O Brasil mantém um interessante e complexo sistema de educação superior, composto por diferentes tipos de instituições -públicas federais e estaduais, privadas filantrópicas, sem fins lucrativos, confessionais, comunitárias e com fins lucrativos.
Estas últimas, a partir de legislação publicada em 1999, puderam abrir seu capital na bolsa de valores, tornando-se, assim, sociedades anônimas. Outra prática permitida pela legislação brasileira é que instituições internacionais de ensino operem no Brasil.
De acordo com recente estudo publicado pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), o sistema de educação universitária está ameaçado: as pequenas e médias instituições privadas de ensino superior presencial com até 3.000 alunos estão sentindo o peso dos novos tempos.
As pequenas e médias representam 63% do total de instituições de ensino superior no Brasil e possuem 1,07 milhão de alunos matriculados, o que representa 23% dos universitários distribuídos por todo território nacional.
De acordo com o estudo, entre 2008 e 2012, houve um aumento de 4,8% de instituições privadas no país. Neste cenário de surgimento de grandes grupos, houve a redução de 7,8% de pequenas e médias.
O estudo cita a inadequação das regras estabelecidas pelo MEC como determinante para a onda de pequenas e médias instituições privadas de ensino superior encerrando as atividades.
Composto na maioria por faculdades, esta categoria não possui a liberdade de abertura de cursos novos nem de aumento de vagas, além de depender de um processo longo e trabalhoso de solicitação e espera de autorização junto ao MEC.
Os grandes grupos consolidadores e as instituições internacionais disputam praticamente o mesmo público: o aluno da camada emergente da sociedade brasileira.
Isoladas em seus respectivos contextos locais, as pequenas e médias não se utilizam das melhores práticas de gestão, não possuem ferramentas de inclusão em redes efetivas da sociedade do conhecimento que lhes agregue valor real, tampouco desenvolveram indicadores através dos quais consigam medir o desempenho de qualidade e comparar-se com os outros componentes do sistema.
Sendo assim, não sabem exatamente onde atuar para garantir a melhoria ou a continuidade da qualidade do seu trabalho, desperdiçando o que poderia ser um dos seus grandes diferenciais: a agilidade de intervenção rápida na correção dos problemas.
A falta de gestão é um ponto importante no desequilíbrio, pois atualmente para o sucesso de uma instituição de ensino é necessário foco nas questões econômico-financeiras, tanto quanto na gestão do conhecimento.
As pequenas e médias instituições, salvo honrosas exceções, ficaram à parte deste processo, resultando em um grave problema econômico e social.
Isso assume uma gravidade maior, uma vez que o estudo aponta que as instituições contribuem significativamente para as cidades e localidades onde estão instaladas.
A conclusão mapeada através de metodologia comparativa aponta que o Produto Interno Bruto (PIB), o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), a renda per capta e também o percentual de ocupados é consideravelmente maior nas cidades que têm pequenas e médias instituições de ensino superior.
Junte-se a isso, que em plena sociedade do conhecimento, abrir mão da diversidade em um sistema, não é uma opção inteligente.
É necessário que os mantenedores das pequenas e médias deem um passo na direção da construção de um modelo alternativo.
Operar em redes colaborativas para encontrar soluções e oportunidades de melhoria e perpetuação de seus negócios. O melhor é que tudo isto pode e deve ser feito sem que se abra mão das suas identidades.
*ALEXANDRE MATHIAS , 53, administrador de empresas, especialista em educação e sócio da Comatrix PAULA CALEFFI , 45, doutora em história e antropologia da américa e consultora em educação superior