Luiz Martins Jornalista, professor da Faculdade de Comunicação da UnB, onde coordena o projeto de extensão SOS-Imprensa ***Epa! Epa! Como exclamava O Pasquim nos velhos tempos de lutas pelas liberdades! Quer dizer que um Portal de uma instituição pratica jornalismo? E não apenas informações do tipo “chapa branca”?
Por meio de reportagem do Portal da UnB (leia aqui a matéria) fiquei sabendo do pagamento de jetons aos integrantes do comando de greve e das sucessivas reações e acusações, entre outras, de obstrução às liberdades sindicais, intimidações e tal. Mas, e por quê? Por que veio a público uma informação de interesse público?
A julgar pelas reações, a Secretaria de Comunicação da UnB teria desservido a dois senhores: ao reitor, que teve os funcionários da UnB entre as suas bases de campanha; e aos membros do Comando de Greve do Sintfub, alvejados, digamos, por um “fogo amigo”. Mas prestou um bom serviço ao público, que em matéria de dinheiro público não pode ser o último a saber. Calma, já há muito tempo que coisa pública não é somente aquela mantida sob a guarda do Estado, haja vista, que a definição por excelência de Terceiro Setor, aquele que é privado, mas porém público: nas suas finalidades – públicas, porém não-lucrativas.
Sindicato é um ente público, embora não seja nem estatal, nem governamental, nem privado. Logicamente, seus atos, fatos e gastos têm de ter publicidade. E, vou mais além. Os sindicatos até deveriam reivindicar espaços de mídia de utilidade pública nas rádios e tevês, que são concessões públicas. Em alguns países – Portugal entre eles – , isso se chama “direito de antena”. Equivale ao poder de transmitir gratuitamente informações de interesse público. Inversamente, no entanto, jamais um ente público deve omitir do conhecimento público informações de natureza pública, ainda mais envolvendo gastos com dinheiro que não é privado.
Desse episódio fica também um aprendizado, na teoria já incorporada às melhores literaturas sobre Comunicação Organizacional: é um equívoco reter informações de interesse público, mesmo que não se trate de uma omissão premeditada. Fatalmente, essa informação ou vazará ou será divulgada por canais não institucionais, em ambos os casos com riscos de enfoques ou distorções indesejados. O resultado é uma crise gratuita, uma espécie de luxo negativo que poderia ser evitado com uma regra simples: melhor a transparência do que o mal entendido sobre o oculto. Ou ainda: a realidade é sempre melhor do que o fantasma que se pinta a partir dela.
Ok! Em matéria de “camaradagem”, teria sido melhor que a Secom da UnB tivesse contactado o Comando de Greve e avisado: “Olha, não seria melhor vocês publicarem a tabela dos jetons e quem os recebeu durante a greve?”. Ocorre que em matéria de coisa pública também não se deve fazer acordo de compadres, pois o compromisso maior é com o cidadão. E num Estado republicano, plural e democrático, a equação perfeita é a soma do direito de saber com a obrigação de informar (por parte de quem lida com valores públicos). A publicação de tal planilha, informando do acúmulo de jetons de 25 reais per capita possivelmente passaria em branco, pois não é propriamente atrás desse tipo de pérola que a imprensa comercial está em busca. Já uma lixeira de 900 reais, bem aí é outra história. Isso acaba com mandato, reputação e carreira de qualquer um.
Num aspecto, a reportagem do Portal da UnB pode ter errado: se não tiver observado a chamada “lei dos dois lados”, já que é dever de quem denuncia ouvir o denunciado e lhe fornecer o universal direito de defesa. Se é que há algo errado, pois se receber jetom é prerrogativa de Comando de Greve, então, qual é o problema e qual a razão do barulho? E depois, se a informação for verdadeira, restaria ao Sintfub tão somente um formal esclarecimento. E pronto. Nada mais do que o estrito cumprimento do dever, para com os pares, para com a comunidade acadêmica e para com o público em geral. A defensiva e o ressentimento apenas aumentam o suspense e a fumaça em torno de algo que já deveria ter nascido transparente. Além do mais, o Sintfub tem todo o direito ao contraditório. E ainda mais, em se tratando de um Portal de um órgão público. O público agradecerá.
Entretanto, a reação do Sindicato foi no sentido de que “O Sintfub é uma entidade autônoma e independente e não tem o dever de prestar contas de seus gastos a ninguém além de sua base [...]”. Também considerou a reportagem do Portal da UnB como uma “publicação criminosa e descabida”. E para a “administração da UnB” sobrou o repto de “criminalizar o movimento sindical dos servidores técnico-administrativos”. Alguma coisa está errada, pois o mesmo reitor tem merecido de opositores o apelido de “Zé do MST”. Errada estaria, então, a Secom. Quem manda fazer jornalismo?




