![Paulo Vadas](http://abmeseduca.com/wp-content/uploads/2014/05/Paulo-Vadas-150x150.jpg)
“Tendo em vista, porém, o bom desempenho dos estudantes nas avaliações, a escola passou a usar o mesmo método (de Buscaglia). Havia, no entanto, um problema quase insuperável, quando os fiscais da prefeitura passavam para verificar se os programas estavam sendo cumpridos. Aí acontecia uma grande correria para desmanchar as bancadas e inventar relatórios escritos para burlar a fiscalização. Sabemos que os embates com a burocracia ocorrem até os dias atuais, pois a prioridade continua sendo o cumprimento do que está no papel em vez do valor das experiências inovadoras.”[4]As percepções/colocações de Carrasco, Litto e Rodrigues merecem profundas reflexões e comentários sobre suas críticas que, mesmo de forma genérica, tem seus méritos. Desde já, quero deixar claro que, neste trabalho, as generalizações (negativas ou positivas) não se aplicam ao sistema educacional de nível superior brasileiro como um todo, mas sim, são percepções que, de uma forma ou outra, refletem muitas realidades que permeiam uma boa parte do sistema e, portanto, merecem serem abordadas e levadas a sério. A principal crítica de Carrasco é sua percepção de que “a universidade se distancia da realidade do mercado de trabalho” ao não inserir no corpo docente profissionais experientes que ainda se encontram no mercado sem que estes seguissem “todos os passos da burocracia acadêmica”. Sem desmerecer totalmente esta afirmativa, posso dizer que conheço várias IES brasileiras que têm no seu corpo docente profissionais atuantes e que dão aulas ou para complementar seus ganhos, ou como prestígio curricular, ou ainda, por não conseguirem dar aulas em tempo integral, se mantém trabalhando nas suas respectivas profissões, além muros. Essa situação é muito mais fruto da política de cada instituição do que de uma regra imposta pela legislação, ainda que o sistema de avaliação do MEC não estimula a prática de contratar profissionais do mercado, determinando que o principal indicador de “qualidade” docente como fator de pontuação, reside na quantidade de mestres e doutores com dedicação em tempo integral. Mas não foi só este fator de docência que Carrasco menciona como constatação que “a universidade é burra”. Ao destrinchar seu artigo, notamos várias críticas que faz, desde as políticas administrativas, atitudes dos docentes acadêmicos, até o comportamento dos alunos. Em relação às políticas administrativas, por exemplo, além da falta de interesse em contratar profissionais atuantes, Carrasco faz uma crítica sobre uma faculdade particular que cobra altas mensalidades mas não tem verba para pagar palestrantes que podem contribuir com a aprendizagem dos seus alunos. Em relação ao corpo docente, reclama que os acadêmicos estão na universidade para “escrever teses que ninguém lê”, e que se sentem incomodados por profissionais do mercado. Em relação aos alunos, reclama que são indisciplinados, entram e saem das palestras sem que haja algum controle por parte dos dirigentes/professores da instituição. Muitos mantenedores são realmente gananciosos e, com a finalidade de aumentar seus lucros, pagam o mínimo possível para seus respectivos docentes e cobram o máximo possível dos seus discentes – comprometendo a qualidade das atividades educacionais das suas respectivas instituições. Muitos professores batem o ponto, cumprem com seus horários, se desmotivam com os baixos salários e/ou a falta de planos de carreira, se acomodam e não se atualizam com o estado da arte das suas respectivas profissões. E, muitos alunos pagam suas mensalidades, cumprem o mínimo necessário para “tirar nota” e “passar de ano”, assistindo palestras somente para marcar presença, ficando de olho no diploma e não na aprendizagem. Já, Litto, cujo gabarito impressiona[5], vai mais a fundo. Sua percepção é que a sociedade brasileira está contaminada por uma cultura anti-inovação, caracterizada pelo “Cartorialismo, Corporativismo, arrogância do Estado com relação a seus cidadãos, a falta do espírito de procura por excelência... e, talvez o mais determinante de tudo quando falamos de “inovação”, o conceito de isonomia – não distinguindo indivíduos inovadores (e produtivos) acima dos demais.”