Prof. Ms. Dyjalma Antônio Bassoli
Doutorando em Engenharia de Produção. MBA em Administração Acadêmica e Universitária
Coord. Acadêmico-Administrativo de EAD da Universidade de Ribeirão Preto
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Aprovados no processo seletivo. E agora, como atender estudantes tão diversos?Nestes mais de 20 anos no ensino superior, frequentando as salas e os corredores das universidades e congressos da área, com alguma frequência ouço falas que parecem conter uma verdade absoluta e onde nada pode ser feito. Segue uma destas habituais e altamente complexas. Saudosos de um tempo onde todas as IES tinham uma demanda de estudantes superior às vagas ofertadas, muitos docentes lamentam pela variação na qualidade dos estudantes que entram em determinado curso. Ingressam alguns que tem excelente formação, e que por muito pouco deixaram de ser aprovados em uma IES pública, estudantes com formação bem mais modesta (mas que intencionam concretamente obter a formação pretendida) e até aqueles que não ‘zeraram’ no processo de seleção da universidade, visto que nem todas as vagas são preenchidas, e que nestes casos passarão a frequentar a mesma sala de aula. Se nos bons tempos, onde havia alguma seleção, o trabalho docente já seria árduo, nestes novos tempos não há como não reconhecer que os esforços para este intento passam a ser mais relevantes. O fato é que, em muitos casos, o processo de seleção que não aconteceu na entrada do estudante na IES é ‘implantado’ durante o curso, expurgando aqueles menos preparados que não conseguem acompanhar o curso, ou, menos frequentemente, aqueles mais bem preparados, que se cansam da necessidade de nivelamento constante que é aplicado ao restante da turma, os menos capacitados. É arriscado falar em soluções num cenário tão complexo e diverso, e nem é intenção desta coluna se atrever a tal ponto. Mas uma provocação é necessária. Quantas IES/cursos discutem como fazer este atendimento? Seria necessário prever uma política institucional ou de curso para atendimento a esta especificidade? O que vejo é que este assunto é relevado pela gestão do curso/IES e destinado à total responsabilidade de como cada docente do curso entenda que deva tratar o assunto. Cada qual com sua total autonomia entra para a sala de aula e resolve como abordar este desafio em sua disciplina, e no final fica ao coordenador a incumbência de administrar como resolver as arestas que rotineiramente se apresentam. Ao implantar seu processo seletivo, que pode, por motivos variados, absorver estudantes tão díspares, a instituição se compromete explicitamente a atender as expectativas de todos os que ingressarem por este critério e que intencionam obter a formação proposta. Absolutamente isto significa promover obrigatoriamente o estudante que não tenha se esforçado ou conseguido acompanhar adequadamente os estudos, ou deixar de atender aquele que pode se desenvolver mais profundamente do que a maioria da turma ao qual está inserido, pois ingressou com uma melhor formação ou tem melhor aproveitamento. O fato é que em sua totalidade este alunado merece ter suas expectativas atendidas, porque intenciona concretamente e cumpriu minimamente às premissas de ingresso no curso. Se o seu intento é alcançar uma formação profissional e humana, ela deve ser fortemente respaldada na atividade ao qual será submetido no seu curso, diante de esforços complementares, do estudante e do curso. Como fazer isto é um grande e absoluto desafio, mas ignorar esta necessidade é insensato. Se não for acordado, discutido, este compromisso institucional pode não ter atendimento do docente vinculado ao curso. Ao aceitar vincular-se a uma determinada IES/curso que tenha processo seletivo tal como apontado, o docente deve estar pronto para o desafio que é trabalhar com esta multiplicidade de indivíduos absorvido por esta IES. Não haveria a possibilidade de haver entendimentos diversos se houver uma orientação institucional para isto. Contudo, é necessário projetar uma forma de tratar como será implantado o processo educacional para estes estudantes, e criar espaços ordinários de discussão para aprimorar estas ações continuamente, evitando deixar que estas ocorrências andem sem uma orientação institucional ou do curso, especificamente. A IES e o curso, por extensão, devem declarar e orientar que estudante capta e que estudante quer formar, e, ao final, que CPC incidirá sobre os resultados destes esforços de seleção e condução. Há que se ter disponibilidade para discutir como cada curso entende que possa acolher este estudante e dele fazer o melhor estudante possível. Se isto for implantado, há que se ter uma melhor compreensão do que é necessário fazer para enfrentar esta situação com os melhores resultados possíveis. Diante desta realidade, não pode haver espaço para discussões hipotéticas de cenários diversos deste. Fica aqui a provocação. Diante das especificidades de cada IES, de cada curso desta mesma IES, ou até de cada disciplina deste mesmo curso, haveria a necessidade de interpretar como fazer melhor este acompanhamento, ou até da admissão da impossibilidade de alcançar este intento em vistas aos enormes esforços necessários para tal. Existem, portanto, duas necessidades para ser enfrentadas, uma é sobre a necessária reflexão sobre o que deve ser feito, a outra, da comunicação assertiva do que foi decidido após esta reflexão. Pelo alto grau de estabilidade que a ação docente confortavelmente goza ao longo do tempo (poucas práticas são tão imutáveis), onde o professor tem garantida a forma como abordar individualmente situações como estas, pode até parecer que esta coluna, escrita por um docente, atira contra os nossos interesses pessoais ou corporativos. Mas acredito que se mudar, mudará para melhor. Por isso, reflito sobre a necessidade de se criar espaços para que esta discussão amadureça dentro de cada um destes ambientes acadêmicos. 122




