Valmor Bolan
Doutor em Sociologia e Presidente da Conap/Mec (Comissão Nacional de Acompanhamento e Controle Social do Prouni)
***Aula não é entretenimento, exige disciplina, concentração, esforço, sacrifício até, pois que é um processo que visa lapidar a pessoa, desenvolvê-la, torná-la sempre melhor como pessoa, por isso, o professor não pode ser apenas um dador de aulas, mas um formador. Este conceito muitas vezes questionado por correntes ultraliberais deixou de lado a função educadora da escola, que se tornou vítima de um tecnicismo que dá primazia à informação, no aspecto quantitativo, em detrimento da qualidade do conhecimento adquirido. O professor não é um animador de auditório, mas um educador. É disso que precisamos retomar enquanto valor, porque pelo que se vê por aí hoje em dia, há muitas escolas que querem oferecer aos alunos e pais dos estudantes um cardápio de professores-show, ótimos contadores de piada e de gracejos, simpáticos, que sabem entreter uma sala de aula. E para por aí. No final das contas, não fica nada de conteúdo, e quem sai prejudicado com isso são os alunos, que acabam sendo logrados pela instituição que se propôs a educar. Quando é que afinal começaremos a acabar com a farsa daqueles que se aproveitam do lema "finge que sabe, finge que aprende". É por isso que mais e mais alunos vão perdendo a capacidade criativa e crítica, não sabem nem ao menos fazer uma redação com começo, meio e fim, analisar e interpretar um texto, distinguir conceitos e influências ideológicas, fazer comparações, etc. Tudo isso preocupa, e temos que fazer alguma coisa.
Precisamos de uma reforma educacional que leve em conta, sim, os conteúdos, as abordagens, os enfoques, a metodologia de ensino. Não existe aprendizado sem disciplina, esforço, concentração. Dedicação mesmo. Antes, havia ditados, sim. E depois o professor exigia um comentário do aluno. Ele tinha de saber escrever certo, ter uma boa caligrafia e ortografia. E com uma gramática correta, era solicitado do estudante um texto reflexivo. Era preciso mostrar que ele tinha entendido os conceitos-chaves do texto, e tirar não apenas uma conclusão da mensagem, mas também era sugerido que opinasse, isto é, que desse um parecer sobre o que pensava acerca daquilo que era exposto. Aí sim, o aluno estava aprovado. Hoje, prevalece o esquema fácil de entrar em sala de aula, contar piadas darem-se risadas, ser atraente; depois se pede para fazer trabalhos em grupos, pesquisas pela Internet, no processo do "copiar, colar". Nunca ficou tão fácil fazer trabalhos escolares depois da invenção do Google. As notas são dadas pelo aspecto estético do trabalho, e ponto final. Ainda antes os grupos expunham para a classe o que haviam pesquisado, hoje, em muitos casos, as pesquisas são feitas, entregues e pronto. Dá-se a nota pela cara do trabalho. Ficou também muito mais fácil avaliar. As melhores notas ficam para os trabalhos mais bonitos esteticamente, com impressos coloridos, como se fossem papéis de presentes.
Temos que rever estes procedimentos. A Internet é uma ferramenta tecnológica que pode ajudar e muito, mas não podemos nos acomodar a estas facilidades. Não é assim que as coisas funcionam na vida real. O problema é que se não houver ensino-aprendizagem, teremos apenas mão-de-obra barata no mercado de trabalho. Hoje, há muitas empresas esperando profissionais qualificados para contratar, e reprovam candidatos que não sabem ler uma reportagem de jornal, nem emitir opinião pessoal sobre alguma questão relevante no debate nacional. Muitos não sabem dizer nem em quem votaram nas últimas eleições. É grave tudo isso, requer de nós atitudes, pois não pode falar mais alto a indiferença, nem o cinismo. Se quisermos um Brasil próspero, temos que começar a mexer nisso, a mudar estas coisas, e para melhor. Está aí um desafio. Tomara que saibamos encontrar soluções para esta complexa problemática do tempo atual.




