Elio Gaspari
Folha de S.Paulo, publicado em 15 de dezembro de 2013
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Madame Natasha fez as provas de administração e ciências econômicas do Enade e concluiu que o Ministério da Educação estimula a criação de um dialeto no qual os professores ensinam (e cobram) conhecimentos num idioma que não falam em casa. A senhora entende que há expressões técnicas que devem ser ensinadas e aprendidas, mas "empresa potencial entrante" é a popular "concorrente", "estatisticamente não significante" é apenas "insignificante", uma "asserção" é uma "afirmação" e "fator explicativo" é "uma das explicações".
Se um diretor de uma companhia disser que talvez seja obrigado a enfrentar uma empresa potencial entrante mas está tranquilo porque ela virá com uma produção estatisticamente não significante e que essa asserção é um fator explicativo da sua esperança de ganhar o bônus no fim do ano, será mandado ao manicômio.
Natasha acredita que, estimulando-se os alunos a aprender um dialeto incompreensível, consegue-se apenas fazer com que professores que não se fazem entender propaguem, com a ajuda do MEC, um blá-blá-blá de empulhação.
Por coincidência, Eremildo, o Idiota, fez a mesma prova. Como vive num quarto alugado nos fundos de uma pensão, sonha em se credenciar para um cargo na diretoria da Petros. Numa pergunta relacionada com economia brasileira dos anos 30, ele achou a expressão "indústria capitalista". O cretino acha que em Pindorama só havia essa, pois a socialista estava sob os cuidados de Stálin.
A dupla até hoje tenta decifrar o seguinte enunciado, relacionado com as novas formas de organização das empresas. Segundo o texto, elas são vistas também "como aperfeiçoamento da abordagem contingencial da administração. Os estudos realizados carecem, entretanto, de aprofundamento para que se possa considerar as chamadas organizações pós-modernas ou como expressão da ruptura qualitativa com a modernidade ou como versão especificamente histórica das organizações modernas".
Umas das alternativas de resposta era a seguinte: "De acordo com a compreensão sistêmica e comportamental da administração, as novas formas organizacionais revelam a ruptura com a racionalidade instrumental, caracterizando o paradigma pós-modernista".
Ganha uma viagem de ida a Pyongyang quem souber o que isso quer dizer. Indo-se ao gabarito, vê-se que essa alternativa estava errada. Era uma pegadinha, em blá-blá-blês.
Um professor com títulos e desempenho empresarial suficientes para dar inveja aos educatecas do MEC testou-se respondendo às oito questões de formação geral. Valendo-se de seus conhecimentos e de sua opiniões, errou quatro. Numa nova tentativa, colocou-se no modo "politicamente correto" e deu as respostas que intuiu serem as desejadas. Acertou seis. Num enunciado em que se descreve a influência dos jogos domésticos sobre as crianças, reduzindo seu interesse por questões ambientais, pedia-se aos estudantes que escolhessem um título para o texto. Uma das alternativas dizia: "Preferências atuais de lazer de jovens e crianças: preocupação dos ambientalistas". Errado. O título certo seria: "Engajamento de crianças e jovens na preservação do legado natural: uma necessidade imediata". Isso é título de manifesto.
No blablabês do MEC, os estudantes precisam entender que um concorrente é uma 'empresa potencial entrante'