Sérgio Américo Boggio*
Diretor de Tecnologia Educacional do Colégio Bandeirantes
Diretor Geral da Faculdade de Tecnologia BandTec
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O processo de ensino e os espaços e tempos destinados a ele vem se alterando conforme as demandas sociais. No passado tivemos o ensino individualizado para poucos, evoluiu-se para o ensino mútuo, onde se reuniam alunos com idades e níveis de escolarização diversos em um mesmo ambiente, chegando-se no início do século passado ao ensino simultâneo, centrado no professor e com classes homogêneas.
Esta organização ainda utilizada hoje se baseia na eficácia do uso do tempo e espaço por alunos e professores.
Entretanto, com a evolução das tecnologias da informação e comunicação (TIC), a sociedade está se organizando de outra forma e isto gera impactos no processo de ensino, seus espaços e tempos.
Não podemos apenas pensar em tecnologia física, comprando equipamentos, softwares e capacitando os profissionais para usá-los.
Precisamos nos debruçar na análise da tecnologia social, ou seja, como organizar as pessoas envolvidas no processo ensino-aprendizado para colaborar com objetivos comuns.
A experiência tem mostrado que se investe muito em tecnologia física e nem sempre o retorno atinge o esperado. Desde que se tenham os recursos, investir nessa tecnologia é mais fácil, por ser um processo técnico e exato. Com isso, a tecnologia social fica em segundo plano, daí o baixo resultado.
A tecnologia social ocorrerá quando todos fizerem uso da tecnologia física de uma forma natural, descobrindo no dia a dia as melhores práticas educacionais. As redes sociais e as ferramentas de busca na Internet são bons exemplos de como uma tecnologia física é incorporada com sucesso, quando ela atinge o desejo íntimo das pessoas.
Pesquisas recentes em neurociência social colocam como básica a nossa necessidade de se conectar com outras pessoas.
Em 2001, o Dr. Marcus Raichle – Neurologist da Washington University in St Louis, descreveu o funcionamento do cérebro em repouso como uma rede, a “Default Mode Brain Network”, concluindo que o cérebro nesta situação pensa em relações sociais.
Em 2013, o Dr. Mathew Lieberman - Psychologist da University of California, Los Angeles, publicou o livro “Social: Why Our Brains Are Wired to Connect”, baseado na pesquisa em neurociência cognitiva social, apresentando como damos sentido aos outros, a nós mesmos e a relação entre estes. Os insights apresentados no livro mostram formas de melhorar a aprendizagem de forma prazerosa.
Quando observamos pessoas na rua, nos meios de transporte, entre outros, se comunicando com seus dispositivos móveis, o que impulsiona este comportamento é o “Social Brain” funcionando.
Diante disso, não temos como proibir que os nossos alunos utilizem estes dispositivos.
Educar para o uso das tecnologias de informação e comunicação, deve fazer parte do currículo escolar, tal como educação alimentar, higiene e etc. Com o uso consciente destas tecnologias, poderemos utilizá-las para aprender, se divertir e trabalhar. Além de também saber aproveitar os momentos sem ela.
Com toda esta mudança, a escola e seus educadores têm de se adequar às demandas desse “novo” alunado, pois o modelo de ensino simultâneo centrado no professor e com classes homogêneas está se esgotando.
Já estamos vivendo o processo de transição e construindo novos modelos educacionais midiatizados pelas novas tecnologias, mas ainda temos de investir muito focando em demandas específicas, por faixa etária, regiões, entre outros.
Com a evolução desses modelos, em sua maioria baseados na “nuvem” da Internet, torna-se primordial termos a disponibilidade de acesso com qualidade em qualquer região. Atualmente tal disponibilidade existe nos grandes centros urbanos, porém fora deles encontramos o acesso, mas com baixa qualidade para um bom uso de aplicativos educacionais. A lentidão e a interrupção na comunicação de dados perturba o processo de aprendizado.
Estas transformações dos modelos educacionais permitem atender as necessidades do aluno ou de grupos semelhantes de forma individualizada, no seu ritmo. Para tal, precisamos repensar a forma de organização dos tempos e espaços escolares, ainda hoje muito padronizados. Temos de buscar um modelo híbrido, onde parte do aprendizado seja presencial e o restante a distância. Deve-se reservar para o presencial, o desenvolvimento de competências cognitivas e não cognitivas tais como: colaboração, comunicação, criatividade na solução de problemas, curiosidade, determinação, estabilidade emocional, inovação, pensamento crítico, protagonismo e sociabilidade, competências essas importantes para o mercado de trabalho que também se modificou e se modifica com as novas tecnologias.
Faz-se necessária uma revisão da matriz curricular, focada no desenvolvimento de habilidades, com temas multidisciplinares, contextualizado com a realidade do aluno, útil e que gere discussões entre grupos.
O professor passa a ser um mediador, propondo problemas reais, bem contextualizados e pouco estruturados, que permita aos grupos de alunos apresentarem propostas criativas. Uma vez apresentada a proposta, o professor questiona, provoca, sem dar respostas e assim desenvolvem-se o pensamento crítico, a proatividade e a capacidade de argumentação.
O professor deve ter em mente o que deseja desenvolver: conceitos, habilidades e/ou competências. A partir daí, estimula um “brain storm” com os alunos, para que estes proponham temas e o que farão. O professor deve monitorar sem guiar para que as propostas sejam factíveis.
Definido os temas e os grupos de trabalho, cada grupo irá gerar um documento com etapas e objetivos a serem alcançados. Na produção deste documento, o professor deve orientar sobre cronograma, metodologia de pesquisa e de projeto, sempre visando uma publicação de resultados.
Os gestores escolares e seus professores terão de desenvolver conjuntamente a logística do uso dos os espaços e tempos, para atender esta nova metodologia educacional.
Enfim, são muitas mudanças necessárias para atender as demandas sociais que evoluem cada vez mais rapidamente. Este é o nosso grande desafio.
* Será palestrante no II Encontro Nacional de Fornecedores de Soluções Educacionais, no GEduc 2015. Mais informações: www.humus.com.br/geduc




