Rainer Marinho da Costa
CAO Chief Academic Officer at ABC EDUCATION e Owner at RR Consultoria educacional legalGraduado e licenciado em História pela PUC SP (1988) e Mestre em História Social pela Universidade de São Paulo- USP (1995)Especialista em Direito Educacional pelo CEU-SP , Especialista em Gestão Empresarial e com atuação em Gestão Escolar
rainercosta@hotmail.com
***Para entender a evasão existente no ensino superior brasileiro, do ponto de vista institucional e/ou do curso, temos que circunstanciar seus vários aspectos[1]. Inicialmente devemos entender o que seria a efetiva evasão do ponto de vista estatístico, depois verificar quais as principais causas da sua ocorrência, demonstrando as diferenças quanto a classe social do aluno e quanto aos cursos nos quais ela ocorre, levando em consideração as diversos atividades envolvidas na retenção de alunos, sejam elas administrativas, financeiras ou acadêmicas, para ai apresentarmos possíveis medidas de atenuação do problema.
Em recente trabalho, a CMonteiro[2] Assessoria colocou duas possibilidades de entendimento da evasão institucional, já anteriormente levantadas por Silva Filho[3].
A primeira conta é bem simples “deve-se comparar o numero de alunos matriculados de um ano para outro, descontando ingressantes de formandos”[4], isso deve ser feito de semestre a semestre, curso a curso e pela IES como um todo, pois há grande oscilação desses percentuais, ocorrendo uma maior evasão nos semestres inicias e com diferenças gritantes por curso[5]. Por exemplo, em cursos mais baratos o índice é maior, caindo nos cursos mais caros. Por isso, mesmo havendo uma política institucional macro para evitar a evasão de alunos, essa política deve considerar as especificidades das suas causas.
Nessa sistemática, segundo Monteiro, a evasão no Brasil ficou em 9,2% no ano de 2000 e foi i à 13,2% em 2009.
A segunda maneira apontada por Monteiro é o seguinte : tomar como ponto de partida o numero de alunos no ano de ingresso e comparar com o numero de concluintes dessas turmas após 48 meses[6].
Nessa sistemática percebemos que durante o período de 2000 a 2009 o percentual de evasão no Brasil girou em torno de 42%.
Numa recente palestra Rodrigo Capelato[7] analisou ao Censo de 2011, e apresentou os dados referentes a evasão no estado de São Paulo e na RMSP aprofundando essa analise em alguns curso.
Apesar de não definir qual a sistemática utilizada para a evasão, ele chegou à uma taxa de 18,5% para 2001 e de 17,9% para 2009, acentuando que, no caso paulista, esse índice é menor, e que o é maior na capital e menor no anterior, o que talvez seja explicado pela grande concentração de IES no município o que gera uma migração maior ente elas.
Um dado importante apresentado é em relação ao comportamento da classe “C” quanto a evasão, pois da mesma forma que essa classe social incrementou o crescimento de matriculas é ela que tem o maior índice de evasão. Pelos dados da CMonteiro 58% dos matriculados[8] no Brasil são oriundos desse seguimento, e segundo CAPELATO.R[9] o curso de Administração - na faixa de valor de R$ 600,00 reais -, foi esta classe responsável por um crescimento da ordem de 120% enquanto que as classes B e A, nos cursos de maior valor, responderam por um crescimento que variou de 20% a 40%. Já, no caso da evasão, as taxas das classes A e B variaram entre 22% e 25%, enquanto a da classe C chegou a 29%.
Por outro lado, não é possível generalizar. Os estudos revelaram que, em se tratando do curso de Direito, com valor de mensalidade de R$600,00, a classe C foi responsável por um crescimento de 250% de matriculas enquanto que a taxa de evasão ficou em torno de 20 % sendo que a evasão da classe B, para o mesmo curso, ficou em torno de 25%.
