Quem dominar o mercado global e tiver o maior número de empregos será a nação dominante do mundo. Este será um acontecimento tão importante quanto a Segunda Guerra Mundial, além de decisivo para o equilíbrio entre as nações. (Jin Clifton)Neste início de ano tive acesso ao livro The Coming Jobs War de Jin Clifton, presidente e CEO da Gallup. Por tratar-se de uma obra provocativa para líderes empresariais e governamentais, e por conter previsões para o que ocorrerá nas próximas décadas, trago à reflexão de todos importantes aspectos postos pelo autor. 1- A nação líder mundial será aquela que oferecer o maior número de empregos. 2- O maior problema que o mundo enfrenta hoje é a oferta inadequada de empregos. 3- O principal desejo das pessoas é ter um bom emprego, segundo pesquisa realizada em quase todos os países do mundo pela Gallup. 4- O empreendedorismo é mais importante que a inovação para se ganhar a “guerra” dos empregos. 5- O emprego só vai ocorrer de acordo com a demanda por produtos ou serviços. Por isto o mais importante de tudo é antever onde deverá haver esta demanda. 6- As respostas a estas questões são importantes: Quais são as necessidades de desenvolvimento? Em que geografia se localizam? Quem são os clientes, locais e mundiais? Que tipo de ocupações satisfazem as necessidades de trabalho? 7- A economia do desenvolvimento só ocorre quando se criam novas empresas (start ups) nas quais se registram a maioria dos empregos. As cidades devem criar ambientes para encorajar e suportar os empreendedores. 8- Os estados devem se diferenciar e definir como um de seus focos a formação de trabalhadores realmente engajados. A falta de incentivos e a baixa produtividade no local de trabalho “mata” a criação de emprego. 9- Há três ingredientes “energéticos” para a criação de emprego: as melhores cidades; as melhores universidades; a presença de líderes locais. 10- Há duas notícias. A boa: isto só vai acontecer daqui a 30 anos, mas é bom que todos se preparem; a ruim: nada fazer e ser surpreendido pelos acontecimentos. Em suma, as contundentes ideias de Clifton, ao lado de outras relatadas a seguir – ainda que baseadas na realidade norte-americana –, são percebidas por formadores de opinião, intelectuais e líderes brasileiros[1] e representam um rico manancial para os meus próximos artigos. Senão, vejamos: Pessoas e empregos Existem 7 bilhões de pessoas no mundo. Destas, 5 bilhões estão em idade de trabalho. 3 bilhões querem empregos formais, para uma oferta de apenas 1.2 bilhão de trabalhos formais no mundo (empregos de trabalho em tempo completo e remuneração constante). Com isto, existe uma falta de 1.8 bilhão de empregos para atender esta demanda. Todavia, o Produto Interno Bruto (PIB) Mundial hoje é de 60 trilhões de dólares e irá crescer para 200 trilhões nos próximos 30 anos. “Quem dominar o mercado global e tiver o maior número de empregos será a nação dominante do mundo. Este será um acontecimento tão importante quanto a Segunda Guerra Mundial, além de decisivo para o equilíbrio entre as nações.” O que 7 bilhões de pessoas desejam? A pesquisa da Gallup, feita em quase todos os países do mundo, e adaptada para ser respondida de forma igual e ser comparável entre as diversas sociedades e culturas, mostra que o item mais desejável do mundo hoje é ter um bom emprego. Esta pode ser muito bem uma atividade empreendedora. Os líderes governamentais, empresariais, educacionais, religiosos e todos os cidadãos devem eleger este quesito como o principal de suas atividades. Empregabilidade Os Estados Unidos são os líderes econômicos do mundo. Possuem um PIB três vezes maior que o da China. Porém, estão crescendo cerca de 2% ao ano, há algum tempo, enquanto a China cresce seu PIB a 10%. Com isto, em muito menos de 30 anos a China, hoje em segundo lugar, será a líder econômica do mundo. Se os EUA falharem neste crescimento, acontecerá uma reação em cadeia com sério risco de haver uma bancarrota geral. Um país que falha em crescer, se estagna e entra em depressão. Esta é uma mensagem de alerta do autor. Outro ponto importante é o papel dos pequenos e médios negócios como os maiores geradores de emprego. As grandes empresas representam uma parcela menor de geração de riqueza e emprego. Seria natural pensar em uma solução que vise fomentar estas empresas na geração de riqueza. Cidades, universidades e lideranças O surgimento de novas soluções que possam trazer o crescimento do PIB dos EUA implica combinação alguns fatores, tais como: grandes cidades, melhores universidades e líderes mentores. O empreendedorismo e a inovação surgirão destes microambientes locais e não de mudanças profundas ou gerais de governo. As melhores soluções são locais e o papel dos líderes das cidades é fundamental para o desenvolvimento do empreendedorismo. Empreendedorismo versus inovação Nada no mundo pode substituir a persistência. Talento per si, não pode – nada é mais comum que homens de talento sem sucesso; Genialidade per si, não pode – gênios que não conseguem se desenvolver são muito comuns; Educação per si, não pode – o mundo está cheio de pessoas educadas que não vão para a frente. A persistência, a determinação e a paixão naquilo que se acredita estão sempre onipresentes nas lideranças de sucesso. Boas ideais per si, também não representam sinal de sucesso. São os empreendedores que conseguem desenvolver novos modelos de negócios, que conseguem achar clientes para seus produtos e que geram valor. Em suma, as pessoas que transformam ideias em produtos e empresas, são as que contribuem para a geração de empregos. Ideias não precisam ser brilhantes, mas precisam ser implementadas. Se for o que o consumidor deseja, a viabilidade está garantida. Ciência de comportamento do consumidor Para vencer a guerra pelo trabalho os EUA precisam ser os melhores do mundo em empreendedorismo e inovação, e também investir seus melhores cérebros para dominar a ciência de comportamento do consumidor. À guisa de conclusão Será que alguém no Brasil está pensando seriamente nestas questões? Respostas a esta pergunta, ao lado de propostas específicas para a área educacional, comporão o escopo de um ciclo de debates que a Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) realizará em 2014 com as principais lideranças do país. Como observa Troyjo, “este é um ano de reposicionamento (...) precisamos de reformas para escalar rankings de competitividade global”. A ordem é avançar.
[1] O jornalista Marcos Troyjo, por exemplo, no seu artigo “Brasil-mundo: resoluções para 2014”, observa que será necessário, dentre outras medidas: “saber interpretar os sinais que o mundo emite; reaproximar-se dos EUA por meio de parcerias de investimentos e tecnologia e acesso ao principal importador do mundo; acelerar a institucionalização dos Brics; distanciar-se dos bolivarianos – o esquerdismo latino-americano não tem futuro; e diversificar o Comércio Exterior – país algum se desenvolveu exportando apenas matérias-primas” . http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marcostroyjo/2014/01/1392670-brasil-mundo-resolucoes-para-2014.shtml