![Roney Signorini](http://blog.abmes.org.br/wp-content/uploads/2009/11/roney-150x150.jpg)
“A Evasão é um dos maiores problemas de qualquer nível de ensino e o é, também, no Ensino Superior Brasileiro, público e privado. O abandono do aluno sem a finalização dos seus estudos representa uma perda social, de recursos e de tempo de todos os envolvidos no processo de ensino, pois perdeu aluno, seus professores, a instituição de ensino, o sistema de educação e toda a sociedade (ou seja, o País).” Maria Beatriz de Carvalho Melo LoboA evasão, uma grande vilã no meio da educação, provoca perda significativa à receita das instituições de ensino superior (IES), sobretudo as privadas, que têm a maioria das turmas repletas no primeiro semestre, mas que, a partir do segundo, começam a esvaziar-se. Na tentativa de minimizar o problema da fuga, as IES procuram receber alunos transferidos de outras instituições, como se essa “quebra de um acordo de cavalheiros” pudesse solucionar problema tão grave em todos os níveis e para todos os atores envolvidos no processo. Problema tão complexo – pois é consequência de um mix de fatores – exige também uma complexa articulação de estratégias para seu enfrentamento. Recursos de que têm lançado mão as IES são comumente a redução das mensalidades; campanhas publicitárias cada vez mais agressivas; menores exigências nas provas de seleção; criação de unidades próximas à residência ou ao trabalho dos alunos. Serão eles suficientes? Em tempos de concorrência acirrada, as IES têm de valer-se do que a Administração pode lhes oferecer em termos de gestão, têm de profissionalizar-se para assegurar uma vantagem competitiva sustentável. Não se pode mais conviver com altos índices de evasão, em média 40% nos últimos 10 anos, como se fosse um fato normal e previsível, bastando para contornar o problema aceitar um número por vezes absurdo de ingressantes para compensar a “quebra” nos semestres seguintes. O problema da evasão deve ser encarado pelas IES não como concernente apenas ao departamento financeiro, ele exige comprometimento integral de todos os atores do processo: do faxineiro ao presidente, passando, evidentemente, por docentes e discentes. Nunca uma expressão clichê se ajustou tão bem a uma situação: se todos não “vestirem a camisa” da sua IES, não há resultado positivo. O sentimento de pertença, que gera orgulho e respeito, precisa ser fomentado, ele não nasce do nada. Emerge de uma gestão participativa, de uma gestão atenta às mudanças, ao mercado, ao seu modo de formar profissionais críticos e criativos para esse mercado. Dentre os fatores que propiciam a evasão nunca é demais comentar os que seguem. Orientação vocacional/profissional A falta de informações sobre o curso e a profissão leva muitos alunos à evasão. Ao se darem conta de que agiram levados por expectativas infundadas a respeito da instituição ou da profissão escolhida, decepcionam-se com o curso superior e a universidade e passam a considerar a possibilidade de desistência. Efetivado, o abandono do curso representa um ônus para a sociedade, pela ocupação indevida das vagas tão escassas, sobretudo nas universidades públicas e pelo desperdício financeiro que acarretam. O adolescente precisa conhecer as próprias habilidades, considerar, avaliar e identificar as implicações decorrentes da profissão escolhida, além do mercado de trabalho. As IES poderiam oferecer, até utilizando “serviços” dos próprios cursos que ofertam, testes vocacionais e suporte para esclarecimento de dúvidas sobre mercado de trabalho e profissões. Repetência A reprovação em uma ou mais disciplinas deixa os alunos mais suscetíveis a desistirem de seus cursos. A reprovação nas disciplinas consideradas difíceis influencia na decisão de continuar ou não os estudos. Cursos extras, intensivos e online para alunos que se encontram nessa situação podem ser a solução para o problema. Mudança de Curso O significativo número de alunos que mudam de curso na mesma IES ou cancelam a matrícula por terem sido aprovados em outra instituição é alarmante. O fenômeno é subestimado, no que se refere ao rendimento dos cursos de cada instituição, e superestimado, quando a evasão é vista como abandono definitivo da formação. Perto de 64% dos que abandonaram os cursos obtiveram a titulação em outra instituição, uma vez que o sistema permite a mobilidade dos alunos entre as IES e aceita matrículas de baixo comprometimento. As próprias deficiências do sistema induzem a esses comportamentos. É preciso que as IES estejam atentas ao fenômeno para que haja um verdadeiro “corpo a corpo” com o aluno para entender a causa da mudança e orientá-lo. Desprestígio da Profissão Outra razão relaciona-se ao mercado de trabalho e ao prestígio da profissão escolhida, no momento da inscrição no vestibular. Algumas profissões incluem traços altamente valorizados, como Direito, Engenharia e Medicina e geram expectativas de altos salários e emprego garantido. Outros, como as licenciaturas, são