Ao analisarmos a trajetória da inovação nas Instituições de Ensino Superior (IES), constatamos que a tensão entre resistência e aceitação de novas práticas pode ser interpretada à luz da obra Apocalípticos e Integrados, de Umberto Eco. Nesse trabalho seminal, foram expostas duas atitudes fundamentais diante das transformações culturais: a dos "apocalípticos", que veem nas mudanças sinais de degradação, e a dos "integrados", que aceitam e celebram tais mudanças como parte do progresso.
A inovação educacional, quando proposta nas IES, depara-se frequentemente com reações que se alinham a esses dois arquétipos. Observamos que, ao introduzirmos metodologias ativas de aprendizagem, tecnologias educacionais ou novos modelos de gestão acadêmica, setores da comunidade universitária posicionam-se de maneira crítica e alarmista, enquanto outros engajam-se entusiasticamente no processo de transformação.
A Inovação sob o Olhar dos Apocalípticos
A resistência à inovação, dentro do ambiente acadêmico, tem sido alimentada por preocupações legítimas, mas também por receios enraizados em paradigmas tradicionais. Como apontado por Eco, os apocalípticos tendem a valorizar uma cultura idealizada do passado, considerando qualquer ruptura como ameaça à essência do saber. De modo semelhante, nas IES, têm sido observadas posturas que associam a adoção de novas tecnologias à perda da profundidade formativa, à precarização das relações pedagógicas ou à mercantilização do conhecimento.
Essa resistência manifesta-se, por exemplo, na crítica às metodologias híbridas de ensino, à flexibilização curricular baseada em competências ou ao uso intensivo de plataformas digitais. Teme-se que, ao incorporarmos a inovação, estejamos desfigurando o que se compreende como missão clássica da universidade: a formação crítica e humanística.
Os Integrados e a Oportunidade de Transformação
Por outro lado, os integrados, na concepção de Eco, reconhecem as mudanças como componentes inevitáveis do desenvolvimento social e cultural, enxergando nas novas dinâmicas oportunidades de ampliação do acesso, democratização do conhecimento e renovação pedagógica. Quando pensamos a inovação nas IES sob essa perspectiva, percebemos que a sua implantação pode — e deve — ser encarada como forma de fortalecer o compromisso acadêmico, e não como sua diluição.
Temos observado que práticas como a aprendizagem baseada em projetos, a personalização de trilhas formativas e a incorporação de recursos de inteligência artificial no apoio ao ensino e à gestão educacional, quando bem planejadas, contribuem significativamente para a elevação da qualidade e da relevância dos cursos superiores. A inovação, portanto, não deve ser vista como ruptura, mas como evolução do compromisso acadêmico para um novo contexto social, econômico e tecnológico.
A Dialética Necessária: Inovar Sem Romper
A implantação da inovação nas IES exige, assim, a compreensão de que apocalípticos e integrados representam forças complementares. Ao serem ouvidas as críticas dos primeiros, podem-se identificar riscos reais que necessitam ser mitigados nos processos de mudança. Da mesma forma, ao serem acolhidas as propostas dos segundos, fomenta-se a capacidade institucional de adaptação e renovação.
Portanto, propõe-se que o processo de inovação nas IES seja conduzido como uma dialética construtiva, em que as tensões não sejam negadas, mas organizadas em processos de escuta ativa, experimentação controlada e avaliação contínua. Deve-se construir espaços institucionais onde se valorizem tanto a prudência dos apocalípticos quanto o entusiasmo dos integrados, assegurando que a inovação se realize de maneira sustentável, respeitosa e estratégica.
Considerações Finais
Ao refletirmos sobre os desafios da inovação no ensino superior a partir de Apocalípticos e Integrados, reconhecemos que o sucesso das mudanças não se dará pela negação das resistências, tampouco pela adoção acrítica das novidades. Será pela construção de um projeto institucional que, fundamentado na missão acadêmica e nas necessidades contemporâneas da sociedade, permita integrar tradição e transformação de maneira harmoniosa e intencional.
À luz de nossa experiência em gestão educacional e inovação acadêmica, defendemos que as IES devem adotar a inovação não como modismo, mas como exercício consciente de renovação institucional, comprometendo-se com a formação de cidadãos críticos, éticos e preparados para o futuro em constante transformação.