Revista Linha DiretaEdição 157 - Abril de 2011***Em junho de 2010, o ministro da Educação, Fernando Haddad, declarou, durante a abertura do Seminário Internacional Cursos Superiores de Tecnologia: Educação e o mundo do trabalho, que a meta do país é atingir 10 milhões de universitários na segunda década do século XXI. Segundo o ministro, "é necessário que pelo menos 50% dos jovens entre 18 e 24 anos cursem o Ensino Superior". Mas quais são os desafios para atingir essa meta? O que deve ser feito em médio e longo prazo?
É essa discussão que norteará a realização do IV Congresso Brasileiro da Educação Superior Particular, em Salvador/BA, nos dias 5, 6 e 7 de maio. A conferência magna – Políticas públicas para a expansão estratégica do Ensino Superior brasileiro – será realizada pelo ministro da Educação Fernando Haddad. A palestra Os desafios de colocar 10 milhões de estudantes no Ensino Superior contará com as análises de Gabriel Mario Rodrigues, presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES); Luiz Cláudio Costa, secretário da Educação Superior (SESu/MEC); e Carlos Monteiro, fundador e diretor-presidente da CM Consultoria de Administração.
O evento, uma realização da TOTVS e da Linha Direta, reunirá as principais lideranças do setor particular de Ensino Superior, autoridades governamentais e políticas, com responsabilidades na área de educação, renomados educadores do Brasil e do exterior e formuladores de políticas públicas para a educação no Brasil.
“Há três anos, surgiu a ideia de debater problemas e soluções para o Ensino Superior no Brasil, em um congresso, com o objetivo de fortalecer, cada vez mais, o mais importante insumo de prosperidade de qualquer país: a EDUCAÇÃO”, explica Laércio Cosentino, presidente da TOTVS, sobre a iniciativa de realização do Congresso. Ele acredita que já houve muitos avanços nos últimos 10 anos, com um maior número de estudantes no Ensino Superior e a disponibilidade de novos cursos e universidades, mas ressalta que o tema ainda deve ser prioridade para a sociedade brasileira.
“O novo desafio é melhorar o Ensino Fundamental para que se possa exigir muito mais do superior. O país está próximo do pleno emprego e necessitando, cada vez mais, de uma mão de obra muito qualificada. Empresas fortalecidas, grandes investimentos, maior distribuição de renda e um aumento do consumo interno requerem ajustes estruturais e muita educação”, avalia Cosentino. Com isso, ele ressalta que o Congresso é uma grande oportunidade de discutir o que é preciso mudar no ensino para que o Brasil diminua os seus gaps no futuro que já estamos vivendo.
“O Congresso acontece em um momento muito importante do cenário brasileiro: o começo de um novo período de governo federal, agora com a presença da presidenta Dilma Roussef. Além disso, nosso país atravessa um período de intenso desenvolvimento, com muitos desafios a enfrentar, dentre os quais dois se sobressaem: ampliar a inclusão social nos benefícios que vêm sendo gerados e ter gente especializada para as imensas tarefas produtivas que nos esperam”, declara Gabriel Mario Rodrigues, presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) e secretário executivo do Fórum das Entidades Representativas do Ensino Superior Particular.
Rodrigues enfatiza que é necessário que se faça um esforço elevado para a inclusão de mais quatro milhões de alunos no Ensino Superior nos próximos quatro anos, tanto nas instituições de Ensino Superior públicas quanto nas particulares. Segundo ele, estima-se cerca de 75% do total em IES particulares. Este montante, somado aos seis milhões de alunos já matriculados atualmente, levaria a 10 milhões de alunos no Ensino Superior. “Como se sabe, nosso país tem menos de 15% dos jovens na idade de 18 a 24 anos frequentando o Ensino Superior, enquanto Chile e Argentina, para citar apenas dois vizinhos sul-americanos, têm bem mais de 30%. Esse quadro precisa mudar”, alerta.
