Embora a quantidade de médicos tenha crescido 30% entre 2015 e 2020, ainda faltam médicos no Brasil. E não são poucos, como mostram dados extraídos do estudo Demografia Médica no Brasil 2020, produzido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Universidade de São Paulo (USP).
Com uma taxa de 2,48 médicos para cada mil habitantes, o Brasil possui índice similar ao verificado em algumas nações desenvolvidas, como Estados Unidos (2,6), Canadá (2,7) e Reino Unido (2,8), mas está abaixo da média dos países que integram a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que é de 3,5 médicos por mil habitantes. Também estamos abaixo da média verificada no conjunto dos países desenvolvidos (4,5), onde nações como Bélgica (6,07), Hungria (6,06) e Áustria (5,29) se destacam na oferta de médicos para suas populações.
Nos últimos anos, o debate sobre a formação médica no país tem gerado debates acalorados. Enquanto há uma parcela grande da população que clama por mais profissionais, uma pequena parte tem empenhado esforços para impedir a ampliação de cursos e vagas de medicina. Entre as consequências, há 10 anos o Ministério da Educação (MEC) mantém fechado, no e-MEC, o protocolo para a abertura de novos cursos.
Estamos saindo de uma pandemia onde a carência de médicos foi evidenciada de forma exponencial. Estudantes precisaram ser formados antes de concluírem o processo formativo para suprir a demanda diante da situação de calamidade pública que tomou conta do país. De Norte a Sul.
O estudo Mais e melhores médicos: o que o Brasil precisa, realizado pela ABMES em parceria com a Educa Insights, mostra que há interesse dos brasileiros pela profissão. A cada ano, cerca de 1 milhão de candidatos tentam, sem sucesso, se matricular em uma graduação de medicina. As barreiras são muitas e passam pela quantidade limitada de vagas e pelo fato de que poucos brasileiros têm condições de arcar com a mensalidade, já que a maior parte das vagas estão nas instituições particulares de educação superior.
Em reunião recente com reitores de universidades e institutos federais, o presidente Lula declarou que “a gente não pode só formar advogado quando a gente precisa de médico”. Na última quinta-feira (26), o Fórum das Entidades Representativas do Ensino Superior Particular se reuniu com o ministro da Educação, Camilo Santana, que também se mostrou bastante receptivo em relação à necessidade de ampliação da oferta de cursos e vagas de medicina.
É fundamental, contudo, que a reabertura do protocolo ocorra por via dupla, ou seja, com a publicação de novos editais do Programa Mais Médicos, mas, também, com a liberação do sistema e-MEC, e que o padrão de qualidade aplicado na análise seja o mesmo em ambas as situações.
Estamos longe de termos uma estrutura de saúde capaz de atender os brasileiros nas suas necessidades básicas, e ainda temos o “século das pandemias” pela frente. O momento clama por mais empatia e senso coletivo. Por políticas públicas que fomentem a formação de novos médicos e a fixação desses profissionais em todos os espaços onde são necessários. Não podemos seguir nos contentando com tão pouco, tendo como parâmetro nações que encontram-se em situação similar à nossa.
Precisamos olhar além. Precisamos de melhores condições de vida e de mais saúde para a nossa população. Precisamos de mais dignidade e de mais cidadania para todos que habitam este país-continente. Precisamos de mais e de melhores médicos para enfrentar o grave quadro de carência naquilo que é um direito humano fundamental.
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