Wanda Camargo
Educadora e presidente da Comissão do Processo Seletivo das Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil
***O dia oito de setembro marca o Dia Internacional da Alfabetização. A data não tem nenhum aspecto comemorativo, e sim de alerta para a enorme gravidade e dimensão do problema do analfabetismo: estima-se que no mundo inteiro o número de jovens e adultos analfabetos esteja próximo de um bilhão de pessoas.
No Brasil, segundo pesquisa nacional realizada pelo IBGE em 2006, aproximadamente 11% dos entrevistados declarou-se analfabeto, índice que sobe para mais de 25% nas zonas rurais; estima-se que a população de analfabetos funcionais, aquelas pessoas que leem, mas não interpretam o que leram, chegue perto de trinta milhões.
Em 2003 a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura – UNESCO, lançou a “Década das Nações Unidas para a Alfabetização”, visando aumentar os níveis de alfabetismo, como tema de interesse de todos, e parte de esforços para a paz e intercambio num mundo cada vez mais globalizado. Tal iniciativa está inserida no contexto da erradicação da pobreza dos “Objetivos do Milênio”, num reconhecimento da absoluta correlação de analfabetismo e pobreza.
Neste ano a UNESCO estabeleceu para a data o tema Alfabetização e Paz, salientando que “a alfabetização acelera o desenvolvimento e é uma força em prol da paz”.
Alfabetização é um processo muito mais amplo do que o mero aprendizado das letras e aquisição da habilidade de codifica-las e decodifica-las, segundo determinadas regras, para a comunicação. Inclui o desenvolvimento da capacidade de compreender, interpretar, refletir, criticar, organizar, estabelecer novos significados naquilo que se lê e se escreve, expandindo a compreensão do mundo, dos outros e de si mesmo. Começa no que Paulo Freire chamava “leitura de mundo”, o conjunto de experiências do indivíduo desde antes de alfabetizado, considerando suas condições físicas, biológicas, familiares e sociais.
A pessoa plenamente alfabetizada tem maior autonomia e capacidade para buscar informações e fazer escolhas para sua vida; pode participar com maior eficácia na sua comunidade e exercer seus direitos democráticos com maior propriedade; tem maior compreensão de seus semelhantes, de sua identidade cultural e de sua diversidade. Assumiu-se hoje até outra expressão para designar esta possibilidade: letramento, enfatizando que não se trata apenas de decifrar sinais gráficos, e sim de ter a possibilidade efetiva de interpretar o mundo e a cultura do meio em que se vive.
Alfabetização é uma grande preocupação de educadores do mundo inteiro, muitos foram os métodos desenvolvidos para esta finalidade. O que há de certeza é que várias metodologias parecem funcionar, desde que para aplicá-las haja um bom professor, alguém que respeite a história e o conhecimento prévio do aluno, gostando dele o suficiente para levá-lo a um novo patamar de percepção.
Um mundo em paz depende também da adesão comunitária a um projeto educacional, da valorização do magistério, e do estabelecimento de políticas públicas para a melhoria da formação e desempenho profissional dos homens e mulheres dispostos a enfrentar o desafio de reduzir esta chaga social.




