Wanda Camargo
Assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil
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Atualmente os cursos de Licenciatura têm dado ênfase à capacitação de seus alunos para a elaboração ou utilização de jogos, capacitando os futuros professores ao uso dessa importante ferramenta didática, tão ao gosto das crianças e dos jovens, para ampliar e aprofundar o conhecimento de várias disciplinas através de pequenas brincadeiras, principalmente nas áreas ditas “de núcleo duro” no processo de aprendizagem, ou seja, aquelas que, aparentemente, são menos atrativas como ciências, física, química e outras.
Em matemática, por exemplo, todo aluno traz, ao iniciar uma escola, uma noção quase instintiva de quantidades e sua representação simbólica, os números, conhecimento indispensável para a vida em comunidade. A expansão deste conceito permitirá reconhecer formas geométricas, comparar preços, calcular distâncias e áreas, e um sem fim de outras aplicações, que podem ser construídas com o auxílio do professor de forma agradável, sem grandes traumas; a utilização de jogos contendo pequenos e crescentes desafios constitui método excelente para esta finalidade.
Afinal, uma boa escola deve fornecer os instrumentos para que o conhecimento futuro possa ser constituído por sucessivas reestruturações do já dominado, do sabido anteriormente pelo aluno. Educação é processo.
Ser um bom docente implica em estar atento à forma e adequação da assimilação do novo ao antigo conjunto de conhecimentos, desenvolvendo e ampliando as estruturas cognitivas, estabelecendo conceitos racionais e racionalizáveis.
Para isso, é necessário que haja intencionalidade, uma meta clara e o planejamento da melhor maneira de atingi-la, e também que o educador pense não apenas no conteúdo a ser sistematizado, ou seja, naquilo que pretende ensinar, mas também naquele a que irá ensinar: quem é o aprendiz e quais são os seus conhecimentos prévios. Fazer isso utilizando jogos deve incluir, além da intenção de instruir, a percepção de que isso pode - e deve - ser também um procedimento divertido, despertando a curiosidade, e a estratégia de ensino deve contemplar a aquisição de habilidades que levem, da forma mais agradável possível, à transposição da distância entre intuição e ciência.
Vigotsy, grande pensador da área educacional, ao analisar o papel da brincadeira na elaboração infantil dos conceitos, demonstrou claramente sua importância para a evolução do pensamento abstrato, o que tem influência decisiva também na fundamentação dos princípios matemáticos e físicos, formando os alicerces para atingir uma cultura estendida e mais complexa que a de partida.
Dominar um jogo exige um nível mais elevado de estruturas mentais, por isso sempre apreciamos os jogos onde se pode aumentar o nível de dificuldade, quando totalmente dominados deixam de ser divertidos, ou seja, não representam desafio e incremento de capacidade de raciocínio. Portanto, gostamos que o jogo evolua conosco, aumente suas variáveis, nos provoque a vencer dificuldades.
Centrar esforços apenas nas habilidades cognitivas, desprezando a imaginação com sua função de ligar um conhecimento a outro de forma extremamente eficiente, é perder um bom recurso pedagógico. Sabemos todos da maior facilidade em guardar um número quando o agregamos a datas de aniversário ou eventos significativos de nossas vidas, pequeno exemplo da criatividade melhorando nossa capacidade de retenção e associação.
Quanto mais divertido for o jogo, maior será a fixação dos conceitos envolvidos, e mais eficiência no processo de ensino aprendizagem.




