Dados anunciados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no início deste mês trouxeram uma notícia tecnicamente boa para o país: em 2023, o número de jovens que nem estudavam e nem trabalhavam é o menor da série histórica, iniciada em 2012. Mas, se o cenário melhorou, porque digo que o dado é "tecnicamente" positivo?
A resposta para esse questionamento é muito simples: a quantidade de brasileiros com idades entre 15 e 29 anos desalentados e sem perspectiva de vida segue altíssima. Ao todo, são 10,3 milhões de pessoas, número que equivale a 21,2% da nossa população nessa faixa etária. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), entre 37 nações, o Brasil só fica atrás da África do Sul na proporção de jovens que não estudam e nem trabalham.
Como costumo dizer diante desse tipo de situação, reverter esse quadro requer um grande esforço em várias frentes, e precisa ser abraçado com prioridade. Caso contrário, o país não apenas manterá suas estruturas de enormes desigualdades socioeconômicas, como tende a enfrentar contextos cada vez mais desoladores e desafiadores em um mundo global e extremamente competitivo.
Os impactos que a baixa escolaridade e falta de profissionalização causam para o país não são novidade. Por exemplo, a última edição do Índice Firjan de Competitividade Global (IFCG) mostra o país na 46ª posição entre 66 nações. Custo Brasil? Ambiente de negócios? Sim, esses elementos contribuem para esse resultado. Contudo, o destaque dado pelo presidente da Federação, Luiz Césio Caetano, foi outro. Para ele, “um dos graves problemas estruturais do Brasil é que as pessoas acabam não tendo acesso a uma educação de qualidade. Isso vira uma barreira para que consigam melhores postos de trabalho e um gargalo para as empresas que não conseguem mão de obra preparada para os novos tempos, à altura dos enormes desafios que as transformações tecnológicas impõem”.
Sim. Não há alternativa. A melhoria dos índices sociais e econômicos do Brasil somente será alcançada com investimento sério em educação e profissionalização da população. Iniciativas como o Pé-de-Meia, voltada para adolescentes de baixa renda do ensino médio, são fundamentais para manter na escola milhões de jovens que vivem em situação de vulnerabilidade social e, muitas vezes, precisam abandonar os estudos para contribuir com a renda familiar.
Mas precisamos de mais. Muito mais. Precisamos de uma educação básica de qualidade e que conecte o processo de ensino e aprendizagem com as demandas e as expectativas dos estudantes, do mercado de trabalho e do país. Precisamos de um programa de bolsas de estudo para a educação profissional e tecnológica nos moldes do ProUni e de mais estímulo para que os jovens brasileiros se interessem por essa formação profissionalizante.
No que diz respeito à educação superior, as necessidades também passam por investimentos na reformulação de currículos, do marco regulatório e das práticas pedagógicas. Contudo, mais do que em qualquer outro nível escolar, a educação superior precisa ser democratizada. Todo brasileiro que deseja cursar uma graduação precisa ter esse direito constitucional respeitado, realidade ainda muito distante para uma parcela significativa da nossa população.
Para isso, precisamos de políticas públicas fortes. O Brasil precisa de um financiamento estudantil alinhado com a realidade dos estudantes. Também precisa de um ProUni cada vez mais acessível para quem realmente precisa. Precisa de instituições de educação superior preparadas para lidar com as inovações e os desafios destes tempos, cenário que pode ser estimulado por meio de linhas de crédito específicas.
Como eu disse, o problema do grande contingente de jovens que nem estudam e nem trabalham no país é multifatorial, mas boa parte da solução passa pelo investimento em uma educação melhor, mais atrativa e mais democrática. Os milhões de jovens que estão abandonados à própria sorte precisam dessa solução. O setor produtivo precisa dessa solução. O país precisa dessa solução.
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