Miriam Duailibi
Presidente do Ecoar, professora convidada do Boston Institute e da Universidade de York
Representa a sociedade civil brasileira no Conselho Diretor do Centro de Saberes e Cuidados Socioambientais da Bacia do Prata
***Um dos maiores desafios que a humanidade precisa enfrentar neste século é responder a questão de como vamos viver à luz do fato de que todos os seres vivos, humanos e não humanos, estão inexoravelmente entrelaçados em uma única e indivisível comunidade de vida que depende, para sua sobrevivência, dos recursos finitos da Natureza.
Como vamos nos relacionar com o meio ambiente neste tempo em que a ciência mais avançada vem demonstrando que o conhecimento, os saberes e fazeres das populações tradicionais são mais acurados e sustentáveis do que a ciência cartesiana na qual nosso modelo civilizatório, fragmentado, excludente e predatório, está alicerçado?
Como vamos lidar com o atual estado do mundo onde o aquecimento global, a escassez de água doce de boa qualidade, a perda acentuada de biodiversidade, a desertificação, a subida do nível dos mares, o esgotamento de recursos pesqueiros, as mudanças nas estações do ano com graves perdas nas safras agrícolas, os eventos climáticos extremos se aliam a um crescimento demográfico extraordinário?
Como vamos educar nossas crianças e jovens sabendo que nas próximas décadas a sobrevivência da humanidade vai depender da nossa ecoalfabetização, ou seja, de nossa habilidade de extrair conhecimento da natureza, entender os princípios básicos da ecologia e de viver de acordo com eles?
Para tanto, antes de mais nada, precisamos compreender os complexos e intrincados padrões de organização dos ecossistemas que permitiram manter a vida com equilíbrio há mais de 04 bilhões de anos no Planeta. Perceber a profunda e essencial simbiose entre a vida e o meio ambiente, reconhecer os princípios precisos do funcionamento da natureza e redesenhar nossas organizações sociais de maneira a não afetarem o equilíbrio cósmico tecido há bilhões de anos.
O termo sustentabilidade tem se popularizado nos anos mais recentes graças à divulgação massiva dos relatórios científicos dos organismos internacionais dedicados aos estudos sobre as mudanças ambientais globais e ao volume e intensidade de desastres naturais que vem amiúde ocorrendo em todo o mundo
Em todos os cantos do Planeta discute-se economia verde, agricultura orgânica, fontes energéticas renováveis, transporte limpo, desenvolvimento sustentável.
No entanto, só é possível falarmos em sustentabilidade se compreendermos que esta apresenta várias dimensões - ambiental, social, econômica, cultural e ética - e que todas precisam ser contempladas ao mesmo tempo e com igual prioridade.
Tarefa hercúlea, uma vez que o modelo de desenvolvimento adotado pelo mundo moderno prioriza lucro imediato, crescimento sem limite, consumo sem medida. Será preciso reformular o modo com que vimos ocupando este Planeta. Adequar a infraestrutura construída, diminuir seus impactos, mudar nosso modo de produção, consumo, descarte e locomoção.
As mudanças requeridas são enormes e extremamente difíceis uma vez que demandam que alteremos nosso comportamento, práticas e hábitos. O papel dos educadores e educadoras nesta transição rumo a sociedades sustentáveis é essencial, pois se trata de formar pessoas com a capacidade de pensar em termos de contexto, padrões, redes. E é exatamente sobre este tema que tratarei durante o seminário: Sustentabilidade nas Instituições de Ensino, a ser realizado em São Paulo/SP, no dia 08/11/12, com a palestra: “A responsabilidade dos educadores na construção de um paradigma de sustentabilidade”.
Os sistemas formais de ensino, em grande parte dos países, ainda estão baseados na ciência e no conhecimento do século XIX dificultando a promoção das mudanças desejadas, porém aumentando ainda mais a responsabilidade dos educadores e educadoras a chamar para a si a tarefa de promover as reformas necessárias, sensibilizar e formar crianças e jovens para os novos tempos que se apresentam.
É preciso trabalhar em nós mesmos e em nossos alunos a habilidade de pensar sistemicamente, de atuar em rede, de forma crítica e analítica fomentando, em cada ser humano, o sentido de pertencer e ser responsável pela manutenção da complexa e maravilhosa Teia da Vida.
A Educação para Sustentabilidade é um processo continuado, permanente, com estratégias específicas que incluem a compreensão dos princípios ecológicos e do pensamento sistêmico e o questionamento do modelo de desenvolvimento que adotamos, sobretudo dos padrões insustentáveis de consumo.
Educar para uma vida sustentável significa transformar o contexto escolar em currículo, permear cada atividade, cada projeto, com valores éticos e sustentáveis, como cooperação, respeito à diversidade, responsabilidade com o meio ambiente.
Escolas de todos os níveis, em todo o Planeta, vêm se transformando no sentido de procurar adequar suas instalações físicas, transformar seus currículos, mudar seu modo de gestão buscando desempenhar um papel cada vez mais decisivo na formação da gerações cuja missão primeira será a de prosseguir transformando o paradigma vigente em um paradigma de sustentabilidade.
A Educação para uma Vida Sustentável deve objetivar e ser perpassada pela intencionalidade de promoção e desenvolvimento de conhecimentos, valores, atitudes, comportamentos e habilidades que contribuam para a sobrevivência, qualidade de vida e emancipação humana.
Pela primeira vez, na história recente da humanidade, um desafio de tal proporção se coloca a uma geração. Seu enfrentamento pressupõe o envolvimento de todos os centros de poder da sociedade contemporânea, os governos, as empresas, a sociedade civil, a mídia.
Porém, cabe aos educadores e educadoras, formais e não formais, transformar cada espaço, cada tempo, em processos de aprendizagem permanente de uma nova sociedade, mais justa, equitativa e sustentável.
* Ministrará a palestra: “A responsabilidade dos educadores na construção de um paradigma de sustentabilidade”, no dia 8 de novembro de 2012, durante o Seminário: Sustentabilidade nas Instituições de Ensino. O evento será realizado no Hotel Park Inn Ibirapuera, em São Paulo/SP e para mais informações acesse: www.humus.com.br/eventos/SUSTENTABILIDADE/.




