"…as bandeiras não tremulam. Apitos, camisetas, estão encalhados nas lojas. O Brasil, às vésperas da Copa não está vibrante em verde e amarelo. O Brasil está vermelho. Vermelho de vergonha. Vermelho de tanta corrupção, tanta maracutaia, tanta cara de pau dos nossos governantes". (Mário Jorge Lobo Zagallo)A realidade social brasileira está mudando. As pessoas não suportam mais tantas mazelas que as mídias extrapolam por todos os lugares. Na internet, além da epígrafe acima, vemos muitas expressões do desejo das pessoas em ter segurança de primeiro mundo, transporte de primeiro mundo, hospitais de primeiro mundo e, sobretudo, escolas de primeiro mundo. O desabafo – que parece estar engasgado na garganta da expressiva maioria dos brasileiros que saiu às ruas em junho de 2013 –, com a aproximação do início da Copa do Mundo 2014, ganha nova força e torna imprevisível o futuro tão próximo, pois faltam poucos dias para o primeiro jogo no Itaquerão. A nação corintiana (se as autoridades permitirem, queira Deus que não!...) promete fazer um cinturão em torno do estádio para evitar que manifestantes se reúnam para protestar; a Segurança Pública foi aprender em Davos como controlar os insatisfeitos; e o governo continua tentando convencer a sociedade de que a Copa é um bom investimento, capaz de trazer melhorias para vários setores da nossa economia. Enquanto isso, talvez não só para promover a discussão, mas também para “botar mais lenha na fogueira”, João Wainer lança, em cadeia nacional, seu filme Junho, em comemoração a um ano dos protestos de junho passado quando se viu “um Brasil furioso, raivoso, irritado, desesperançado, arrasado, colérico, ressentido, zangado, amuado, com os dentes cerrados”, como descreveu Ignácio de Loyola Brandão em sua crônica do último dia 16 de maio, Copa e os tons de cinza do Brasil, n’O Estado de S.Paulo. Diante desse contexto, são poucos os que tentam provar que a Copa 2014 será um bom negócio para o Brasil. Tal e qual a turma da Petrobras que opinou pelo SIM no negócio de Pasadena. Outros muitos preveem um período de convulsão social, agravado pelo fato de alguns manifestantes terem regredido ao estado de barbárie (veja-se o episódio do vaso sanitário que, arrancado de um dos banheiros de um estádio do Nordeste e arremessado das arquibancadas, matou um torcedor que deixava o local) e de outros aproveitarem o clamor das ruas para infiltrar-se e depredar não só (segundo eles) os símbolos do capitalismo, como bancos e também a banca de jornal do “tiozinho” que “grama” para conseguir seu ganha-pão e o fusquinha do desavisado que encontrou a manifestação no seu caminho. Além daqueles, dos dois lados – população e polícia –, que ferem e matam. O povo não é expert em economia, mas sabe onde deve botar seu tão suado dinheirinho. Sabe que não é hora de investir em “eventos festivos” pra a Fifa se esbaldar de rir e encher as burras, sobretudo num país em que a corrupção grassa impune e desavergonhadamente, mas sim em setores que podem garantir-lhe uma vida mais digna. Dizem que o pior inimigo de um governo é o cidadão esclarecido. E esse ser é fruto da educação, só ela tem o poder de transformar. “Você tem fome de quê?” pergunta a música, e qualquer país que projeta seu futuro, que quer ser soberano, emancipado, responde: de cultura e educação. Esse é o pão da vida, que sacia a fome e liberta o espírito. Quando nossos governantes tiverem a sensibilidade, e a honestidade, de perceber isso, novos ventos promissores hão de soprar. O que se espera é que todos tenham acesso a uma educação contínua e de qualidade, desde o ensino básico até o superior. Qualquer construtor sabe (até o “experimentador” da periferia) que, se não houver investimento na estrutura fora da casa, o resto não se sustenta. Qualquer construtor (até o da periferia, e sobretudo ele) não dispensa o trabalho colaborativo (nas comunidades, sabiamente, o mutirão). Por que na educação seria diferente? Práticas educativas divorciadas da realidade estão fadadas ao insucesso, porque não estimularão ninguém tampouco propiciarão um debate profícuo sobre o status quo, este, em última análise, fruto da interação, da ação recíproca, e colaborativa, entre pessoas. Investir no ensino básico é garantir o alicerce para toda a vida; não descuidar da educação continuada é assegurar a capacitação para um novo milênio. No entanto, pedir para políticos valorizarem a educação e cultura é pedir para que eles deem um tiro no próprio pé. Afinal, povo inteligente, é povo que não se contenta com qualquer coisa, é povo que vigia, que reclama e que elogia quando necessário. Povo inteligente é povo que luta, que estuda, que acredita no futuro e em seus direitos e de fato o que está acontecendo são os desejos de um novo Brasil que está surgindo.