Dr. Gabriel Mário Rodrigues Reitor da Universidade Anhembi Morumbi ***No Brasil, é verdade, a imagem do Ensino Superior Particular é confusa e difusa. Isso não é bom, mas deveríamos pensar se poderia ser de outra maneira. Seria possível uma excelente imagem do Ensino Superior Particular num país emergente como o nosso, que também tem uma imagem confusa e difusa dentro e fora das suas fronteiras? As Universidades brasileiras poderiam ter uma imagem semelhante à da Universidade de Salamanca, por exemplo, fundada em 1218, da que Miguel de Unamuno foi reitor várias vezes, na que estudaram Hernán Cortés, conquistador do México; Antonio de Nebrija, autor da primeira gramática em língua castelhana; ou São João da Cruz? É casual a imagem que todos temos da Universidade de Coimbra?
As questões de imagem nunca são simples. E no próprio Ensino Particular brasileiro podemos encontrar contradições aparentes. No nível fundamental, e no médio, ao contrário do que acontece no nível superior, o Ensino Particular tem uma boa imagem. Por quê?
A boa imagem nos níveis inferiores do nosso Ensino Particular é conseqüência da comunicação intensa e direta entre os centros e as famílias dos alunos. Nesses níveis, a publicidade não existe ou é muito escassa. Os alunos e as famílias são os transmissores espontâneos da realidade que conhecem perfeitamente, e com a que se sentem identificados, porque foram eles mesmos que a escolheram livremente. E ninguém fala mal do que escolhe, nem do que é ou pensa que é “seu”...
No Ensino Superior Particular a imagem não é tão boa como poderia e deveria ser, porque os universitários não são, por vários motivos, transmissores espontâneos e ativos da realidade que escolheram e que sustentam. Neste caso, a influência das famílias é mais débil, mais distante, e mais indireta. A publicidade comercial, idêntica à de qualquer supermercado, cada vez mais exagerada e mais “criativa”, abafa o diálogo veraz, substituindo-o por mensagens irreais que pretendem ser atrativas... E com mensagens irreais, além de caríssimas, permanentemente reinventadas, é impossível construir uma imagem real, estável, definida, definível e defensável...
Sim. A imagem do Ensino Superior Particular não é satisfatória, porque a comunicação do próprio Ensino Superior Particular não é satisfatória. Mas também porque o Ensino Particular encontra opositores que o criticam com insistência, por razões de poder, ou políticas, ou simplesmente ideológicas.
A esses opositores eu perguntaria: qual é, e onde está, o mal que o Ensino Particular possa estar causando ao País ou à sociedade? O que é que aconteceria se, de repente, por decreto, o Ensino Particular deixasse de existir no Brasil? Quais seriam os benefícios ou as vantagens?
Outra questão, também delicada, é a comparação freqüente da imagem do Ensino Particular com a imagem do Ensino Público. Com independência das qualidades respectivas, é evidente que o Ensino Público também é criticado, mas nunca atacado... E como, além disso, o Ensino Público deforma menos a sua realidade com excessos publicitários, a solidariedade que recebe, para bem e para mal, costuma ser alta...
Em todo caso, do que estávamos falando é da imagem específica do Ensino Superior Particular, que no Brasil é desproporcionada -por difusa e confusa- com a dimensão, importância e transcendência do setor.
Essa imagem não chega a ser justa e satisfatória porque o Ensino Superior Particular seja ruim ou deficiente. Se essa fosse a causa objetiva (que não é) o Ensino Superior Particular não teria tantos alunos, cada vez mais...
É verdade que o Ensino Superior Particular, como o Brasil inteiro, ainda poderia e deveria melhorar. Mas a imagem e a qualidade não são a mesma coisa. E, sem prejuízo de seguirmos melhorando, a imagem que necessitamos e merecemos depende da nossa própria iniciativa. Ninguém virá resolver um problema que é nosso, e só nosso.
Precisamos falar, então, com clareza, do que de verdade seja a imagem, ao final.
A imagem não é, nem pode ser, nem deveria ser uma simples demonstração de força qualitativa. Nem sempre o melhor é o mais querido, admirado e respeitado.
Ou, dito para que se entenda: a imagem pública do Ensino Superior Particular será cada vez pior no Brasil na medida em que os alunos sejam tratados como “clientes”; na medida em que o “idioma” acadêmico seja a pura, falsa e deformante propaganda; na medida em que não exista compromisso social e participação cívica... E melhorará na medida em que as nossas Universidades sejam parte integrada e consciente dos êxitos e dificuldades do País...
Para que assim seja, o esforço não será pequeno, ainda que possa ser mais barato. Mas valerá a pena. Construir qualquer imagem pública nunca é coisa fácil. Reconstruir ou retificar imagens deterioradas às vezes é coisa impossível.