O presidente da ABMES reconhece que esse é um grande desafio, tendo em vista que o maior potencial de jovens a ingressar no Ensino Superior está localizado nas classes C, D e E. “Essas classes econômicas têm dificuldades para pagar uma faculdade. Financiamento é, então, uma questão central”, ressalta o professor, acrescentando que, juntamente ao desafio da expansão e compatível com o ingresso das classes menos favorecidas economicamente, emerge a expectativa de conseguir alternativas para se chegar a uma maior inclusão social no Ensino Superior.
A participação do segmento político no Congresso também é fundamental. “O Congresso Nacional se renovou em cerca de 50%. O que pensam os parlamentares a respeito da expansão do Ensino Superior? Certamente, vai valer a pena ouvir o que nos têm a dizer os representantes do Senado Federal e da Câmara dos Deputados sobre os novos rumos da política no Brasil e seus desdobramentos no trabalho que desenvolvemos”, garante o presidente da ABMES.
O Congresso é uma promoção do Fórum das Entidades Representativas do Ensino Superior Particular, constituído pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), Associação Brasileira das Mantenedoras das Faculdades Isoladas e Integradas (Abrafi), Associação Nacional dos Centros Universitários (Anaceu), Associação Nacional das Universidades Particulares (Anup) e Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp), e já foi realizado em: Costão do Santinho, Florianópolis/SC, em 2010; Araxá/MG, em 2009, e Porto de Galinhas/PE, em 2008.
Ensino Superior em números
Segundo um dos palestrantes, o professor Carlos Monteiro, ao analisar a evolução das matrículas no Ensino Superior, durante o período de 2004/2009, percebe-se que o índice de crescimento é de 7,1%. No período de 2008/2009, o índice cai para apenas 2,5% ao ano. “Se projetarmos essas duas taxas de crescimento, sobre o número de alunos matriculados em 2009, verificaremos que a meta de 10 milhões de universitários seria alcançada em 2017 ou 2037, respectivamente”, explica.
Para o professor, isso significa que, para que a meta seja alcançada nesta década e, principalmente, até 2015, é necessário fugir do modelo tradicional e estabelecer uma parceria entre todos os atores envolvidos nesse setor, em especial o ensino privado. “Construir a "n" mãos o Planejamento Estratégico do setor”, ressalta. Mas, ele destaca que, ainda que se trabalhe com um cenário otimista de crescimento das matrículas a 8,6% ao ano, somente em 2016 a meta do Plano Nacional de Educação (PNE) seria cumprida. “Nosso país, para ter competitividade internacional, depende cada vez mais de recursos humanos qualificados e não pode se dar ao luxo de crescer vagarosamente. Temos urgência e o momento é agora!”, enfatiza.
Monteiro cita, ainda, alguns desafios que precisam ser vencidos para que a expansão das matrículas no Ensino Superior aconteça:
- Aproveitamento das vagas ociosas, principalmente do setor privado
- Esforço concentrado para estancar a grande hemorragia da evasão
- Criar condições especiais de financiamento para expandir, fortemente, a matrícula nos segmentos socioeconômicos C e D
- A expansão, via classes C e D, deve ser acompanhada de um esforço conjunto do MEC e das IES pela qualidade do ensino ministrado
- Ênfase na expansão de áreas definidas como estratégicas
- Respeito às características regionais (áreas-chave para os estados e/ou regiões)
- Evitar a duplicação da oferta em fundo da expansão do ensino público
- Atuação junto a working adults
- Incentivo a fundações, Ongs e empresas, para que ofereçam bolsas de estudo
- Atuação em municípios sem oferta de Ensino Superior
- Aperfeiçoamento e expansão do sistema Fies/Prouni
- Criação da bolsa-educação (voucher educacional)
- Construção coletiva do Planejamento Estratégico do Ensino Superior brasileiro (como foi proposto pelo professor Luis Carlos Costa, secretário do Ensino Superior)
- Esforço concentrado para a cintinuidade da expansão dos cursos superiores de tecnologia (CST) e de Educação a Distância (EAD) - que crescem a taxas muito superiores aos bacharelados tradicionais)
- Nem todas essas medidas poderão ser tomadas ou apresentarão resultados no curto prazo. Seria necessário fazer a definição das prioridades e estabelecer uma cronologia para sua aplicação.




