Michele Rossi
Estudante de Jornalismo e Redatora
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Me recordo do dia em que fiz a inscrição para prestar o vestibular. Acreditava que estava iniciando um pouco tarde o curso de graduação. Mas percebi que, mesmo tendo idade superior a dos outros alunos, eu estava no melhor em relação à possibilidade de poder custear meu curso. Porém, eu dependia do meu empregador – sem ele eu não teria como pagar um curso superior. E foi assim que tudo começou. As dificuldades apareceram e desisti por três vezes do curso, mas continuei, persisti e, com muito apoio e ajuda, consegui recomeçar meus estudos.
Hoje retomo meus pensamentos, como universitária e a poucos meses de me formar como Jornalista. O que eu posso oferecer para meus familiares, ou para os moradores do meu bairro, talvez para a cidade, ou quem sabe ainda para meu estado, país ou para o mundo? Afinal estarei me formando em um curso que tem por princípio ajudar as pessoas desse mundão afora, informá-las, ajudar a entender as complicações do Estado, da política, das dificuldades que o mundo nos apresenta. Serei em breve uma transformadora de opiniões, orientadora e informante de todos os acontecimentos que possam nos afetar.
Mas dúvidas a esse respeito me assombram diariamente. Será que minhas palavras serão informativas? O mundo em que vivo não me manipulará por interesses próprios? Serei capaz de separar a mentira da verdade?
Receios normais de um aluno prestes a se formar, ou preocupação com um país difícil de entender?
Não consigo compreender um país que vibra e espera por um feriado que dura até 5 dias durante o tão esperado carnaval e que serve apenas como revista viva a outros países, mas que ao mesmo tempo vê como uma atitude inadmissível parar o Estado por um dia para reivindicar algum direito que todo cidadão tem, como o valor abusivo da passagem do transporte público.
“Brasil, de amor eterno seja símbolo”
Ainda não compreendo a grande oportunidade que o Brasil teve há oito anos de sediar a Copa do Mundo. É incalculável os valores investidos para a construção de estádios e arenas, mas não foi possível em oito anos atender as necessidades básicas de um povo que ainda tem amor a sua pátria, que ainda sonha com oportunidades como as que o Brasil teve em receber esse evento. Esse povo quer apenas ter um leito digno para se deitar e esperar pela cura de suas enfermidades ou apenas poder esperar por sua morte em um lugar que não seja o chão frio de um corredor do que deveria ser um hospital.
“Verás que um filho teu não foge à luta”
“Nem teme, quem te adora, a própria morte”
O grito de cada um hoje é complemento do nosso Hino, salve-nos de uma completa vergonha universal, salve-nos dessa miséria de oportunidades e nos ajude a entender um mundo onde se constrói uma copa do mundo mas que não consegue construir uma escola ou hospital, salve-nos dessa ganância por cifras e pelo desdém de vidas.
“Ó Pátria amada, idolatrada, salve, salve”
Será que em algum momento nossos governantes pensaram que para ter tudo o que queriam como infraestrutura para sediar um evento como estes era extremamente necessário uma educação de excelente qualidade? Afinal, de onde saem todos os profissionais que estão transformando ideias em estádios? Mas como conseguir essa mão de obra se eles nunca estiveram na escola, ou não conseguiram concluir seus estudos por dificuldades? Dificuldades que nem em oito e nem em oitocentos anos será suprida.
Como receber pessoas do mundo todo se não temos segurança nem mesmo para nós que já sobrevivemos aqui, sim sobrevivemos, pois cada segundo temos uma luta diária para ir e vir, na tentativa de conseguir entrar no transporte público sem dificuldade, sem ser assaltado nas ruas em pleno dia, ou pelo simples fato de tentar racionar o alimento com familiares por termos um salário mínimo vergonhoso e baixo, como recepcionar essas pessoas sem tirar a cadeira onde o mosquito da dengue está sentado?
Como conseguiremos nos comunicar com os estrangeiros se nem ao menos sabemos decifrar as pronúncias da nossa língua, se não sabemos falar nem ao menos o nosso velho português?
“Terra adorada, entre outras mil, és tu, Brasil, ó Pátria amada!”
Escrevo e me pergunto cada vez mais, que papel terei neste país? Como lutar para mudar a minha história o meu futuro e dos que me cercam, se não vejo uma luz no fim do túnel, não vejo uma esperança de salvação para o País, que profissional serei se não consigo nem ao menos defender a minha bandeira? Está tudo errado e ninguém consegue parar e começar tudo de novo, quem lutará por cada um de nós se a corrupção não permite esse feito?
“Paz no Futuro e glória no passado”
Vivo em um país que não entende suas falhas, que não pensa na vida do ser humano que habita esse pedaço imenso de terra, vivo em um país que não tem espaço para podermos colocar nossos pés dentro dos transportes públicos de tão cheios que são, vivo em um país que não nos dá a oportunidade de ter um ensino de qualidade, afinal é mais fácil esconder as deficiências do que ajuda-las, vivo em um país que oferece um salário mínimo de R$724,00 e não quer ver mendigos pelas ruas, é aqui que eu vivo e não quero ir embora, pois sei que posso lutar por este país que abriga todos os meus irmãos de pátria, só não sei em quem confiar e por onde começar.
O pior sentimento que posso ter neste instante é o da indignação, vergonha e medo. Quando eu era pequena não sabia o que seria quando crescesse e ainda hoje não sei o que serei quando crescer, mas digo agora profissionalmente, tenho medo por ser a única responsável pelas minhas palavras e pensamentos, não sei o que defender, e se existe algo a defender, além de um povo que não tem mais a quem pedir ajuda.
Minha indignação tem começo, meio, mas, não tem fim, só terá fim quando eu puder finalmente compreender como podemos assistir pelos noticiários pessoas morrendo afogadas com as enchentes porém com a boca seca de sede.
Não sei mais como será o amanhã, como meus filhos, que ainda terei, vão estudar a história do Brasil futuramente? Acredito que problemas com o mosquito da dengue eles não terão, mesmo porque sem água nem para beber, como a epidemia vai se propagar? Se caso me mudar para outro estado, será que eles conseguirão me visitar um dia, levando em consideração a ineficiência dos nossos aeroportos?
Não tenho oito anos para pensar em estratégias e meios de ajudar a salvar o País, tenho apenas sete meses para pensar em como ser alguém melhor do que eu mesma esperava ser.




