A Internet é o meio de comunicação o mais completo já concebido pela tecnologia humana. O primeiro a conjugar duas características dos meios anteriores: a interatividade e a massividade. O primeiro meio a ter o alcance da televisão mas com a possibilidade de que todos sejam, ao mesmo tempo, emissores e receptores da mensagem. É a aldeia global de McLuhan concretizada muito além do que ele havia previsto." (Raquel Cunha Recuero, Universidade Católica de Pelotas/RS)Na semana passada a cidade de São Paulo foi marcada por quatro dias de confrontos violentos entre a Polícia Militar e as manifestações contra o aumento de tarifas de transportes públicos, oriundas do “Movimento Passe Livre”, de partidos políticos – PSOL,PT,PSTU – “Meninos do Anonymous”, hackers e de outros grupos bem ou mal intencionados. Com objetivos assemelhados, aconteceram fatos idênticos em Porto Alegre, Natal, Niterói e Rio de Janeiro. Em Brasília também houve protestos populares contra o desperdício de verbas públicas com a Copa das Confederações e a Copa do Mundo/2014. Depois dos protestos Occupy Wall Street de Nova York, primavera árabe, confrontos na Síria, na Turquia, na Grécia, Itália, França e Espanha, os jovens do “Movimento Passe Livre” desejam replicar no Brasil o mesmo processo de contestação. Parece que a representação política não existe e que cada grupo precisa ocupar as praças para divulgar a sua indignação. Como diz o cineasta Cacá Diegues, ao comentar esses fatos no jornal O Globo de sábado: "há um enorme abismo entre nós e o poder que devia agir em nosso nome, pelo desinteresse em nos representar. O processo eleitoral não tem nada a ver com a representação que devia ocorrer depois dele. Os eleitos só pensam em continuar eleitos e em proteger a instituição a que pertencem, para que ela exista, para sempre, com eles dentro." É uma constatação da realidade da nossa democracia representativa,onde até justas reivindicações de setores sociais podem ser manipuladas por grupos mais interessados em tumultuar, radicalizar e confrontar o poder. Manuel Castells, sociólogo espanhol considerado o principal intelectual mundial antenado com o papel das mídias sociais, foi categórico em Seminário realizado nesta última semana na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ao relacionar as similaridades entre as dezenas de protestos sociais que, na era da internet, estão agitando os quatro cantos do mundo. A primeira semelhança entre eles, segundo Castells, é que todos são movimentos em rede, nascidos na internet – um espaço no qual "não podem ser reprimidos de início". Para o sociólogo além das redes sociais da Internet, como Facebook e Twitter, as relações pessoais são fundamentais para o nascimento desses movimentos. A ocupação dos espaços públicos é apontada como outro fator em comum entre todos eles. Por quê? "O que eles querem é desafiar a ordem institucional e não basta apenas criticar pela internet. É necessário dar visibilidade às ações dos grupos". Tudo para que as reivindicações ganhem as ruas; para que um número cada vez maior de pessoas participem e, com isso fazer avançar o debate sobre as levar e as causas dos protestos. Manuel Castells aponta ainda que embora todos os movimentos sejam ao mesmo tempo, globais e individualizados “nascem a partir de questões locais e estão em comunicação constante com o resto do mundo. (...) Eles se difundiram rapidamente, sabendo o que estava acontecendo ao mesmo tempo em outras partes". É uma realidade nova que a população brasileira precisará se acostumar porque mais cedo ou mais tarde esses eventos alcançarão problemas mais profundos. As imagens, segundo Castells, sobretudo daquelas que mostram a repressão policial são as mais importantes. "Quanto mais se reprime, mais força se dá ao movimento". (...) "As imagens indignantes divulgadas pela internet são as detonadoras de todos esses movimentos." Sem sombra de dúvidas as novas tecnologias, a Internet e o poder das imagens marcarão a revolução do processo de comunicação em todas as áreas do conhecimento. No ensino-aprendizagem o processo é semelhante. Isto ficou patente no VI Congresso Nacional de Ensino Superior realizado no início junho em Foz de Iguaçu. Os educadores presentes realmente se sensibilizaram quando Amabile Pacios, Andrea Innamorato, João Mattar, Raulino Tramontin e Ryon Braga destacaram nas suas palestras[1] o uso vertiginosos das novas mídias na educação. Eles expuseram o que está acontecendo em várias partes do mundo, graças ao avanço das tecnologias informacionais nas novas estratégias para ensinar e citaram como exemplos: Inteligência coletiva. Trata-se do aproveitamento da plataforma das redes sociais com o propósito de ser utilizada não só para compartilhar informações de interesse comum como também para desenvolver projetos que envolvam temas inovadores a serem solucionados pelos participantes e, com isso permitir a produção do conhecimento novo. O grande desafio é tornar este conhecimento válido e aceito pelas universidades, porque na prática já acontece informalmente. Cada vez mais a comunidade acadêmica deverá perceber o valor de explorar as ideias de crowdsourcing[2]. Mobilidade. A tendência é que o ensino superior se torne cada vez mais independente de sua sede e os alunos carreguem as suas universidades "no bolso". Dispositivos de computação móvel – tais como smartphones e tablets – estarão cada vez mais acessíveis e mais fáceis que os desktops. Em breve teremos baterias com vida longa e que vão durar dias sem perda de sua eficiência, bem como novos aplicativos voltados à Educação com inovadoras finalidades. Muitos educadores incorporarão esses aplicativos em suas práticas pedagógicas cotidianas. Conectividade. Utilizar arquivamento em “nuvem de computação” é unificar informações, dados, conteúdos e atividades disponibilizando-os em local único. Se precisar conectar de casa, no trabalho, da escola, na estrada ou em qualquer situação social, as pessoas buscarão o acesso em “nuvem” para obter informações. O sistema de arquivamento em “nuvem” incorpora uma parte importante de nossas vidas que são todos os dispositivos de computação que utilizamos. “O processo ensino-aprendizagem cada vez mais contará com o potencial de "locais de aprendizagem". Nesse sentido, o mundo vai se tornar o campus da universidade. Os estudantes de onde estiverem poderão se conectar imediatamente com os recursos da universidade e com uma comunidade acadêmica, via "nuvem". Cursos gratuitos. Nos últimos anos temos visto uma explosão de recursos educativos on line, gratuitos, que começaram no mercado há cerca de dez anos com a iniciativa de open courseware do MIT. A informação está em toda parte; o desafio é fazer uso eficaz dela na busca do aprendizado e do conhecimento. Em essência, o conteúdo fornecido por uma licença permite que qualquer pessoa use o material desde que siga as diretrizes criadas pelo provedor de conteúdo. As universidades estão começando a entender as maneiras de adicionar valor real ao processo de aprendizagem, usando mídias sociais para conseguir um diálogo rico, envolvente e bidirecional entre seus alunos e funcionários. Pretendi com este artigo registrar o poder de comunicação da Internet para destruir mitos e, sem pretender fazer uma análise sociológica e/ou política, contextualizei os meus pontos de vista com os fatos recentes ocorridos no país.
[2] O crowdsourcing é um modelo de produção que utiliza a inteligência e os conhecimentos coletivos e voluntários, geralmente espalhados pela Internet para resolver problemas, criar conteúdo e soluções ou desenvolver novas tecnologias, assim como também para gerar fluxo de informação.