[6] Todas essas críticas, em maior ou menor grau, procedem. Novamente, sei que não devemos generalizar e que muitas IES brasileiras, muitos docentes, e muitos discentes são excelentes, mas a percepção geral de baixa qualidade tem seus fundamentos. Não há como contestar o relativamente fraco desempenho das IES brasileiras quando comparadas aos dos países desenvolvidos e, mesmo, à várias IES de países em desenvolvimento. Responsáveis por mais de 75% do alunado brasileiro, as críticas são ainda mais fortes quando verificamos que mesmo as melhores universidades particulares brasileiras estão longe de fazer parte de qualquer ranking internacional que se preze. Mesmo cobrando “altas” mensalidades, elas ficam muito a desejar. Somente três IES particulares, PUC-Rio (506º lugar), PUC-SP (573º lugar), e PUC-RGS (678º lugar), são mencionadas pela QS World University Ranking[7]. Mas, não só as particulares ficam muito a desejar. Em um país cuja economia é considerada entre a 6ª e 8ª do mundo, dependendo do valor do dólar do dia, e passa por uma crise que está paralisando seu crescimento, aquela que é considerada sua melhor universidade, a Universidade de São Paulo (USP) não condiz com as expectativas que deveriam ser próprias de um país de primeiro mundo. Senão vejamos:
- A USP atrai os melhores alunos das melhores escolas de segundo grau do País – portanto, não se pode dizer que seu corpo discente é de baixa qualidade, como é o caso de muitas das universidades particulares;
- Talento no seu corpo docente é que não falta, principalmente na área científica. De acordo com os indicadores da Scimago Institutions Ranking[8], o Scientific Talent Pool[9] da USP é considerado como o 5º do mundo (isso mesmo, quinto lugar), atrás somente da Centre National de La Recherche Scientifique, da França (1º. lugar); Chinese Academy of Sciences, da China (2º. lugar); Russian Academy of Sciences, da Russia (3º. lugar); e Harvard University, dos Estados Unidos (4º. lugar).[10]
- Produção Científica (Output), também não falta. Enquanto as quatro primeiras colocadas no ranking the talento continuam nas mesmas posições, neste quesito a USP cai para 10º. lugar – atrás de 5 outras IES com menos talentos) [11];
- A grande diferença se nota, porém, quando se considera o quesito Conhecimento Inovador (Innovative Knowledge). A francesa continua em 1º. lugar, a americana sobe para o 2º., a chinesa cai para o 5º., a russa para o 94º. E a brasileira cai para o 179º. Ou seja, a USP tem excelentes talentos, que produzem bastante, mas que inovam bem abaixo do seu potencial, ficando atrás de 175 outras IES no mundo com menos talentos[12];
- No quesito Impacto Tecnológico (Technology Impact), segundo o ranking da Leiden University, universidade da Holanda que há 25 anos faz o ranking científico das 750 melhores universidades do mundo, a Harvard fica em 3º. Enquanto que a USP fica em 678º, ou seja, a USP produz muito, porém muito do que ela produz não é relevante[13]; e
- No ranking geral, o resultado também não é dos melhores. A USP, universidade que se encontra em 5º lugar no mundo com o maior número de talentos, se encontra em 132º lugar no ranking da QS World Universities Rankings (2014/15)[14], e em 215º no da prestigiada Times Higher Education World University Rankings (2014-2015)[15].
“Por que, muitas vezes, é tão difícil pensar diferente e implantar a gestão da inovação? O que nos impede de transformar novas ideias em novos negócios? Na escola, quais são os fatores que atrapalham e os que ajudam a inovação? Qual é o ambiente mais adequado para aplicar o Processo Criativo? Como criar um clima mais favorável às novas ideias? Que comportamentos e atitudes deverão ser evitados? Desestimulam a criatividade e a inovação a excessiva preocupação com um programa engessado, o medo de tentar novas alternativas, o “sempre fizemos assim” e as punições por erros? A escola prioriza o empenho total dos professores na busca de melhores maneiras de transmitir o conhecimento ou fazer tudo funcionar sem problemas, sem surpresas, na mesmice?”[20] |