A geração do milênio é criativa, cosmopolita, empreendedora, sociável, com uma consciência global distinta das gerações anteriores, pois está comprometida com mais qualidade de vida e um mundo melhor e mais igualitário. (Santiago Iñiguez)“O sistema universitário não leva em consideração as competências profissionais e emocionais exigidas pelas empresas.” Esta crítica ao sistema consta do University World News, boletim semanal online que aborda notícias sobre o ensino superior em todo o mundo. Na edição de 31 de outubro, Paul Rigg um dos articulistas comenta a 5ª Conferência Internacional Anual da IE University – “Reinventando o Ensino Superior” – e destaca as principais questões discutidas. Segundo Rigg, a preocupação maior dos palestrantes está no descompasso existente entre as gerações de mestres e aprendizes e na fórmula para vencer a lacuna tecnológica entre eles. Como diminuir o fosso entre os “nativos digitais” e os professores que não dominam os princípios da rede web? E como acompanhar a velocidade das mudanças? Em 2013, por exemplo, o Facebook e o Twitter eram apenas conhecidos como redes sociais, não tinham ainda desenvolvido o seu grande potencial de marketing online e muitos professores nem sequer sabiam que eles existiam. Outro grande desafio da educação superior para Rigg, é superar a diferença entre o conteúdo dos cursos universitários e os conhecimentos valorizados pelo mercado de trabalho. Ao contextualizar o pensamento e as preocupações das autoridades mundiais do ensino superior, ele afirma que a maior parte das instituições universitárias não levam em consideração as competências requeridas pelas empresas. Além disso, não conseguem superar a diferença entre o conteúdo dos cursos universitários e os conhecimentos valorizados pelo mercado de trabalho. A mudança no modelo de negócios na vida empresarial ocorre numa velocidade tão grande e rápida que a universidade não tem como seguir e se adaptar. Esta é uma questão crucial para os nativos digitais das novas gerações que, ao aspirarem acompanhar um mundo em constante transformação, colocam em cheque a relevância da Universidade. Os alunos do futuro receberão a sua educação de muitos provedores diferentes – e não apenas da universidade – argumentou Ahmad Hasnah, vice-presidente e reitor executivo da Hamad Bin Khalifa University, ao expressar uma verdade incontestável: “O problema maior do ensino superior é que as instituições educacionais estão perfeitamente adaptadas a ambientes que já não existem mais”. Para Hasnah, as chamadas Soft skills[1] como comunicação e boa colaboração deveriam ser objeto de mais atenção por parte das universidades. Dan LeClair, diretor operacional da Associação para o Avanço Collegiate Schools of Business (AACSB International) , afirma que:
“... nossas escolas de negócios e faculdades de engenharia estão estáticas, não se modernizam e nossas ações não ajudam a desenvolver os incentivos corretos, pois não há inovação e, mesmo havendo, não é difundida por causa das estruturas anacrônicas que criamos.”Gillian Flaxman, Diretora do British Council em Madrid, estende um pouco mais a questão, incluindo os anos anteriores à universidade:
“Os alunos se movem rápido, eles querem falar três idiomas, mudar de universidades durante o curso e, talvez, trabalhar para um empregador no Oriente Médio, por isso concordo que precisamos olhar para o ensino secundário e o ensino superior como um todo”.Paul Zevenbergen, membro do conselho executivo da Organização e Credenciamento dos Países Baixos, apresentou um ponto de vista diferente. Ao argumentar que os sistemas de ensino superior têm sido notavelmente bem-sucedidos no atendimento às necessidades da sociedade, cita como exemplo a Universidade de Leiden, de modelo clássico, com ótima reputação no sistema de ensino holandês e com a oferta de um ensino que vai ao encontro do desejo dos estudantes. Zevenbergen argumenta:
“Nós não sabemos para onde a sociedade está indo, então vamos ouvir os alunos através de suas formas de avaliação, e ex-alunos, bem como o mercado de trabalho, em vez de tentar reinventar a educação. Não vamos exagerar”.Ora, os estudantes os estudantes do mundo moderno – e os brasileiros não fogem à regra – dominam as ferramentas digitais muitas vezes mais do que seus professores. Devido ao próprio ambiente colaborativo e competitivo em que vivem, estão muito mais sintonizados com os últimos lançamentos de smartphones, tablets e outros. Por outro lado, cabe perguntar:Que uso fazem dessas ferramentas? Na maioria das vezes se limitam ao uso recreacional e ignoram o potencial desses recursos no avanço da comunicação, das ciências e das técnicas. A 5ª Conferência Internacional Anual da IE University deixou certezas e incertezas – os grandes desafios para uns podem ser transformados em oportunidades para outros. Pelo que se viu não faltaram pessimistas ou realistas desacorçoados. No entanto, mesmo existindo opiniões divergentes, não se pode temer as transformações. E este é um aspecto consensual da Conferência. Ficou ainda patente que a função da universidade é dar base profunda de conhecimentos para os egressos atuarem no mundo real e buscarem a integração com a sociedade, tanto na provisão de serviços (extensão) quanto no desenvolvimento das pesquisas de interesse social. Além disso, o sistema precisa: a) reagir à realidade dos dias atuais e vencer a defasagem tecnológica entre professores e estudantes; b) buscar relacionar-se com os empregadores para entender o perfil das pessoas hoje requisitadas; c) preparar profissionais para além das competências técnicas, isto é fazê-los chegar àquelas exigidas pela inteligência emocional. O sistema universitário precisa finalmente estar inteiramente associado aos níveis anteriores de ensino para que os estudantes cheguem aos cursos superiores mais preparados. E, mais, que saiam da universidade prontos para atuar e transformar a realidade e assim fazer jus ao pensamento de Santiago Iñiguez, presidente da IE University, com o qual concordo plenamente:
"A geração do milênio é criativa, cosmopolita, empreendedora, sociável, com uma consciência global distinta das gerações anteriores, pois está comprometida com mais qualidade de vida e um mundo melhor e mais igualitário."Acredito finalmente – e esta tem sido a tônica de meus artigos – que a universidade tem como função precípua, para caminhar pari passu com o mundo moderno, otimizar a função dos aparatos tecnológicos na construção do conhecimento científico, visando ser de fato o gigante sobre cujos ombros os estudantes possam ver mais longe e atuar como agentes transformadores da realidade social. [1] Soft skills são atitudes comportamentais inatas ou aperfeiçoadas por cada pessoa. Contrapõem-se às hard skills, que são competências técnicas ensinadas na escola. Soft skills servem para medir o nível de especialização do trabalhador – a forma como desempenha as tarefas; preparação e competência para um desempenho eficiente. Relacionam-se com a inteligência emocional, com as habilidades mentais de cada pessoa. Determinam a capacidade de gestão e de relacionamento interpessoal, diferenciando de forma positiva um trabalhador dos seus colegas no mercado de trabalho. Geralmente, associam-se à atitude positiva, à autoconfiança, à capacidade de trabalho em equipe, de gestão do tempo e à capacidade de agir em situações de pressão. O conjunto de habilidades adquiridas por um indivíduo constitui a sua expertise (experiência, especialidade, competência) em determinada área.