Wanda Camargo
Educadora e presidente da Comissão do Processo Seletivo das Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil
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A evasão escolar constitui-se, em todos os níveis de ensino, um dos graves problemas educacionais brasileiros. Sua gênese e efeitos maléficos para o desenvolvimento do país tem sido constante objeto de estudo, tanto no ensino superior quanto por parte de pesquisadores independentes, mas parecemos distantes de uma solução.
Em relação ao acesso à educação – e, infelizmente, em outros quesitos também –, nem todos os cidadãos têm tido acesso ao garantido constitucionalmente e a evasão escolar tem tomado dimensão cada vez maior. Segundo dados do INEP/IBGE, em 2007 no Brasil apenas 5% dos alunos que entraram na 1ª série do ensino fundamental concluíram a 8ª série. No ensino médio, o abandono chegou a mais de 12% ao ano.
A questão do fracasso escolar passa por vários aspectos: o aprendizado, a escola, os docentes, as políticas públicas, a desigualdade social e o aluno. Compreender esses fatos é urgente, e resolvê-los é de suma importância para o desenvolvimento real do país.
A família ocupa lugar central nessa questão, ao lado da escola. Famílias com baixo nível de escolaridade veem na escola uma possibilidade de melhora material e social para seus filhos. Esta crença é forte ainda quando pais se veem obrigados a tirar seus filhos da escola – a exclusão pode acontecer em função da obrigação do trabalho para sustento próprio e muitas vezes da família, o que rapidamente coloca o jovem em situação de exaustão, desmotivando-o com a escola. Este é um aspecto que tem sido observado mais na população masculina, em várias faixas etárias. As estudantes muitas vezes se afastam pela gravidez adolescente, um problema de saúde pública assim como a má alimentação, a qual influi diretamente no mau desempenho escolar, gerando uma falta de estímulo.
A própria escola, embora não seja a única responsável, poderia ser mais efetiva oferecendo metodologias mais eficientes, professores mais qualificados e uma estrutura adequada. Evidentemente, tanto as instituições públicas quanto privadas têm dificuldades na implantação de corretas políticas educacionais, ou na alocação de recursos, num país severamente tributado e com graves problemas de desvios de verbas.
Dentro da escola, o professor é muitas vezes responsabilizado pela evasão e repetência. Alguns teóricos analisam que o professor teria más expectativas quanto aos seus alunos, considerando-os despreparados, contribuindo para a chamada “profecia que se autorrealiza”. Evidentemente, em escolas com alunos de diferentes níveis socioeconômicos, isso pode ocorrer com maior intensidade devido à preferência, nem sempre consciente, dos professores por alunos mais próximos a eles em termos culturais, ou seja, que compartilham códigos sociais, mesmo que apenas subentendidos. A partir daí, responsabilizar apenas o docente jamais resolverá a questão, que transcende e muito a esfera escolar.
Todos esses fatores são reais e devem ser analisados com critério, evitando acoimar o aluno pelo seu fracasso escolar, por ser pobre, mal alimentado, desmotivado, em condições de desvantagem cultural; ou então apontar o professor, esquecendo que uma gestão eficiente do sistema educacional depende de ações globais e muita vontade política.




