Domingo Hernández Peña
Escritor, professor, consultor, Honoris Causa pela Anhembi Morumbi
***Na língua de Cervantes as palavras crear e criar não significam a mesma coisa. Crear significa produzir algo partindo do nada. Criar significa alimentar, cuidar, instruir filhos, ou animais, já existentes...
Na língua portuguesa a palavra criar pretende significar uma coisa e a outra, misturando a ideia de iniciar com a ideia de cultivar. E, por isso, com frequência se confunde com a palavra inovar.
Porém, criar e inovar não são a mesma coisa, nem podem ser a mesma coisa, nem devem ser a mesma coisa. Para que o debate que tanto preocupa a tantas pessoas ilustres seja mais construtivo, seria muito bom que todos entendessem que o significado de inovar não é outro que “mudar ou alterar algo, introduzindo novidades”.
Dessa forma, não mais duvidaríamos de que a criatividade é pura e simplesmente a capacidade de criar, nem de que a inovação (coisa diferente) é o ato e o efeito de inovar.
Só é possível entrar de verdade no debate da realidade, deixando de lado, superando, o debate das palavras. E isso não é pouco. Pois da criatividade e da inovação depende quase tudo, agora e sempre, para bem e para mal, no mundo em que vivemos.
Para bem e para mal:
Não há vida nem progresso sem criatividade e sem inovação. Sem elas não estaríamos onde estamos. Nem as ciências nem as artes teriam sentido. A indústria não cresceria nem se diversificaria. O comércio não venderia mais geladeiras, nem mais carros, à clientela que já tem carros e geladeiras. Os Direitos Humanos seriam impensáveis...
Porém, o grande problema está em que a criatividade e a inovação nem sempre são fenômenos positivos. Também podem ser, e são com muita frequência, fenômenos negativos. A criatividade é negativa, por exemplo, quando inventa fórmulas para lucrar sem produzir. A inovação é nefasta quando, em outro exemplo, impõe a cidadãos analfabetos a obrigação de comunicar-se com o Poder pela via informática.
É por isso pelo que o Ensino Superior não pode desentender-se (Deus me ouça) nem da Criatividade nem da Inovação: sem elas, o mundo não funciona; e, com elas, o mundo pode funcionar pior ainda...




