Gabriel Mario Rodrigues
Presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) e Secretário Executivo do Fórum das Entidades representativas do Ensino Superior Particular
***Quando o cinema surgiu, os pessimistas disseram que o teatro ia acabar. Quando lançaram o televisor, falaram que o cinema ia terminar. Com a internet, com os smartfones e os tablets, e seus formidáveis recursos, eles sentenciaram à morte a televisão e os livros. Agora apontam as suas baterias para a Educação. O alvo são as aulas presenciais que – pela tecnologia – não vão mais precisar de professores. Ledo engano. Sem nós humanos a tecnologia não é nada; aliás, nem existiria. A história é pródiga em nos mostrar isto.
Examinemos o ocorrido na primeira metade dos anos trinta do século passado, quando uma plêiade de educadores brasileiros conclamava a sociedade em relação aos rumos de modernidade que devia alcançar a educação primária da época. Nossas escolas precisariam se beneficiar dos recursos do cinematógrafo, a última novidade daqueles tempos. Decorrente do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932, o MEC – da época – decidiu colocar o cinematógrafo nas escolas[1]. Para atender à “demanda”, o Governo investiu na aquisição de 250 projetores de cinema. E o que se pensava ser a maior inovação pedagógica tornou-se um retumbante fiasco. A iniciativa esbarrou logo de cara com problemas de energia, de infraestrutura e de recursos humanos qualificados para fazer funcionar o cinematógrafo. Por exemplo, ninguém tinha ideia de que o filme precisava ser trocado de vez em quando.
Onde quero chegar: não adianta o governo querer distribuir tablets aos milhares nas escolas sem suporte adequado (banda larga decente, por exemplo) e sem conteúdo previamente planejado. E, quer queiram ou não, quem vai produzir os conteúdos educativos ainda é o professor. Isto é, sem “gente” para ensinar, nada acontece.
Por trás da tecnologia, precisamos de pessoal especializado que conheça o que deva ser ensinado e, com os recursos audiovisuais e tecnológicos, que faça tudo funcionar a contento, para de fato promover o aprendizado. Quer ver? O teatro não evoluiu no palco, na frente do espectador, evoluiu atrás do palco. O cinema e a televisão não evoluíram na frente das câmeras, evoluíram atrás delas. Criamos as novas tecnologias, que não passam de ferramentas para nos servir e usadas para servir ao talento humano.
Antes da tecnologia vem o homem, o mestre, o professor, o treinador, o orientador, o tutor, o roteirista, o conteudista, e o talento de quem sabe transformar um montão de ideias numa história que mostre um caso para o aluno aprender.
O aprendizado começou com a linguagem oral que, para ser bem entendida, precisou de uma explicação feita por um desenho na parede da caverna; por um galho de árvore riscando o chão de terra ou de areia. Depois passou a ser transcrita sobre a argila ou esculpida na pedra. Mais adiante vieram o papiro no Egito e o papel na China, nos quais os escritos eram feitos com carvão e depois com grafite. Até chegar à imprensa e aos livros, foram milhares de anos de evolução. É lógico que hoje tudo isto hoje pode estar unido na tela de TV, no computador, no tablet e no celular. Mais haverá sempre alguém por trás de tudo isto para transmitir o conhecimento.
Portanto, professor, o uso do caderno, do lápis e do livro não vai acabar. O que vai mudar é o meio de transmissão da linguagem oral para a imagem. O resto continua igual, sempre precisando de gente que saiba ensinar.
Volto a bater na mesma tecla. Não sei quantos mil tablets para melhorar a educação serão atirados no lixo eletrônico, caso não sejam tomadas algumas providências, tais como: definição de uma política de qualificação de professores e o desenvolvimento de conteúdos específicos e de processos de aprendizagem e disponibilização de banda larga condizente. Embora o governo federal esteja trabalhando a todo vapor para levar a internet em banda larga a todos os municípios brasileiros até 2014, tal propósito é difícil de ser alcançado, ainda mais com a promessa de elevar a penetração dos atuais 27% para 60% do total das casas com acesso rápido à internet.
Infelizmente, o governo terá que se preparar para evitar uma muito provável (e alarmante) banalização na utilização desses tablets. Se não tomarem as devidas precauções, os alunos terão acesso fácil ao mundo dos jogos e redes sociais, tudo patrocinado pelo governo. A transmissão do conhecimento através das novas mídias só será verdadeiramente possível se todos pensarem devidamente no objetivo primordial da razão de ser de tudo: o aprendizado de nossas crianças.
No futuro, os alunos irão utilizar cada vez mais modelos híbridos, assistindo a videoaulas, participando de blogs e encontrando-se em grupos de discussão presenciais e virtuais. Daí a necessidade de dominar as ferramentas tecnológicas que permitem usar as mídias da internet.
Veja a lista do futurologista brasileiro Michell Zappa com “As 33 habilidades digitais que cada professor do século 21 deve ter”[2]. Vale a pena conferir.
- Criar e editar áudio e vídeo.
- Usar redes sociais para compartilhar recursos com e entre os alunos.
- Usar blogs e wikis para criar plataformas online para estudantes.
- Explorar as imagens digitais para uso em sala de aula.
- Usar conteúdos de vídeo para envolver os alunos.
- Usar o infográfico para estimular visualmente os alunos.
- Usar sites de redes sociais para se conectar com colegas e crescer profissionalmente.
- Criar e fazer apresentações e sessões de formação assíncronas.
- Compilar um digital e-portfolio para o seu próprio desenvolvimento.
- Ter um conhecimento sobre segurança online.
- Ser capaz de detectar trabalhos plagiados nas atribuições estudantis.
- Criar vídeos de captura de tela e tutoriais.
- Assessorar-se do conteúdo da web para a aprendizagem em sala de aula.
- Usar e proporcionar aos alunos ferramentas de gerenciamento de tarefas para organizar seu trabalho e planejar sua aprendizagem.
- Usar softwares de pesquisa para criar um teste em tempo real na sala de aula.
- Fazer entender as questões relacionadas a direitos autorais e direitos de uso de materiais online.
- Explorar jogos de computador para fins pedagógicos.
- Usar ferramentas digitais de avaliação para criar quizzes.
- Usar ferramentas de colaboração para a construção e edição de texto.
- Localizar e avaliar a autenticidade de conteúdos da web.
- Usar dispositivos móveis como tablets, por exemplo.
- Identificar os recursos seguros para os alunos a navegarem.
- Usar ferramentas digitais para fins de gestão do tempo.
- Usar o YouTube em suas diferentes formas na sua sala de aula.
- Implantar o uso do bloco de notas para as ferramentas com conteúdos interessantes e compartilhar com alunos.
- Anotar páginas da web e peças de destaque em textos para compartilhar com a classe.
- Usar organizadores gráficos e printables.
- Usar notas online para capturar idéias interessantes.
- Utilização do elenco de ferramentas de tela para criar e compartilhar tutoriais.
- Explorar o grupo de ferramentas para mensagens de texto em projeto de trabalho colaborativo.
- Aplicar consultas de busca eficazes com o mínimo de tempo possível.
- Realizar trabalhos de pesquisa usando ferramentas digitais.
- Usar arquivo ferramentas de compartilhamento para compartilhar documentos e arquivos com estudantes on-line.




