"(...) se em nossa sociedade nada mudar nos próximos 100 anos, o futuro estará a 100 anos de distância. Entretanto, se as coisas mudarem da maneira prevista nas próximas décadas, o futuro estará próximo." (Peter Thiel)Cid Ferreira Gomes, engenheiro civil e ex-governador do Ceará, é o novo ministro da Educação do Brasil. Tendo em vista este fato, a Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) deseja, nesta primeira mensagem do ano de 2015, cumprimentá-lo pela nomeação e, ao mesmo tempo, augurar-lhe êxito na sua gestão. Deseja ainda que Cid Gomes seja capaz de formar uma equipe de colaboradores experientes, orientados por uma visão clara sobre o papel da educação no “futuro aberto” do país, para usar uma expressão feliz do escritor Guimarães Rosa. Olhar à frente, e não retrospectivamente, implica agir de forma proativa. Problemas e desafios presentes em todos os ramos das atividades humanas existirão sempre e, para serem ultrapassados, precisarão de ações positivas e de estratégias inovadoras, diante das transformações educacionais que estão acontecendo em todas as partes do mundo, determinadas, entre outros fatores, pelos avanços da tecnologia. O primeiro papel que o MEC deve liderar é o de ser o formulador de políticas de preparação de recursos humanos para o desenvolvimento do país em todos os níveis – desde o ensino básico, passando pelo profissional, pelo universitário, até a pós- graduação e a pesquisa –, orientadas por um sistema estruturado da base ao topo, capaz de interagir e de acompanhar a formação de gente habilitada e disposta a conviver com um mercado de trabalho em constante mutação. E, certamente, a maior preocupação do MEC terá de ser com o professor em todos os graus – tenha o nome que tiver – que será o responsável pela intermediação do conhecimento. Com o domínio das tecnologias de informação e comunicação, este professor será o profissional que, mediando o uso das diversas mídias, facilitará a aquisição pelo estudante das múltiplas competências exigidas pelo mundo atual. O professor precisa perceber que ele é o elo mais importante desta engrenagem, que o seu papel terá de ser o de protagonista nesta nova sociedade da informação e que as tecnologias digitais constituir-se-ão aparatos para servir de apoio ao desenvolvimento da aprendizagem. As metodologias, as atividades práticas, os processos formativos e as avaliações educacionais, enriquecidos pela tecnologia, deverão ser construídos e orientados para potencializar o processo educacional. Pensando nessa direção, a ABMES elaborou o documento "Perspectivas do Desenvolvimento da Educação Superior e a contribuição do setor privado", a ser formalmente entregue em breve ao ministro Cid Gomes. O documento, resultante de um processo longo de discussões iniciado no interior da Associação, avançou para além de seus muros para ouvir os representantes dos partidos políticos, os candidatos à presidência da república e os membros da academia. Por meio desse esforço coletivo, a ABMES evidenciou, sobremodo, a sua vocação de dialogar com os setores governamentais responsáveis pela definição de políticas públicas para a educação, aprimorou e legitimou as suas propostas e reforçou o importante papel do setor privado no desenvolvimento do ensino superior no país. A parte central do documento discute as perspectivas da educação superior e as possibilidades de contribuição do setor privado, nos próximos dez anos, à luz do novo Plano Nacional de Educação (PNE 2014/2024). Para tanto, toma como pontos iniciais de análise os principais aspectos do programa de governo da Presidente da República, Dilma Rousseff, apresentado por ocasião das eleições de 2014, que são os seguintes: a) políticas inclusivas – cotas nas instituições federais, Programa Universidade para Todos (ProUni), Fundo de Financiamento Estudantil (Fies); b) internacionalização do ensino superior; c) interseção entre a educação superior e as etapas anteriores de escolarização. A seguir, o documento apresenta e fundamenta as principais reivindicações do setor privado referenciadas por três eixos orientadores: a) efetiva representatividade e participação do setor privado no sistema federal de ensino; b) celeridade na tramitação de processos de regulação e supervisão de cursos e instituições; e c) aprimoramento dos critérios, mecanismos e procedimentos de avaliação da educação superior. O estudo da ABMES lança ainda um detido olhar