A contagem regressiva já começou, com o fim do prazo educativo da nova NR-1 se aproximando (maio de 2026), encerra-se o período de "adaptação" e inicia-se a era da fiscalização punitiva sobre o gerenciamento de riscos psicossociais.
Para gestores de mantenedoras e reitorias, a pergunta que precisa ser feita agora não é se a instituição realizou os “procedimentos técnicos” em dia. A pergunta real, que tira o sono de quem entende o cenário, é: o que os seus coordenadores, docentes e equipe técnico-administrativa dirão quando tiverem um canal seguro, anônimo e fiscalizado para falar?
Neste artigo, vamos explorar o conceito de "denúncias psicossociais" e por que a conformidade burocrática, sozinha, não salvará sua instituição de um passivo trabalhista e reputacional.
A ilusão da conformidade na gestão educacional
É comum que mantenedoras acreditem estar protegidas porque seus departamentos de RH e jurídico elaboraram manuais de conduta e atualizaram o PGR (Programa de Gerenciamento de Riscos). No papel, a instituição é um exemplo de compliance.
No entanto, a realidade do dia a dia acadêmico e administrativo muitas vezes conta outra história.
Quando falo em "denúncias psicossociais", refiro-me aos relatos que inevitavelmente surgirão sobre fatores invisíveis aos olhos da engenharia de segurança, mas devastadores para a saúde mental:
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A pressão desmedida por metas de matrícula sobre a equipe comercial;
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O assédio moral disfarçado de "cobrança por excelência acadêmica";
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A sobrecarga de docentes que acumulam funções administrativas sem amparo;
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Lideranças tóxicas que gerenciam pelo medo e não pelo engajamento.
Muitos gestores vivem a ilusão de que, se não há reclamações formais hoje, o ambiente é saudável. Eles se enganam. O silêncio atual muitas vezes é apenas falta de um canal seguro ou medo de retaliação. E isso tem data para acabar.
Maio de 2026: Quando a "ficha cair" (e a fiscalização chegar)
A grande mudança trazida pela atualização das normas e pela Lei 14.457 não é apenas a obrigatoriedade de prevenir o adoecimento mental, mas a instrumentalização da denúncia.
A partir de maio de 2026, com a fiscalização ativa e os canais de denúncia operando sob rigor legal, aquele gestor que ignorou o clima organizacional pode ter um choque de realidade.
Imagine o impacto para a imagem de uma IES — que vende formação humana e ética — ser autuada por promover um ambiente que adoece psicologicamente seus colaboradores.
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Fiscalizações baseadas em denúncias anônimas se tornarão frequentes;
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Afastamentos por transtornos mentais (B-91) terão nexo causal facilitado;
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A reputação da marca empregadora (Employer Branding) sofrerá abalos que campanhas de marketing não corrigem;
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A instituição vai “na contramão” de movimentos globais, como o ESG.
A instituição que deixar para a última hora, achando que "maquiar" o ambiente resolverá, será surpreendida. O risco psicossocial não se resolve com decreto; ele é reflexo da cultura.
Por que a burocracia não blinda sua instituição
Investir apenas em procedimentos burocráticos para atender à NR-1 é como tratar uma fratura exposta com um curativo adesivo. Pode esconder o problema visualmente, mas não cura a ferida.
Se a cultura organizacional da sua IES permite gritos, normaliza piadas maldosas, desrespeita horários de descanso, ou ignora a inteligência emocional nas relações de trabalho, o canal de denúncias não será uma ferramenta de gestão, mas uma arma apontada para a própria instituição.
As denúncias acontecerão, não porque faltou documentação, mas porque a gestão falhou em criar um ambiente de segurança psicológica.
O caminho: Cultura Organizacional e Inteligência Emocional
Como, então, evitar que sua instituição sofra com as denúncias de riscos psicossociais? A resposta não está em blindagem jurídica, mas em uma cultura emocionalmente saudável.
O único antídoto real contra os riscos psicossociais — e as denúncias como consequência — é garantir que a liderança, de coordenadores de curso a diretores, esteja preparada para uma gestão de pessoas adequada e alinhada com a prevenção psicossocial. É preciso investir massivamente na capacitação em Inteligência Emocional, para que a construção desta cultura organizacional resistente a fatores de riscos psicossociais seja possível. Não espere a notificação chegar.
E um dos pontos mais interessantes sobre essas ações é que investir na saúde mental das equipes não apenas evita denúncias, fiscalizações e multas, mas também reduz prejuízos com afastamentos médicos, melhora o relacionamento entre colaboradores, aumenta a produtividade e os resultados da organização. Ou seja: é um investimento estratégico, com retorno garantido.
Para entender como estruturar essa base sólida, convido você a conhecer o curso disponível no ABMES Academy: “Gestão de Riscos Psicossociais e Inteligência Emocional”, que orienta sobre as bases corretas para que a sua instituição esteja blindada e preparada para os desafios da NR-1.
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