Uma outra indicação sobre o comportamento geral da evasão ‘e um trabalho divulgado em 2007, elaborado pelo Instituto Lobo para o Desenvolvimento da Educação, da Ciência e da Tecnologia[10], apresentou as tabelas abaixo:
Os trabalhos consultados indicam que a evasão não pode ser justificada simplesmente por motivos financeiros. Há que se ampliar o olhar sobre o fenômeno. Para tanto é importante fazer uma analise minuciosa que inclui não somente ouvir o aluno evadido, mas acompanhar a taxa de evasão no tempo, comparando com outras variáveis, incluindo: tipo mudança de matriz curricular, titulação de professores, taxa de evasão disciplina/professor (corelacionando professor com a evasão), aumento de mensalidades, mudança de coordenação, mudança de emprego e/ou de domicílio do aluno, etc.
Não existe uma única causa que provoque a evasão. Ela é uma conjuminação de fatores que pode ter um elemento desencadeador. Raramente existe um único motivo, pois mesmo o desemprego não ocasiona o desligamento imediato por parte do aluno. Se houver uma satisfação com o curso, com a IES, o aluno faz de tudo para continuar seus estudos. É conjunto de fatores que, de forma agregada, fomenta a evasão.
Esses fatores podem ser divididos em dois pontos críticos que, quando ocorrem de forma simultânea, podem ocasionar a evasão, mas que de forma isolada não a ocasionaria: de um lado pontos críticos da própria IES e, de outro, pontos críticos relacionados ao aluno.
I- IES
a) Infraestrutura da IES como um todo, prédios, salas de aula, áreas sociais, biblioteca, etc.;
b) Infraestrutura do curso (tipo falta de laboratórios);
c) Atendimento prestado ao aluno seja pelo corpo docente, coordenação ou administração;
d) Processos e trâmites burocráticos,
e) Lentidão do atendimento às demandas, sejam acadêmicas ou administrativas;
f) Canais de comunicação com o aluno com a IES;
g) Qualidade do(s) docente(s), aqui entendida não como titulação, mas a didática, acessibilidade e clareza do docente em relação ao aluno;
h) Matriz curricular rígida que não atenda ao perfil esperado pelo mercado;
i) Imagem da IES percebida pela sociedade.
II - Aluno
a) A compreensão da pertinência da matriz curricular;
b) A incompatibilidade de horário;
c) Desempenho acadêmico insatisfatório seja em função de bagagem previa ou motivacional;
d) Não identificação com o curso;
e) A própria situação financeira do aluno;
f) Satisfação entre o que lhe foi oferecido pelas ações de marketing no momento do ingresso, sem status ou infraestrutura.
Num recente texto, Marinho[11] demonstra a importância dos processos de Avaliação Institucional não serem entendidos somente como mais um procedimento burocrático do MEC, mas que devam ser uma ferramenta de avaliação institucional real para um melhor Planejamento Estratégico e assim identificar os pontos de gargalos que poderiam provocar a evasão. Lembra que os procedimentos da CPA não ouvem somente os alunos, mas sim a todos os envolvidos. E como dizia, a Qualidade Total preconizada pelo MEC para a CPA envolver ouvir tanto os clientes externos - alunos, como os clientes internos - professores e pessoal administrativo. Há que se incluir enquanto clientes externos a sociedade, pois é ela quem faz a avaliação da imagem da IES.
Como vimos temos na questão da evasão que pensar a IES no tripé que a sustenta:
a) Marketing;
b) Acadêmico;
c) Administrativo;
Em outro artigo[12], Marinho argumenta que uma proposta diferenciada de matriz curricular estruturada de uma forma mais flexível, modula, com a criação de eixos aglutinadores de disciplinas[13] e com entradas múltiplas no ano poderia não só combater a evasão como, também, a ociosidade de vagas.
A sua proposta para combater a evasão baseia-se na premissa que um aluno nessa matriz tem condições mais fáceis de migrar de curso, aproveitando ao máximo as disciplinas já cursadas anteriormente. Segundo uma pesquisa realisado pela USP e citada por CMonterio[14] isto seria muito interessante pois um dos maiores motivos da evasão seria a não identificação pelo aluno do curso escolhido. Assim um aluno que cursa um ou dois semestres teria condições de ir para outro curso sem ter perda de tempo e/ou dinheiro. Acentuasse que a maior taxa de evasão ocorre nesses períodos.
