiro, ambas criadas em 1808.
Mas foi depois da independência que a educação superior passou a ganhar corpo, com instituições sendo criadas país afora, permitindo que os filhos das famílias mais abastadas pudessem estudar aqui – e não mais terem que cruzar o Atlântico em busca de uma graduação.
Apesar desse início aparentemente promissor, chama a atenção que, passados dois séculos, o Brasil ainda não tenha conseguido democratizar o acesso à educação superior. A despeito da expansão e das políticas de inclusão implementadas, especialmente, nas últimas décadas, o ensino superior ainda está restrito a uma pequena parcela dos brasileiros.
Em uma economia global, na qual as nações estão cada vez mais interdependentes, os desdobramentos desse cenário vão muito além da negação de um direito básico do cidadão. Eles nos colocam em um contexto desfavorável, fazendo com que sejamos cada vez mais dependentes do conhecimento e da produção de outros países. Seria essa uma nova forma de colonização?
É verdade que, na atual conjuntura, nenhum país é autossuficiente. Mas também é verdade que as nações mais desenvolvidas – e com maior poder de barganha no mercado global – são aquelas que se destacam na esfera educacional.
Ao celebrarmos o bicentenário da nossa independência em relação à Portugal, é importante refletirmos sobre as novas formas de dependência e os caminhos que devemos seguir para darmos um basta a elas. A rota não passa por um novo grito às margens do Ipiranga com uma espada em punho. A verdadeira independência só virá pela educação, e é para lá que a bússola das políticas públicas precisa nos guiar
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