No ambiente competitivo da educação superior particular, a conquista de uma vantagem competitiva é vista, por muitos gestores, como o ápice de um processo de construção estratégica. Consolidar marcas reconhecidas, expandir polos de educação a distância e aumentar a base de alunos são realizações indiscutíveis. No entanto, à luz da Regra de Cope, compreende-se que o crescimento institucional, se não for cuidadosamente gerenciado, pode encerrar em si mesmo o início da vulnerabilidade.
Edward Drinker Cope, ao observar o registro evolutivo, percebeu que os organismos tendem a aumentar de tamanho ao longo do tempo. Essa tendência, embora inicialmente fortalecesse as espécies, resultava em estruturas mais complexas e menos ágeis, tornando-as mais suscetíveis a mudanças no ambiente. Quando se analisa a trajetória de crescimento das instituições educacionais particulares, uma lógica semelhante pode ser percebida: o crescimento, embora traga ganhos de escala e de visibilidade, também adiciona camadas de complexidade administrativa, aumenta o risco de rigidez nos processos e exige uma capacidade de gestão adaptativa muito mais sofisticada.
O desafio, então, não está em crescer, mas em crescer com inteligência estratégica. Michael Porter, em sua obra "Vantagem Competitiva" (1985), ensina que a diferenciação ou a liderança em custo podem ser fontes de vantagem competitiva, mas enfatiza que tais vantagens precisam ser continuamente cultivadas. Nenhuma posição no mercado é definitiva. Os concorrentes se movem, as expectativas dos alunos mudam, novas tecnologias emergem e o próprio mercado de trabalho redefine os perfis profissionais desejados. Em um ambiente de tal volatilidade, a vantagem competitiva precisa ser encarada como um processo dinâmico de adaptação constante, e não como uma conquista estática a ser preservada.
Neste cenário de mudanças incessantes, o conceito de antifragilidade, proposto por Nassim Nicholas Taleb em "Antifrágil: Coisas que se Beneficiam com o Caos" (2012), oferece uma contribuição essencial. Ser antifrágil significa mais do que resistir a choques: significa usá-los como oportunidades de fortalecimento. Aplicado à gestão educacional, isso implica que as instituições precisam desenvolver estruturas capazes de aprender com as adversidades, de se reorganizar rapidamente diante de mudanças e de, acima de tudo, encontrar na incerteza o combustível para a inovação.
Crescer de forma antifrágil significa descentralizar o poder decisório, promovendo maior autonomia a polos e unidades, sem perder a coesão estratégica global. Significa adotar a experimentação como método, testando novos formatos de cursos, novas abordagens pedagógicas e novas tecnologias de interação com os estudantes. Também significa estar atento às transformações sociais, econômicas e culturais que impactam diretamente a educação, reposicionando-se quando necessário.
É importante reconhecer que a expansão da Educação a Distância (EaD), longe de ser apenas uma resposta à pressão por escalabilidade, tem mostrado caminhos interessantes para inovação pedagógica e democratização do acesso. A utilização de ambientes virtuais de aprendizagem, a implementação de trilhas formativas personalizadas e o apoio ao aluno com tutores e mentores especializados são exemplos de como o crescimento quantitativo pode, sim, ser acompanhado de crescimento qualitativo. Não se trata de condenar a expansão; trata-se de qualificar o crescimento para que ele seja sustentável a longo prazo.
A grande armadilha que muitas instituições enfrentam, conforme alertado pela Regra de Cope, é a crença de que o sucesso alcançado as protege automaticamente contra os riscos futuros. Entretanto, o excesso de confiança, a padronização excessiva e a lentidão na tomada de decisões formam um ambiente propício à obsolescência estratégica. Organizações educacionais que pretendem manter sua vantagem competitiva precisam incorporar, em sua cultura, uma disposição permanente para a mudança — não como resposta ao caos, mas como estratégia deliberada de fortalecimento.
Ao reconhecer que crescer implica mais do que expandir fisicamente ou aumentar a captação de estudantes, e que a verdadeira sustentabilidade estratégica reside na capacidade de evoluir diante da incerteza, o ensino superior particular poderá construir instituições não apenas grandes, mas resilientes, inovadoras e antifrágeis.
Assim, a vantagem competitiva deve ser compreendida como um movimento contínuo, como uma dança estratégica com as forças da mudança, e não como uma fortaleza construída contra elas. À luz da Regra de Cope, de Porter e de Taleb, a trajetória de sucesso no ensino superior particular será desenhada não apenas pelo tamanho alcançado, mas pela capacidade de se adaptar, inovar e se fortalecer em cada novo ciclo de transformação.
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