A ociosidade de vagas com isso diminui, pois as disciplinas são como os vagões de um trem, que seria o curso, no qual o aluno pode subir em qualquer vagão. A cada parada sai um certo número de alunos,mas como o curso não é seriado, pode também subir um certo numero de alunos, desta forma o trem sempre se mantém cheio podendo ate aumentar o numero no correr do tempo.
Para efetivar um controle da evasão também é importante implantar um processo sistêmico de acompanhamento dos gargalos, o que um bom suporte de TDI tem condições de elaborar, focando em alguns pontos essenciais:
a) Acompanhamento de inadimplência pela sua frequência e duração;
b) Acompanhamento de rendimento acadêmico;
c) Acompanhamento de tempo de respostas de demandas;
d) Acompanhamento de utilização dos canais de comunicação para reclamação;
e) Acompanhamento dos comentários nas redes sociais;
f) Acompanhamento das correlações desses itens acima com a Avaliação Institucional
g) Criação de enquetes on line sobre os cursos e disciplinas no corres do ano.
Este sistema de acompanhamento tem que ser elaborado de forma que os gestores possam em real time a possibilidade saber onde estariam ocorrendo o problema, para esse e acompanhamento deveria ser um tipo de CMR, no qual cada vez que o aluno procurasse a gestão da IES, seja na central de atendimento ou na coordenação de curso, seria protocolada uma observação no prontuário eletrônico.
Alem das medidas apontadas é necessário focar na formação dos professores para o magistério no ensino superior, tento em vista por uma questão de vivência própria os docentes tendem a reproduzirem praticas dos quais foram objetos com alunos, se esquecendo que em função da nova realidade do ensino superior os alunos não são mais os mesmos, seja pelo perfil sócio econômico, seja pelas idade, seja pelo acesso a informação e que assim a didática agora tem que ser multimedida e focada numa perspectiva de construção do conhecimento e não de transmissão de informação.
Segundo VADAS, P.[15] deveriam ser tomadas as seguintes providências:
“1) a total sintonização com suas demandas (alunos, empresas, sociedade);
2) melhorar seus processos administrativos;
3) aprimorar seus métodos de ensino/aprendizado;
4) incentivar uma convivência universitária ampla e satisfatória;
5) possibilitar a relevância dos seus produtos;
6) aprimorar seus critérios de avaliação; e
7) otimizar seus meios de comunicação com seus mercados (internos e externos), melhorando sua imagem.
Para que as instituições de ensino/aprendizado possam otimizar suas atuações, elas necessitam:
1) Manter um extenso e profundo banco de dados referente às varias demandas (pessoais, empresariais, e sociais);
2) Formar parcerias com seus fornecedores, sua comunidade interna, sua comunidade externa, suas empresas/clientes, e os meios de comunicação.
3) Incorporar o estado da arte das tecnologias educacionais e de informática.
4) Melhorar seus processos, facilitando e agilizando seus fluxos burocráticos, e melhorando seus sistemas de controle, avaliação, e auditoria.
5) Promover sistemas de motivação, reconhecimento, e incentivos com os participantes das suas várias atividades. E
6) Manter uma posição de alerta, reciclando, aprimorando, e atualizando, constantemente, seus recursos”.
Finalizando, não se pode esquecer que a IES oferece produtos específicos com características próprias e que o aluno pode, muitas vezes, buscar algo completamente diferente do que ela oferece. Neste caso, sempre haverá evasão dado que o produto oferecido não corresponde ao que o aluno quer. O importante é ouvir atentamente o aluno, estar a par das necessidades educacionais da comunidade, e buscar, sempre, atender as demandas educacionais com o mais elevado grau de qualidade, tanto acadêmico como administrativo.





