César Souza*
Presidente do Grupo Empreenda consultor, palestrante e autor
Publicado em Exame.com, em 25 de maio de 2015
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Nas empresas, verdadeiras fortunas são gastas em Programas de Desenvolvimento de Liderança que conseguem no máximo formar gerentes um pouco mais eficientes, mas não líderes mais eficazes. É que comprova uma pesquisa realizada pela consultoria McKinsey divulgada esta semana.
O estudo foi realizado com 189 mil profissionais do mundo inteiro de 81 empresas de grande porte. Ele revela que as companhias planejam investir cerca de US$60 bilhões neste tipo de programa. Entre os CEOs participantes, 90% garantem que a intenção é aumentar ainda mais esse investimento – embora menos da metade deles acredite que renderão frutos no futuro (43%)!
O eixo da questão é que a atual dinâmica corporativa requer líderes inspiradores de qualidade e em quantidade muito maior que no passado. As organizações não podem mais apenas privilegiar o pensar de alguns no topo da pirâmide. Atualmente são necessários muitos líderes em todos os níveis, em todos os seus centros de resultados, inclusive nas áreas funcionais que precisam de espírito mais empreendedor e menos burocrático. O diferencial de empresas de sucesso são líderes eficazes – e não simples gerentes eficientes – para empresariar negócios, nichos de mercado, produtos, áreas geográficas ou projetos.
É o momento de exercitar uma nova forma de pensar e exercer a liderança. Não basta apenas de melhorar o que existe, de incrementar o pensar para aperfeiçoá-lo e de ajustar o agir. Trata-se de reinventar o pensamento e a ação. Boa parte dos conceitos de liderança, tal qual os conhecemos hoje, estão com os dias contados. Os velhos atributos do que era considerado um líder eficaz foram desenvolvidos para uma realidade que já não existe.
E, então, os líderes eficazes precisam atuar também em situações em que não têm autoridade formal de comando. Seu teste de fogo é comandar pessoas fora de sua equipe. Eles precisam derrubar as paredes às quais se acostumaram, mudar a mentalidade e construir pontes internas e externas que liberem a criatividade dos talentos humanos para melhor conectá-los, onde quer que estejam, seja dentro ou fora da companhia.
O mundo corporativo requer profissionais capazes de exercer a liderança não somente sobre sua equipe como sobre equipes de outras empresas, clientes, parceiros, distribuidores, fornecedores, comunidades e investidores; e capazes também de produzir resultados igualmente no “lado de fora” de sua empresa.
As empresas vencedoras serão aquelas que souberem montar verdadeiras “fábricas de líderes”. Não funciona mais desenvolvê-los por meio de treinamentos “de prateleira” baseados nos antigos fundamentos da administração. E também não é simplesmente aperfeiçoar o modelo já existente com novas questões superficiais, com palestras sobre temas da momento ou com metodologias cosméticas. Trata-se de repensar seus programas para que o processo de aprendizagem integre técnica e pensamento, intuição e intelecto, ciência e bom senso.
Há uma série de diferenciais que podem favorecer a formatação de programas de desenvolvimento de líderes eficazes. Seguem aqui os cinco que considero essenciais:
1) Alinhar de objetivos do programa com a estratégia da organização – Os resultados devem ser mensurados e correlacionados com as competências essenciais diferenciadoras do sucesso ou do fracasso do negócio. E esses objetivos devem ser específicos.
2) Priorizar mais a forma de pensar do que a parte técnica – Este é o ponto principal para ajudar as pessoas a descobrirem o líder que cada uma traz dentro de si e o próprio estilo de liderança.
3) Desenvolver a capacidade de autoaprendizagem permanente – Assim é possível focar mais na capacidade de formular perguntas certas e construtivas do que simplesmente na busca por respostas imediatas.
4) Potencializar o aprendizado além da sala de aula – Há infinitas forma de aprendizado no dia a dia, na história, na arte, na filosofia e em outras expressões culturais e esportivas. A sala de aula deve ser reservada para a troca de experiências e para a reflexão individual sobre as próprias circunstâncias e sobre alternativas de mudança.
5) Valorizar o intangível - Relacionamentos, atitudes, clima e valores devem ganhar tanto ou mais destaque que os ativos tangíveis necessários (mas insuficientes).
As companhias que não prepararem a tempo seus líderes para as novas circunstâncias da dinâmica empresarial poderão pôr em risco seu próprio futuro ao contentar-se apenas com profissionais “mais ou menos” – os que fazem diferença se moverão com a velocidade proporcional ao seu talento!
* César Souza foi palestrante do VIII Congresso Brasileiro da Educação Superior Particular. O evento aconteceu nos dias 14 e 15 de maio de 2015 no Rio de Janeiro/RJ. Veja as apresentações em www.cbesp.com.br.




