Laura Patrícia Nunez
Especialista em Educação à Distância pela UFF
Laurahannah98@yahoo.com.br
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A única forma de aquisição do conhecimento cultural e da ciência na idade média era formulado por uma elite dirigente e disponibilizado em forma de imagem à massa submetida.
A partir do ponto de vista epistemológico e cultural a imagem na educação não pode ser considerada apenas pelo cunho ideológico, político: manipulação de massas. A introdução da imagem na educação, na década de 60, tinha como um dos objetivos a preparação de mão-de-obra para as necessidades produtivas da época, por considerar as vantagens desse recurso para a memorização e motivação do indivíduo. Ocasião esta em que foram igualmente apoiados, pelos mesmos motivos, projetos de educação a distância.
Na Escola Nova a utilização dos recursos audiovisuais na educação tinha um fim humanista com ideais de participação e de democratização da educação. Vários autores defendem este ponto de vista, inclusive, Paulo Freire utilizava produção de imagens no processo pedagógico. O interessante é que Freire preparava seu próprio material, isto é, produzia as imagens com um fim pedagógico e não introduzia o audiovisual nas práticas educacionais sem passá-lo por uma “metamorfose didatizante”. Visto que a imagem é um recurso historicamente utilizado para persuasão, indução e manipulação de massa por possuir uma forte característica de sedução por envolver a emoção, o receio é de que as imagens, principalmente em vídeos, sejam recebidas como ‘verdades’ e não como um objeto que incorpora um ponto de vista.
Autores contemporâneos defendem à introdução do audiovisual em ambiente escolar produzido pela mídia tradicional ou pelos meios cinematográficos como forma de compreender a cultura e a sociedade com seus valores e costumes. Visando, através de discussões, reflexões e confrontações feitas em sala de aula, à formação do cidadão crítico – não apenas espectador, capaz de perceber as ideologias e interesses por trás de cada produção.
Em minhas pesquisas de Pós Graduação em Educação a Distância na UFF (Universidade Federal Fluminense), observo que existem indivíduos que são muito mais visuais no processo de aprendizagem e, portanto, é de extrema urgência que os sistemas educacionais despertem como vem acontecendo, para o uso de tal ferramenta. A mentalidade contemporânea que associa as múltiplas linguagens à educação tem promovido o estímulo a uma nova categoria: “aos que possuem um modelo de aprendizagem visual”. Isto para se contrapor ao senso de que há uma única forma de concepção do processo ensino- aprendizagem. O Brasil avançou muito tecnologicamente e como sistema de educação nas últimas décadas o que é um desafio para os demais países iberoamericanos.
Como a maior parte da nossa sociedade não é treinada para compreensão crítica da utilização da imagem, aquilo que é contemplado visualmente tende a tomar caráter de verdade imediatamente. Umberto Eco afirma que “para convencer alguém sobre um dado assunto, o mais convincente é uma prova por indução” (1996). Por esta razão, pode-se generalizar uma ideia tornando, assim, a reação crítica a partir de uma exemplificação por imagem muito mais difícil do que por uma exemplificação verbal. Esse fato influencia fortemente a relação entre os indivíduos na era digital quanto à formação de opinião através da interação virtual, por exemplo, em sites de relacionamento. Entretanto, a antiga relação – de ‘cima’ para ‘baixo’ - em moldes hierárquicos de poder podem sofrer consideráveis abalos de acordo com este novo contexto histórico. Segundo Levy, qualquer indivíduo ou grupo com competência técnica mínima pode produzir e difundir de maneira global sua produção.
Como consequência da evolução tecnológica, surgem ferramentas de interação que podem ser considerados ‘revolucionárias’. Os ambientes virtuais que disponibilizam troca de informações e de opinião podem ser utilizados em sala de aula e em outros ambientes de formação através da utilização tanto de escrita quanto de imagens e de vídeos. O crescente consumo de comunicação e sua a influência ideológica, ascendendo como meio de democratização dos povos, justifica a inclusão digital no ensino.
Diante dessa cibercultura, o corpo docente necessita de um novo modelo de capacitação educacional para o desenvolvimento da competência crítica, de seleção, de difusão consciente da informação. Tentando responder a essa carência, existem autores que defendem a criação de uma disciplina específica baseada na comunicação social para o Ensino Médio, a fim de trabalhar nos alunos competências para a leitura da imagem compreendendo sua utilização pelos meios de comunicação como forma de persuasão, sedução, indução e manipulação do telespectador, mas há a necessidade de primeiramente se trabalhar o corpo docente. Existem outros, no entanto, que, numa postura construtivista, percorrem caminhos diferentes buscando aproximação com a realidade da cibercultura, utilizando nas práticas educacionais softwares gratuitos para produção de imagem objetivando, desse modo, desenvolver nos discentes e docentes a compreensão sobre a construção de significados em/de este gênero.
A unanimidade entre todos os autores está no reconhecimento de que a imagem tem uma capacidade inegável de comunicar ao espírito, alcançando profundamente o ser. Por este motivo a educação com utilização da imagem (ou audiovisual), de forma integrada ao texto, pode ser usada para resgatar alunos com dificuldade cognitiva e/ou em situação de risco, ajudando-os a perceber e interpretar o mundo, levando-os além de sua realidade atual.




