Paulo Cardim
Reitor da Belas Artes e Diretor-Presidente da Febasp Membro do Conselho da Presidência da ABMES
Blog da Reitoria, publicado em 30 de junho de 2014
***Nos últimos anos temos assistido na televisão, lido nos periódicos e em livros reportagens, artigos e textos diversos sobre a má qualidade da educação básica e o reflexo desse descalabro na formação do estudante, nos níveis seguintes de ensino, quando ele consegue ascender à educação superior.
Entre o manancial de denúncias de falhas no planejamento e na gestão das escolas públicas da educação básica e na ausência de diretrizes e ações dos governantes para a solução desse crônico problema, surgem, aqui ou acolá, alguns exemplos dignos de serem replicados. Mas são poucos e, às vezes, considerados folclóricos ou de difícil replicação pelo Brasil afora.
A formação docente é uma das questões mais importantes a serem enfrentadas e resolvidas. O descaso dos governantes com as questões da educação e da formação e valorização do professor, das prefeituras à presidência da República, é o maior entrave para que a educação básica tenha a qualidade desejada pela sociedade e seja um instrumento para a construção de uma Nação desenvolvida social e economicamente.
A formação para o magistério e o exercício dessa profissão têm sido objeto de estudos, debates e pesquisas ao longo dos séculos. Nessa trajetória, o professor passa de missionário a profissional com formação e condições de trabalho delineadas em Lei, como no Brasil. Como afirma Taylor Mali, no livro Um bom professor faz toda a diferença. (Rio de Janeiro: Sextante, 2013, p. 85), “ninguém decide ser professor para ficar rico”, mas o professor, para o pleno exercício de suas nobres funções, necessita de remuneração e valorização profissional condignas e que lhe permitam portar os meios necessários ao desenvolvimento da educação, na relação educando-educador.
A remuneração que dá dignidade ao cargo é a resultante do reconhecimento dos poderes públicos, configuradas em leis, salários, planos de carreira e em ambiente de trabalho condizentes com o extraordinário papel que o professor exerce em qualquer sociedade civilizada. É quando o professor pode contribuir efetivamente para que o educando “tome o seu destino nas mãos e contribua para o progresso da sociedade em que vive, baseando o desenvolvimento na participação responsável dos indivíduos e das comunidades”, como aconselhou a Unesco em congresso realizado em Paris, em 1998, sobre Educação para o século 21.
O descalabro verificado na qualidade da oferta da educação básica pública tem reflexos danosos no ensino superior, privado ou público, sendo um dos fatores determinantes das dificuldades de acesso, de repetência e evasão de alunos oriundos da escola pública nos cursos de graduação.
Por ocasião das eleições, os discursos dos candidatos são plenos de promessas. Todos os partidos políticos, sem exceção, fazem do professor e da educação massa de manobras demagógicas, populistas e imediatistas. Como os períodos eletivos são muito curtos entre si, tudo é improvisado e nada é planejado em termos de educação, visto que os políticos necessitam de “resultados” imediatos para suas eleições ou reeleições. Assim, a falta de planejamento, de gestão e de comprometimento possibilita o desperdício dos gastos investidos pelo Estado em educação.
Os aspectos legais – políticas, diretrizes e planos –, voltados para a formação e a valorização do professor na educação básica, são, em linhas gerais, os mais adequados para a oferta de uma educação de qualidade, em consonância com os interesses maiores da sociedade. Nos aspectos operacionais, das prefeituras à presidência da República, é que identificamos o descaso dos governantes e legisladores brasileiros com a educação, educadores e educandos. Essa face sombria da grande maioria dos políticos brasileiros, acomodados com o clientelismo e o assistencialismo que lhes asseguram sucessivas reeleições, tende a comprometer, como já o fizeram no passado, as gerações do nascente século 21, na era do conhecimento.




