Telma Crespo
Consultora da Hoper, atua na área acadêmica e de Modelagem Organizacional. Foi coordenadora de curso de Psicologia e atuou como ouvidora institucional em IES
Graduada em Psicologia e Mestre em Educação (Psicologia da Educação)
telma@hoper.com.br
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Na Consultoria Acadêmica, realizada pela Hoper, observamos em diversas instituições de ensino superior (IES) a falta de acompanhamento institucional quanto aos indicadores de aprendizagem. A maioria das IES se preocupa prioritariamente com indicadores administrativo-financeiros e não se atenta para a possibilidade de ter os próprios indicadores de aprendizagem dos alunos de forma longitudinal.
À área acadêmica cabe, além da promoção de ações avaliativas com foco no desempenho no ENADE, construir junto às coordenações de curso ferramentas de acompanhamento do efetivo aprendizado de cada aluno ao longo do tempo, desde o seu ingresso na IES.
O primeiro item a ser avaliado internamente é: cada componente curricular tem explicitadas as competências e habilidades que o próprio Projeto Pedagógico de Curso (PPC) pretende alcançar? Importa explicitar no PPC, para cada componente curricular, quais as habilidades estão correlacionadas às DCNs e aos objetivos do curso. Muitas vezes, não há essa clareza, o que impossibilita, invariavelmente, a criação dos indicadores de aprendizagem. Se a IES não sabe onde pretende chegar, não conseguirá avaliar o trajeto.
Num segundo momento, tendo essas competências claras, ou seja, onde queremos chegar em relação ao ensino de determinado curso (e em todos os seus componentes), passamos a ter condições de poder avaliar em diversas dimensões: o docente avaliando o desempenho dos alunos no conteúdo específico, o coordenador avaliando o conjunto de desempenhos dos alunos em todos os componentes curriculares, junto com o Colegiado de curso e o NDE, e a diretoria acadêmica avaliando o conjunto dos cursos junto aos seus coordenadores.
A informatização dos processos acadêmicos pode ser uma aliada do professor e da equipe acadêmica no registro e no acompanhamento desses dados. Mas, para além da ferramenta, o essencial é o acompanhamento humano sobre os dados que surgem: onde há maior aproveitamento geral? Há alguma disciplina ou competência específica que os alunos estão com dificuldade? Quais as hipóteses para essa dificuldade? E o principal: o que fazer com esse diagnóstico? Quais ações as coordenações e os docentes precisarão ter para facilitar o aprendizado e o desenvolvimento de determinada competência?
Quando a equipe acadêmica analisa os indicadores de aprendizagem dos alunos e começa a responder as questões que foram citadas acima, surgem respostas das quais podemos exemplificar como: a necessidade de revisão do conteúdo ministrado, a mudança de metodologia aplicada, a inserção de novo recurso didático, a criação de projetos integradores ou multidisciplinares, o incremento das políticas de atividades complementares e, em casos mais extremos, a revisão de determinado componente curricular dentro do PPC. Somente assim, o Projeto Pedagógico cumpre seu papel de direcionar o ensino e de se reinventar conforme as mudanças exigidas na atualidade.
Para embasar essas ações, o corpo docente e a área acadêmica como um todo precisam ter um embasamento andragógico, ou seja, compreender os mecanismos de aprendizagem do adulto para lançar mão de estratégias de ensino que alcancem os diversos estilos de aprendizagem. Um dos estudiosos, que fornece várias contribuições a essa área, é David Kolb, e sua Teoria da Aprendizagem Experiencial. Em linhas gerais, a teoria define aprendizagem como um processo no qual o conhecimento é construído através da compreensão e transformação da experiência. Esse modelo retrata dois modos de apreensão dialeticamente relacionados com a experiência: Experiência Concreta (EC) e Conceitos Abstratos (CA), além de dois modos dialeticamente relacionados à transformação da experiência: a Observação Reflexiva (OR) e a Experiência Ativa (EA). É uma abordagem integradora de teoria e prática.
Kolb afirma que esse processo acontece numa espiral ou ciclo de aprendizagem, onde o aprendente ativa todas essas dimensões: as experiências concretas são as bases para observações e reflexões. Essas reflexões são assimiladas e transformadas em conceitos abstratos, podendo surgir novas possibilidades de ações. Essas possibilidades são testadas e servem como guia para a criação de novas experiências, e assim sucessivamente. Cabe ao facilitador do aprendizado mediar esse caminho entre teoria e prática, para alcançar maior sentido e autonomia de aprendizagem do aluno adulto, nesse caso, cursando o ensino superior.
De que forma o docente pode acompanhar a trajetória de construção de conhecimento desse aluno adulto, que aprende de forma experiencial, desde o ingresso na IES até o momento de sua saída para o mercado de trabalho, integrando as teorias específicas e a prática necessária à sua formação profissional?
Voltamos para a importância de explicitação das competências desejadas em cada componente curricular e a importância de trabalhar a avaliação como processo que perpassa teoria e prática, incluindo instrumentos avaliativos contendo estudos de caso e situações-problema enfrentadas no ambiente profissional. Assim, todo o ciclo de apreensão e transformação da experiência pode realmente ser explorado, tendo como consequência um aprendizado significativo, com parâmetros de acompanhamento ao longo do tempo de formação.
Essa análise acadêmica está no cerne da questão do trabalho com indicadores de aprendizagem. Se o aprendizado alcançado pelo aluno é o foco principal da existência das instituições de ensino, esse debate sobre o aprendizado do adulto, o aprofundamento nos princípios da Andragogia e a implantação dos indicadores de aprendizagem merecem ganhar espaço e prioridade no planejamento e nas ações acadêmicas do ensino superior.




