A Apple tem um patrimônio tremendo. Mas acredito que, sem algum cuidado, a empresa poderia, poderia, poderia - estou buscando a palavra certa - poderia morrer. (Steve Jobs, 1997).Algumas civilizações, povos e nações cresceram e se desenvolveram em função de suas realizações e deixaram heranças patrimoniais e culturais grandiosas que persistem até hoje. Ao lado disso, Estados e Impérios foram exterminados por desastres administrativos e deixaram poucos vestígios e testemunhos do passado. Assim também é a realidade das empresas e instituições criadas pelos empreendedores em todos os tempos e em determinadas regiões. As empresas, a exemplo dos seres humanos, nascem, vivem e morrem e na maioria das vezes nem história deixam. É só analisar a trajetória de milhares de organizações milionárias que foram líderes no século passado e que hoje nem sombra delas existe mais. Acontece em todas as áreas e até na educacional. Exauridas por problemas de toda a ordem, instituições de ensino superior (IES) encerraram suas atividades naturalmente e/ou são descredenciadas pelo Poder Público, tal como aconteceu recentemente com uma universidade e com um centro universitário na cidade do Rio de Janeiro. Diferentemente de qualquer empresa que pode cessar sua produção da noite para o dia sem trazer prejuízos a seus consumidores, as IES não podem ser extintas de maneira abrupta, pois têm uma missão a cumprir, um papel social a desempenhar e fazem parte de um patrimônio que a sociedade deve preservar. Os cursos oferecidos pelas IES levam em média quatro anos para serem concluídos e há um número imenso de alunos envolvidos. Evidentemente, não nos sentimos no direito – e nem é objetivo deste artigo – de analisar as causas do descredenciamento de instituições. Observamos, porém, que de uma maneira geral qualquer iniciativa empresarial ou institucional começa a ter insucesso quando o prato da balança dos custos está mais baixo do que o de vendas, por má gestão, insuficiência de consumidores – dificilmente por outro motivo, ou por força do “cutelo” do Estado. O mercado é sábio e hábil em perceber quando uma escola não vai bem. As IES descredenciadas em questão, reunidas, detinham há cinco anos cerca de 80 mil alunos; hoje detém apenas 12 mil. Como regra geral, sabe-se que IES com grande número de estudantes e com boa administração não desmoronam. A grande questão é que os tempos mudaram, que a realidade atual é diferente daquela de trinta anos atrás, em que havia demanda cativa de alunos e oferta restrita de vagas. Assim, qualquer gestão amadora de profissionais dava conta de concretizar uma faculdade. Atualmente, a competição por matrículas para viabilizarem os cursos constitui-se batalha com gigantescas e dispendiosas estratégias mercadológicas. Isto nos faz enfatizar as concepções básicas do conceito de marketing: atrair e manter estudantes; suprir as suas aspirações; trazer os recursos necessários para atender as necessidades de custeio e permitir o crescimento, o desenvolvimento e o cumprimento da missão institucional. São imensos e ao mesmo tempo incríveis os desafios que permearão o mercado de educação superior nos próximos anos e que devem ser preocupação constante de todos os administradores de IES particulares e de entidades que representam e defendem a livre iniciativa na educação. Nossas reflexões – baseadas em discussões sustentadas na Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) e no Fórum das Entidades Representativas do Ensino Superior Particular (Fórum) – reunidas a seguir neste artigo, poderão servir de base e até mesmo contribuir para que o Poder Público perceba e entenda de forma correta a importância do setor privado para o País. É certo que nossas ideias voltadas para os segmentos privado e público precisam ser aprimoradas e, mais do que nunca, repensadas, pois estamos dentro de novas realidades mercadológicas, regulatórias e de cursos que estão transformando todo o panorama da área. São elas: 1. Segmento particular
- Educação considerada como prioridade nacional;
- Proposta educacional de acordo com as demandas da sociedade e com as aspirações do estudante;
- Currículos diversificados, novos métodos de ensino e de estratégias pedagógicas;
- Marketing educacional – cursos, matrículas, retenção e mensalidades;
- Gestão administrativa e financeira eficientes;
- Formas de enfrentamento da competitividade aguerrida por matrículas;
- Concorrência num mercado composto por classes “A” e “B” que podem pagar as mensalidades e por classes “C”, “D” e “E” limitadas ao poder de compra. É preciso ter novas formas e alternativas de financiamento, tendo em vista os riscos da dependência exclusiva ao Fundo de Financiamento Estudantil (Fies);
- Oferta de candidatos qualificados para o ensino superior por meio da melhoria do ensino médio;
- Estratégias de captação para o ensino superior de estudantes com idade superior a 25 anos – são, hoje, mais de 20 milhões;
- Formas de solucionar o grande problema da evasão de alunos;
- Tecnologia aplicada à educação capaz de fazer a diferença e viabilizar novos projetos acadêmicos;
- Educação a Distância focada nas periferias das grandes cidades, como estratégia de ensino de massa;
- Internacionalização da educação como processo cultural e de busca no mercado de trabalho – vantagens e desvantagens; formas de (e com quem) avançar;
- Desenvolvimento de projetos estratégicos inovadores com impactos no processo de ensino-aprendizagem;
- Desenvolvimento de áreas de colaboração entre as IES tais como: isenção de imposto de renda nas bolsas para funcionários – em tramitação no Congresso Nacional;
- Apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) a projetos educacionais de iniciativa particular;
- Respeito à diversidade das IES e cursos por parte do Ministério da Educação;
- Cumprimento da Lei nº 10.861/2004, que Instituiu o Sistema Nacional de Avaliação do Ensino superior (Sinaes);
- Acompanhamento do Projeto de lei de criação do Instituto Nacional de Supervisão e Avaliação do Ensino Superior (Insaes), enquanto organismo para atender às necessidades do sistema educacional;
- Desenvolvimento de Projeto de Comunicação para valorização da imagem do ensino superior particular;
- Demonstração de respeito à sociedade com a implantação de Código de ética a ser praticado por todas as IES;
- Estratégia de interação com o Governo e com o Congresso Nacional;
- Integração do Ensino Profissional e Tecnológico (de nível médio) com o ensino superior;
- Articulação com os organismos estratégicos do Estado ligados à produção e desenvolvimento do país, para estudo das ocupações nas empresas;
- Desenvolvimento de projetos de colaboração entre as grandes instituições e as pequenas e médias IES, com até 3 mil alunos, localizadas em regiões isoladas ou de interesse estratégico para o país e estimular formas de assistência técnica e de franquia na área acadêmica.