marcados pela falta de prestígio social, levando à redução da demanda nos vestibulares, pois as atividades profissionais são socialmente pouco reconhecidas, vinculadas a salários menores e a falta de garantia de emprego. Estudantes que se preparam para tais carreiras apresentam maiores probabilidades de evasão. Inúmeras IES já oferecem cursos gratuitos para licenciaturas. Importante é exigir do aluno uma contrapartida para essa oferta, que possa servir de exposição positiva da IES. Horário de Trabalho A dificuldade de conciliar a jornada de trabalho e o horário escolar é fator de suma importância na decisão de abandonar a faculdade. Quando as obrigações profissionais entram em conflito com os compromissos dos estudos, são estes, na maioria das vezes, que são adiados. A oferta de cursos EaD, são, comprovadamente, a saída para esse problema pela flexibilidade de horários que oferece. Desmotivação Ao ingressar na educação superior, o aluno é motivado, dentre outras razões, pela expectativa de melhores condições de vida e de realização profissional. Porém, a aprovação e a matricula em uma IES não garantem que a motivação permaneça e que o aluno continue no curso. A evasão pela desmotivação ocorre ao longo do curso, porém é mais acentuada no primeiro ano. Só a gestão, o comprometimento de todos os atores e um ensino de qualidade antenado às mudanças e ao mercado podem derrotar esse problema. Problemas Financeiros Os problemas financeiros têm grande influência na decisão dos estudantes de desistirem do sonho de formação superior. Problemas de natureza socioeconômica, aumento das mensalidades e ausência de condições financeiras, ainda que associadas a outros argumentos, são fatores determinantes da evasão escolar. A dependência de financiamento público já se demonstrou ineficaz. É preciso pensar-se em linhas de microcrédito, em cooperativas que possam minimizar esse fator de evasão. A concorrência entre as IES privadas A cada dia, as instituições estão mais empenhadas em manter a clientela e em buscar mais alunos para manter a saúde financeira da empresa, o que não garante, em muitos casos, a preocupação com a qualidade do ensino, nem com a formação profissional. Se o aluno não perceber um diferencial, uma vantagem em estudar em determinada instituição, evade-se. Como se vê, não há razões isoladas para a evasão. Mas a ausência de laços afetivos com a IES – agravada pelo currículo “engessado”, pela inadequação das mensalidades ao orçamento – resulta num agravante porque os estudantes se ressentem de atividades oferecidas pela própria Instituição como jogos, viagens, intercâmbios, cinema, teatro, etc. Por consequência, quanto mais alta a percepção que o aluno tem de sua integração acadêmica, menor a possibilidade de evasão. É possível reduzir a evasão Poucas IES têm programas implantados que visam reduzir os índices de evasão, pois tratam como natural e normal tais índices e devem aprender a conviver com o fato desdenhando um vigoroso esquema de retenção. Outras se preocupam com os alunos que abandonaram os estudos, em consequência das dificuldades de conseguir emprego e da situação financeira das famílias. Com o intuito de manter os de melhor rendimento acadêmico, a instituição concede descontos e até bolsas de estudo, conforme a situação financeira dos alunos e a dedicação. Outros participam de um programa de crédito próprio, com juros mais baixos que os de mercado, àqueles que não conseguem o financiamento do governo. Já os agraciados procuram retribuir os benefícios, ao ser excelentes alunos e divulgadores da instituição. Também há aquelas que buscam minimizar a evasão, por meio de programas que visem à integração proativa do aluno na IES, por meio de ações que oportunizem as integrações pessoal, social e acadêmica do estudante. Infelizmente, a grande a maioria de dirigentes de IES afirma não ter nada sistematizado para tal fim, principalmente porque não sentem necessidade por causa dos baixos índices de evasão. Buscam a melhor forma de manter o aluno ao oportunizar cursos noturnos que atendam aos que trabalham; grade aberta, a fim de que as matrículas se efetivem conforme as possibilidades financeiras e disponibilidade de tempo; fazem alteração periódica da grade curricular, ao deixar disciplinas mais difíceis para o final, quando o aluno se encontra mais integrado. E como que a justificar que são os últimos a tomar conhecimento da evasão do aluno, porque não dispõem de um núcleo de apoio ao indeciso, nem de pessoal na secretaria acadêmica que pudesse tratar do assunto, quando são solicitados os afastamentos periódicos ou definitivos. E alguns até reconhecem as falhas relativas à inexistência de tais programas. Ou seja, inexiste um programa de retenção. A bem da verdade,em razão das perdas que estão se acumulando há alguns anos, muitas IES começam a dar sinais de preocupação implantando mesmo que timidamente ações inibidoras da evasão. É ótimo sinal, organizando estruturas compatíveis para evitar esse vilão.