Quem realmente me conhece sabe que adoro traçar paralelos entre a cultura pop e a vida. Ao escrever este artigo não poderia fazer diferente. E, por isso, escolhi uma música emblemática do gênio David Bowie chamada “Changes”.
"Vire-se e enfrente o estranho (Turn and face the strange)," ecoa a voz de David Bowie. Estas palavras, mais do que uma simples letra de música, são um chamado à transformação, um hino para nós, inovadores. E no mundo da educação, onde estou imerso, essa transformação é mais do que necessária; é vital.
Aos 35 anos, assumi o desafio de me tornar gestor de inovação em um grande grupo educacional. Mas logo de cara, confrontei-me com uma realidade paradoxal: muitos colegas, de diferentes idades, falando sobre inovação, mas poucos verdadeiramente dispostos a mudar. Por que é tão difícil alterar mindsets arraigados? Por que, mesmo reconhecendo a necessidade de mudança, resistimos a ela?
A música de David Bowie me faz pensar: estamos realmente prontos para "enfrentar o estranho"? Na gestão educacional inovar não é apenas implementar novas tecnologias ou metodologias como muitos acreditam; inovar é uma batalha contra os "anticorpos" da inovação - aqueles mindsets e estruturas resistentes à mudança.
Aliás, lidar com resistência é exaustivo. Mas a pergunta que devemos fazer é: podemos nos dar ao luxo de não mudar? O mundo está em constante evolução, e isso não é uma novidade. Na verdade, o mundo é sinônimo de evolução. A pandemia global acelerou essa transformação, mostrando que a educação não pode permanecer estática. Como gestores educacionais, como podemos liderar essa mudança sem sucumbir ao medo de arriscar? Aliás, estamos perdendo o timing.
"O tempo pode me mudar, mas não consigo traçar o tempo (Time may change me, but I can't trace time)," canta David Bowie. Esta frase me faz questionar: estamos tentando traçar o tempo, mantendo-nos presos a práticas ultrapassadas, ou estamos permitindo que o tempo nos transforme? Como gestor, aprendi que mudar mindsets é um processo lento e desafiador, mas não impossível. A persistência é a chave. Mas como manter essa persistência diante de obstáculos aparentemente intransponíveis?
Nas salas de aula e nos corredores administrativos, as inovações são visíveis – mas essas mudanças são suficientes? Estamos realmente abraçando novas ideias e perspectivas, ou apenas aplicando uma camada superficial de "novidade" sobre estruturas antigas? Como gestores, como podemos cultivar um ambiente que não apenas tolera, mas celebra e incentiva a inovação verdadeira?
A música de Bowie nos desafia a ser diferentes, a ser inovadores. Mas como podemos efetivamente ser estes agentes de mudança em um ambiente que muitas vezes parece resistente a ela? Como podemos inspirar outros a se juntarem a nós nessa jornada de transformação?
"Ch-ch-changes," o refrão se repete, num lembrete de que a mudança é inevitável, mas também é uma grande oportunidade. É um convite para cada um de nós, especialmente nós gestores educacionais, sermos parte ativa dessa melodia de inovação. Não é suficiente apenas aceitar as mudanças - devemos ser os compositores, os músicos, os maestros dessas mudanças.
"Só tenho que ser um homem diferente (Just gonna have to be a different man)," nos desafia e conclama Bowie. Está na hora de sermos diferentes. Está na hora de encararmos o estranho, dançarmos ao ritmo da mudança e sermos os maestros da transformação na educação. E você, está pronto para ser parte dessa melodia?
Mauricio Henrique Beccker