Profª Drª Waverli Maia Matarazzo-Neuberger*
Coordenadora do Núcleo de Sustentabilidade e do Programa Metodista Sustentável da Universidade Metodista de São Paulo
***Projete o futuro que quiser: nele certamente uma das questões presentes e prementes será, como já é, a sustentabilidade. Com uma cultura cada vez mais urbanizada, uma população de 7 bilhões de pessoas e a grave herança de contaminação e comportamentos adquiridos na era industrial, que ora se encerra, será que teremos como fazer frente aos grandes desafios que o desenvolvimento sustentável representa? Será que a educação formal, porta de acesso para a vida profissional em nossa cultura, nos prepara para este futuro? E as nossas universidades, com seus currículos extensos, prolixos e fragmentados?
O que sabemos é que, na prática, ainda estamos longe de adotar atitudes que contribua para a saúde e o bom funcionamento dos sistemas dos quais dependemos, bem como de criar as condições necessárias para que eles se mantenham e continuem a nos sustentar. Em geral, não relacionamos o que sabemos ao que fazemos, e quando fazemos não nos responsabilizamos pelos resultados. Essa fragmentação é uma herança marcante de nossa cultura e nos leva a separar conhecimento de atitudes e de ética. E o resultado disso, como pontua Otto Scharmer, é que “criamos coletivamente resultados que ninguém deseja”.
Esse modelo é replicado em nossas escolas e, por isso, é importante que a mudança para um modelo de vida sustentável comece por elas. Para desenvolver em jovens e adultos a compreensão individual e coletiva necessária a criar um futuro sustentável, precisamos identificar limites inegociáveis dos sistemas dos quais dependemos e reconhecer que não podemos contrair débitos ambientais, sociais e econômicos que não possam ser quitados pela nossa geração. Precisamos entender a dinâmica natural dos locais em que vivemos e cultivar a manutenção de uma base local de recursos, da qual todos dependam e pela qual todos sejam responsáveis. Devemos também reconciliar os conflitos que existem entre nossos os direitos individuais e a nossa responsabilidade, enquanto cidadãos, com a sobrevivência e o direito de todos.
Universidades são pontos chave para começarmos esta transformação. Historicamente são centros de difusão de novas ideias e mudanças. Devem ser modelos para a sociedade. Sua missão e suas responsabilidades para definir cenários na educação as obrigam a uma atualização e avaliação constante, condição para criar a necessária abertura institucional para a sustentabilidade. São também especialmente sensíveis as demandas do mercado de trabalho na formação de profissionais. Universidades transcendem fronteiras de tempo e espaço e criam conexões que ultrapassam barreiras intelectuais e geográficas. Por outro lado, a sustentabilidade oferece as universidades uma oportunidade de confrontar seus valores essenciais, práticas, pedagogia, forma como usa recursos e relações comunitárias. Pode ser catalítica rumo a uma mudança institucional e a uma transição para novas formas de conhecimento.
Minha experiência com educação para sustentabilidade no ensino superior, ao longo do desenvolvimento e implantação do Programa Metodista Sustentável, permite-me afirmar que a mudança é possível e necessária. Sustentabilidade motiva alunos e professores a pensarem fora da caixa, a buscarem conexões entre conhecimento, responsabilidade individual e coletiva e ações, a enxergar nossos modelos mentais e seus limites e a ousar buscar novos caminhos. É uma prática que enriquece a aprendizagem, estimulando o compartilhamento democrático, porque nasce de uma busca comum de todos e para a qual ainda temos poucas respostas. É necessariamente transversal e não sobrevive isolada dentro de um currículo compartimentado, como conhecemos, porque precisa de aportes científicos, sociais, econômicos, morais e espirituais, que interligados criam as soluções sistêmicas necessárias. Para trocar experiências e compreender mais sobre este projeto, realizarei a palestra: “Criando e implantando um programa institucional transversal de sustentabilidade – Case Metodista Sustentável”, no dia 8 de novembro de 2012, durante o Seminário: Sustentabilidade nas Instituições de Ensino.
Ainda começamos a caminhar nessa área e o espaço para que as universidades possam criar seus modelos é muito grande. Neste sentido vejo com bons olhos a decisão do Ministério de Educação que, em dezembro de 2011, aprovou e disponibilizou o novo Instrumento de Avaliação de Cursos de Graduação, que prevê a obrigatoriedade de Políticas de Educação Ambiental (Lei N. 9.795, de 27 de abril de 1999 e Decreto N. 4.281 de 25 de junho de 2002), inseridas nas disciplinas e atividades curriculares dos cursos de modo transversal, contínuo e permanente. Todos que trabalham com educação no Brasil sabem da força deste instrumento em induzir mudanças. Só espero que, neste caso, as universidades realmente assumam seu papel na criação de caminhos reais e profissionais comprometidos, conscientes do papel que poderão assim desempenhar em um futuro sustentável.
* Profª Drª Waverli Maia Matarazzo-Neuberger ministrará a palestra: “Criando e implantando um programa institucional transversal de sustentabilidade – Case Metodista Sustentável”, no dia 8 de novembro de 2012, durante o Seminário: Sustentabilidade nas Instituições de Ensino. O evento será realizado no Hotel Park Inn Ibirapuera, em São Paulo/SP. Para mais informações acesse: www.humus.com.br/eventos/SUSTENTABILIDADE/.