para o necessário fortalecimento da educação básica e dos cursos de formação de professores, considerando que a educação brasileira avançou muito nos últimos anos, mas está ainda muito longe de atingir índices satisfatórios. Além disso, enfatiza a importância de desenvolver uma ação estratégica nessa área com a participação das instituições particulares de ensino superior que são atualmente responsáveis por dois terços dos professores formados. Os dados sobre o ensino privado apresentados no documento são expressivos e comprovam que o setor tem representatividade e que deve ser de fato e de direito um parceiro do governo e não apenas uma instância executória das disposições, normas legais e diretrizes para o ensino superior. Ao lado desses aspectos, há que se destacar na mesa de discussões e de debates o papel das inovações tecnológicas no processo ensino-aprendizagem. A propósito, Peter Thiel[1] observa: “... se as coisas mudarem da maneira prevista nas próximas décadas, o futuro estará próximo.” Nessa linha, as grandes multinacionais da era da tecnologia digital – Google, Microsoft, Apple, Samsung, IBM e dezenas de outras empresas – investem cada vez mais nas tecnologias, com base na crença de que a educação é a atividade que mais demandará soluções criativas para o desenvolvimento da aprendizagem do ser humano ser humano e que o progresso de uma nação dependerá da educação de seu povo. Nesse contexto, graves questões esperam o ministro Cid Gomes, a começar pela pesada estrutura do MEC, onde há mais de duzentas e cinquenta “caixinhas de poder”, alheias às inovações que um dia vão acontecer de verdade. Em outras palavras, as inovações encontram resistências na burocracia – pública e privada – cujas estruturas imobilistas estão mais preocupadas em manter o status quo e, com isso, permanecer nas suas zonas de conforto e garantir seus domínios. Assim, o ministro Cid Gomes vai precisar ajustar este objetivo de visão de futuro na preparação de recursos humanos para o país aos programas e ações do ministério. Caso contrário, tudo vai continuar como está. Em contraposição às posturas burocráticas, existe a convicção nos setores mais avançados da sociedade e da área educacional de que o ensino será bem diferente da forma como é praticado hoje. Haverá adoção, em massa, de equipamentos tecnológicos e a Educação a Distância (EaD) será alavancada por recursos especiais. Haverá uma grande transição mista de aulas que combinem a aprendizagem presencial e online. Ao lado dos aplicativos, a aprendizagem online será a base dos aparelhos móveis. O ensino adaptativo, a sala de aula invertida, o estudo por problemas e os games tornar-se-ão comuns. As redes sociais serão também instrumentos estratégicos de aprendizagem assim como os laboratórios virtuais remotos. Um mundo novo de práticas educativas será criado dentro das ciências cognitivas para alavancar o aprendizado. O ministro Cid Gomes está entrando na área responsável pela criação do “Brasil do Futuro” – ou mesmo do “Brasil, pátria da educação”, expressão usada pela presidente no seu discurso de posse – para o qual as populações têm expectativas de que as novas gerações possam ter um país mais igualitário com oportunidades de progresso abertas a todos, premiando os mais preparados, os mais audazes, os mais perseverantes e também os mais inovadores. Portanto, ministro Cid Gomes, se vale um conselho, de quem tem mais de “quarenta anos de corredores de MEC”, não perca o foco. A missão primordial do Ministério é planejar e executar a formação de recursos humanos para o desenvolvimento do país, considerando ser a educação o centro da sociedade de conhecimento em que vivemos. Na competitividade entre as nações, a busca pelo talento é o diferencial de valor mais requisitado e nosso país, mais do que nunca, precisa ousar na capacitação de recursos humanos para alimentar o seu progresso. Que o ano quinze do século 21 marque o início de uma nova era em que o maior desafio a ser vencido seja o de transformar conhecimento em riqueza e esta em sustentabilidade financeira e desenvolvimento econômico, distribuição de renda e uma sociedade mais feliz. Conte, senhor ministro, para o cumprimento dessa tarefa gigante, que exigirá gente educada e vocacionada, com o apoio da iniciativa privada. [1] Cofundador do PayPal e investidor em diversas startups, autor, com Blake Masters, do livro “De zero a um” (Editora Objetiva, 2014).