Responsável por mais de 70% das novas matrículas efetivadas em 2022, a educação a distância (EAD) foi, novamente, o destaque do Censo da Educação Superior, realizado anualmente pelo Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC). O crescimento dessa modalidade de ensino já vinha sendo verificado nos últimos levantamentos, inclusive antes mesmo da pandemia de covid-19, mas os novos dados são tão expressivos que acenderam o sinal de alerta dentro do Ministério da Educação.
Durante a apresentação dos dados, o ministro Camilo Santana mostrou-se preocupado com a qualidade da educação ofertada à distância, mas disse compreender que a modalidade facilita a vida do trabalhador. “Não estamos aqui demonizando o ensino a distância, não. Ele é importante para facilitar a vida, mas quero prezar pela qualidade da oferta desses cursos”, disse. Além de realizar uma consulta pública sobre cursos que não devem ser ofertados à distância, a pasta anunciou outras medidas como a revisão das cargas horárias e das diretrizes curriculares nacionais para os cursos EAD.
Aqui, vale pontuar que os cursos à distância passam pelo mesmo processo de avaliação aplicado aos presenciais – e que os resultados qualitativos têm se mantido similares ao longo dos anos. Nesse sentido, uma reflexão possível talvez seja a de que não estamos preparados para aceitar que a sociedade mudou, que o preconceito com a educação à distância caiu por terra e que os ingressantes da educação superior estão em busca de novos caminhos para sua formação profissional. Isso, claro, de modo algum significa que a preocupação com a qualidade não deva existir.
Quero destacar um dado relevante e que foi pouco celebrado até o momento: a variação positiva no número de ingressantes dos cursos presenciais em 12,9% entre 2021 e 2022. Há anos, não havia variação positiva nesse quesito e a redução dos ingressantes nos cursos presenciais parecia um cenário consolidado. Entre 2020 e 2021, por exemplo, o decréscimo havia sido de -16,5%. Para mim, esses dados mostram que, reestabelecido o quadro sanitário normal, as pessoas que podem e preferem cursar uma graduação presencial estão seguindo esse caminho, enquanto outras descobriram na oferta à distância um passo seguro rumo à formação profissional, sem o medo de outrora em relação à sua aceitação pelo mercado de trabalho.
Talvez estejamos na direção do que venha a resultar em uma (possível) democratização do acesso à educação superior. Outro indicativo nesse sentido consiste nas quase 500 mil matrículas a mais registradas em 2022 em relação a 2021, fazendo com que saltássemos para quase 9,5 milhões de estudantes em cursos de educação superior, desempenho que há muito não registrávamos. O que praticamente não teve alteração é relevância do setor particular: 78% das matrículas totais estão nessas instituições.
Depois de alguns anos bem desalentadores, o Censo da Educação Superior 2022 trouxe um certo alívio com números positivos e que indicam uma retomada para o fortalecimento desse nível educacional no Brasil. Contudo, não podemos nos esquecer que seguimos com grandes desafios na área, como as metas do PNE que não serão atingidas; os altos índices de evasão; e o desafio de construir uma educação conectada com a realidade destes novos e desafiadores tempos.
Para isso, precisamos romper de vez com a discussão sobre a dicotomia entre presencial e EAD. É necessário partirmos para um modelo de educação baseada em tecnologia, no qual cada instituição, respeitando suas características e autonomia, e seguindo as diretrizes curriculares nacionais, possa definir sobre a aplicação dos quadrantes híbridos para cada curso superior. Esse é o caminho para a nova educação que precisa surgir e que vai dialogar com os anseios da sociedade, dos estudantes e das instituições.
Portanto, tenhamos, sim, atenção para a qualidade dos cursos – todos eles, mas também estejamos em alerta e atuantes em relação às demais ações e políticas educacionais que o país e a nossa população tanto precisam. Que saibamos fazer as reflexões e os investimentos corretos. Disso depende o nosso futuro.
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