A inovação tornou-se uma palavra de ordem no ensino superior. Inteligência artificial, ensino híbrido, metodologias ativas e modelos adaptativos surgem como promessas para transformar a experiência educacional. No entanto, ao observar a evolução das universidades ao longo dos séculos, percebe-se que alguns princípios fundamentais permanecem inalterados. Inspirado pelo pensamento de Morgan Housel, no livro O Mesmo de Sempre, faz-se necessário questionar: o que na Educação Superior nunca mudará, independentemente das revoluções tecnológicas e metodológicas? Para líderes acadêmicos, compreender esses pilares atemporais é essencial para equilibrar inovação com a essência do ensino.
Desde a fundação das primeiras universidades na Idade Média, como Bolonha e Paris, o conhecimento tem sido o centro da experiência acadêmica. Os métodos de ensino evoluíram, as fontes de informação se diversificaram, mas a busca pela verdade e pelo aprofundamento intelectual continua sendo a razão de existir do ensino superior. O acesso à informação tornou-se mais rápido e democrático, mas a curadoria do conhecimento e a interpretação crítica nunca serão obsoletas. Mesmo com tecnologias que oferecem respostas instantâneas, a habilidade de conectar informações, analisar contextos e formular novas perguntas permanece fundamental.
Embora novas tecnologias permitam maior autonomia aos alunos, o professor continua sendo uma figura essencial. Como bem pontua Paulo Freire, no Pedagogia da Autonomia, ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para sua construção. Professores que inspiram, desafiam e orientam continuarão a ser necessários. A personalização do ensino pode ser aprimorada por algoritmos, mas a empatia, o olhar crítico e a capacidade de provocar reflexões profundas são qualidades humanas insubstituíveis.
A aprendizagem, por sua vez, nunca poderá ser vista como um processo estático. A universidade sempre foi um espaço de transformação pessoal e social, e essa característica permanecerá, independentemente da forma como o ensino é ministrado. O conceito de lifelong learning (aprendizado ao longo da vida) fortalece esse princípio. Os diplomas continuarão sendo valiosos, mas a necessidade de atualização constante reforça que a educação superior é apenas o início de uma jornada contínua.
Além da transmissão do conhecimento, a universidade sempre foi um espaço de produção e avanço científico. A pesquisa acadêmica continuará sendo um dos pilares do ensino superior, pois o desenvolvimento do pensamento crítico e da investigação rigorosa são indispensáveis para o progresso da sociedade. O crescimento da tecnologia pode acelerar processos, mas o rigor científico, a busca por evidências e a curiosidade investigativa jamais perderão relevância. Vivemos em uma era de abundância de informações, mas a capacidade de distinguir fato de opinião, analisar fontes e questionar pressupostos continuará sendo uma habilidade essencial para a formação de cidadãos capazes de transformar suas realidades.
Outro elemento essencial da experiência acadêmica é a convivência e a troca de experiências. Desde os tempos das antigas academias gregas, o diálogo, os debates e a construção coletiva do conhecimento sempre foram fundamentais. Ainda que o ensino remoto tenha se expandido e novas plataformas digitais ofereçam flexibilidade no aprendizado, a construção de redes de relacionamento, a interação humana e o compartilhamento de ideias continuarão sendo aspectos insubstituíveis. A universidade forma não apenas profissionais, mas cidadãos que aprendem a conviver com a diversidade de ideias e perspectivas, desenvolvendo habilidades sociais e emocionais que são essenciais para o mundo do trabalho e para a vida em sociedade.
Diante desses pilares inegociáveis, as lideranças acadêmicas enfrentam o desafio de inovar sem perder de vista o que nunca muda. A tecnologia pode otimizar processos e tornar o ensino mais acessível, mas os fundamentos que sustentam a Educação Superior permanecem os mesmos: a busca pelo conhecimento, o papel do professor como mediador do saber, a aprendizagem como processo contínuo, o desenvolvimento do pensamento crítico e da pesquisa, e a experiência acadêmica como espaço de troca e convivência.
Essa reflexão nos leva a uma questão crucial: até que ponto as universidades estão buscando inovação sem comprometer sua essência? O fascínio pelas tendências tecnológicas pode levar instituições a apostarem em mudanças radicais sem considerar aquilo que verdadeiramente forma um ensino superior de qualidade. Equilibrar o novo e o permanente não é apenas uma necessidade, mas uma responsabilidade das lideranças acadêmicas. A pergunta essencial para o futuro da educação não deve ser apenas "o que podemos mudar?", mas, principalmente, "o que não podemos perder?". Afinal, se tudo muda o tempo todo, são os alicerces que sustentam a universidade ao longo da história que garantem sua relevância para as próximas gerações.
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